“Houvesse cortinas no quarto, elas tremulariam com a brisa entrando pelas janelas abertas, de manhã bem cedo. Acordei sem a menor dificuldade, espiei a rua em silêncio, muito limpa, as azaleias vermelhas e brancas todas floridas. Parecia que alguém tinha recém-pintado o céu, de tão azul. Respirei fundo. O ar puro da cidade lavava meus pulmões por dentro, Setembro estava chegando, enfim.”
O trecho inicial é do Caio Fernando Abreu, esse gaúcho cronista, contista, romancista por quem sou apaixonada. Mas peguei uma carona no Caio escrever o meu texto nesse finalzinho de agosto.
Agosto, coitado, leva uma fama tão ruim… De pequena eu já não gostava, porque era volta às aulas, assim como era fevereiro, mas que, pelo menos, tinha o carnaval. Não gostava de ir pro colégio. Meu lugar era grudada na minha mãe, aliás, ainda acho que do lado da minha mãe o melhor lugar do mundo, mas hoje já consigo ser feliz quando estou longe dela.
Hoje em dia, de agosto eu tenho medo. Medo de algo trágico acontecer, uma má notícia… Vou ali pianinho, vivendo cada dia do mês sem olhar muito pra cima e, a cada dia que passa, pensando: olha, nem aconteceu nada. Ufa!
Na verdade, eu não acredito em nada disso, não sou supersticiosa, nem acredito na providência ou no castigo divinos, mas sou muito influenciável, desde o tempo em que não havia os influencers, então, o povo fala tanto, que acho melhor me precaver. Mesmo sabendo que não há nada a se fazer para impedir que qualquer coisa que vá acontecer de fato siga seu curso e se abata sobre mim ou sobre você.
Na verdade eu venho achando a vida meio assustadora desde março de 2020. Desde lá, eu tenho medo do futuro. Porque ali, eu estava com um porvir tão lindo já traçado, tudo ia tão bem e, pá!, aquela coisa toda que a gente já saber. Não aprumei até hoje.
Minha psicóloga, tadinha, repete mil vezes que o tempo da alma não é o tempo do relógio e que eu posso levar mais tempo para recobrar a confiança no futuro, mas eu devo dizer que, ainda tô meio assustada.
De lá pra cá não vi muita melhorar no que é ser humano, não. Digo da humanidade, de ser humano com o humano, com o semelhante. Eu, tolinha, que achei que tudo seria mil maravilhas no pós-covid ando me deparando com cada coisa que até Deus duvida. Penso que ele, se ele está ali em algum lugar, deve estar é se escondendo das criaturas, desse bando de ovelha Dolly, gente que parece vir de laboratório, sem coração nenhum.
Mas agosto está findando e setembro batendo na porta. E, em setembro é meu mês. Acho lindo o meu mês. Primavera… meu mês, pra mim, tem tons de laranja e rosa e cor de pôr do sol, que é a cor mais bonita a meu ver. Não fica muito quente, mas, também, nem tão frio que deixe a gente pra baixo. Detesto frio! Tem flores e é uma delícia em qualquer lugar do globo a temperatura do mês de setembro.
Quando setembro vier, eu desejo pra gente é a temperatura: que é a temperança, que é a esperança, que é a serenidade e a iminência de, a qualquer momento, explodir, só que eu flores, feito a revolução dos cravos, que foi em abril… Mas isso fica pro ano que vem.