Antonio Prata, em sua crônica publicada há poucos dias na Folha de São Paulo, reclamava o seu direito de não precisar opinar sobre tudo o que acontecia a tempo e a hora, e isso não significar que ela era um isentão ou um partidário de A ou de B. Nesta crônica ótima, cujo link deixo aqui, cunhou um termo para as redes sociais que eu adorei: as padarias intergalácticas.
Antonio dizia que antes das redes – melhor dizendo, antes das redes socias, pois, para a boa cearense que sou, rede para a nós é aquela de se deitar pra dormir depois do almoço, pra sentir o vento que vem do mar batendo, para se embalar e ninar crianças, enfim, redes com propósito, como se diz hoje em dia.
Conforme eu ia dizendo, ou melhor, o Antonio, antes das redes sociais, o fato se dava, a gente comentava no dia seguinte com a Eveline do caixa da padaria, com o Everton do ponto de taxi em frente e com mais um ou outro que por ali costumasse compra seu pão de cada dia.
Hoje não, hoje cada um se vê motivado, ou mesmo coagido, a emitir uma opinião sobre tudo, a tempo e a hora, sem tempo nem para a notícia decantar e a criatura poder construir um pensamento de fato reflexivo sobre aquilo. Ou não dizer nada, silenciar sobre um tema que não tenha um lado certo.
Vejamos um caso bem recente, o da cantora Iza. Ela veio às redes falar da traição – dupla, pois envolvia um golpe financeiro também – e do fim de seu relacionamento. Todo mundo emitiu opinião: de apoio, de crítica, do que fosse… E Iza fez o quê? Fez o que ela tem todo direito de fazer, seguiu com a vida dela e o seguimento da vida dela, até agora, a levou de volta para o pai de sua filha, o mesmo sacana, pilantra de antes. Como diria Renato Russo: “Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração. E quem irá dizer que não existe razão?”
Minha opinião que não interessa a ninguém? É a de que eu estou com Iza, mesmo achado o cara um boy lixo. Ela faz da vida o que bem entender. Quem tem de saber se a terapia está em dia é ela e não eu, que não estou estou conseguindo nem me avir com a minha.
Mas eu comecei esse texto para falar de outra coisa. Não foi de opinião, mas, sim, de padaria. Porque você ter uma padaria pra chamar de sua, onde os funcionários te dão um bom dia rotineiro, que dizem até amanhã quando você se vai ou que sentem a sua falta quando você demora a voltar, isso é como ter pequenos abraços te esperando nas esquinas por vezes tão áridas da vida.
Eu passei cinco meses sem frequentar a minha padaria preferida. Tive uns contratempos lá e dei um tempo. Gente, como eu senti falta! Como eu me senti deslocada dentro da minha cidade. Eu, que já me sinto meio peixe fora d´água naturalmente por aqui, fiquei pior ainda. Meio sem endereço.
Eu costumo trabalhar em padarias. Eu só me concentro com barulho, silêncio me dá sono. Acredite, minha tese de doutorado foi toda escrita em basicamente 3 endereços: uma padaria em Fortaleza e duas no Rio de Janeiro. Todo mundo já me conhece. Adoro!
Nesses cinco meses quando dei um tempo na minha casa fora de casa, eu busquei outras. Mas eu enjoava da comida, eu ficava desconfortável nas cadeiras, tinha uns barulhos com os quais eu não estava adaptada que, aí sim, me desconcentravam… Um horror!
Aí eu resolvi voltar, eu resolvi dar outra chance, mesmo sem estar muito certa disso, assim como a Iza, que deve estar cheia de dúvidas, desconfianças, inseguranças. Bem menos grave do que o caso da Iza, mas, enfim, voltei. E a sensação de voltar pra casa é das melhores experimentadas na vida. Um reencontro, um perdão, uma saudade guardada, um abraço para se morar pra sempre…
Voltei e aqui eles fazem o único café com leite que eu gosto – mais leite do que café. E o Mateus faz desenhos na minha xícara e a Vitória, a Jéssica e a Érica já sabem até o que eu gosto e do jeito que eu gosto. E isso é o avesso desse mundo intergaláctico cheio de opiniões e brigas e desavenças e queimadas eleições americanas (Vocês viram o debate? Não quero opinar, mas a Kamala foi melhor, achei. Ops, foi mal, vício, opinei).
Nesse mundão todo há lugares útero e é mesmo ali, nesses cantinhos que podem ser físicos ou podem ser pessoas, que eu quero fincar minhas raízes.
Mas não se engane, a sensação de voltar pra casa só é possível quando a gente se permite sair dela, dar umas voltas, provar lugares novos, outros sabores… Enfim, ir.