Não sei se ainda tem alguém pensando nisso, sentindo falta disso ou falando sobre isso, mas por considerar que o passarinho ainda anda pairando por aqui, que o tema ainda dá um caldo e, principalmente, ele vem sendo bem deturpado, eu vim, como cronista que sou, registrar em tempo e a tempo a minha opinião.
Em tempo, li agora uma crônica de Machado de Assis escrita em 1859 e, se a gente pensa que lá é faz é tempo, qual o quê!, ele falava do que anda se falando muito hoje: dos movimentos decoloniais da cultura. Só estou falando isso para defender que registrar por escrito a história é uma forma de não perdermos a memória, de conservarmos a trajetória que nos trouxe até aqui, a fim de que não nos tornemos pessoas sem passado e, por consequência, sem futuro.
Antes, é preciso que alguns conceitos sejam reestabelecidos, que o português fique bem claro. Que o esperanto paire sobre nós com uma lucidez de compreensão em uníssono.
A palavra é DEMOCRACIA.
Importante entendermos que em um regime democrático não é “qualquer um faz o que quer”, pelo contrário, existem leis garantindo que a minha liberdade não invada a sua liberdade. Acredite, o ser humano per si é incapaz de se autorregular, de ter aquele velho e bom senso por ele mesmo. Sem lei, vira barbárie.
Basta você ir na praia num domingo pra ver o tanto – e os tamanhos – de caixas JBL tocando um som lamentável, e pior, em frequências distintas de mau gosto. Sim, porque você jamais ouvirá de uma JBL na praia um João Gilberto, um Tom Jobim… A falta de educação é inimiga do bom gosto.
Mas a democracia garante isso, que cada uma ou um possa ouvir o que quiser. Em regimes ditatoriais, amigues, quem decide o que eu e você vamos ouvir é o governo federal. Em nossa ditadura militar, por exemplo, era um bando de milicos torturadores, estupradores e de péssimo gosto que dava o tom. E, claro, eles não apreciavam Caetano, Gil, Chico, Nara, Elis (essa, coitada, foi obrigada a cantar para os tais milicos). Já imaginou, viver num país que toca sertanejo num eterno repeat? Dureza!
Pois bem, a democracia serve para prevenir a barbárie, sobretudo, as ditaduras. E, se por vezes a democracia parece dura – ênfase no “parece” – é porque a barbárie é tão feroz que é preciso defendê-la com unhas e dentes. Que nada mais é do que se fazer cumprir a constituição democrática. No Brasil, ela foi instituída em 1988, após vinte anos de ditadura.
Elon Musk é um fanfarrão, para dizer o mínimo. Ele deve ter pensado assim: vou pegar esse paisinho de terceiro mundo pra testar a minha força que, penso, é global.
E desafiou, e foi alertado, e não cumpriu as regras que todos nós temos de cumprir em nosso país e no país dos outros. No país dele, então, do Musk, eu quero é ver um gringo se meter a besta com a democracia americana. É preso ou expulso pra nunca mais voltar.
Pois bem, Alexandre de Moraes avisou, deu chance, explicou como funcionava por aqui, deu prazo, mas Elon botou o passarinho pra voar.
O que se espera, diante disso, é que um Estado soberano tome as devidas ações para que as leis que asseguram a sua soberania e a sua democracia sejam cumpridas, ora. Isso não é censura, o nome disso é regra. Liberdade de expressão não é liberdade para agressão e nem para descumprimento da lei. Eu não posso sair por aí xingando as pessoas, ofendendo-as, ameaçando-as… Existem leis para me enquadrar a fim de que meu conterrâneo possa exercer a liberdade dele sem ser importunado por mim. Isso não é ideologia política e muito menos tomar partido político.
Sejamos de direita, de esquerda ou de centro, fiquemos felizes porque existe uma instituição assegurando a democracia para que ninguém de fora venha cantar de galo no nosso terreiro. Se não houve aprendizado com o terrorismo no dia 8 de Janeiro de 2023, agora pode ser que se entenda. Balbúrdia aqui, “non passarán“, já pregava o ex-presidente.