Acorda, malha, volta, se arruma, pede um café com leite e ovos mexidos, liga a máquina, digita mil coisas, despacha vários e-mails, mastiga enquanto digita, preocupa-se, frustra-se, grava um anúncio, busca automotivação, recebe uma ligação e… puft! Uma enxaqueca.

Há tempos que recebo minha enxaqueca muito mais como um aviso, como um cuidado, até mesmo como um carinho do que como uma praga que se abateu sobre mim. Explico, ela não é mais aquela coisa medonha, que me consumia 24 horas do dia entre dores e ressaca pós dor quando eu era pequena. Não, ela, atualmente, só vem mesmo para me mandar parar.

Até estranhei a demora. Fazia tempo que eu vinha abusando do quinhão emocional que leva este corpitcho e nada da enxaqueca vir. Pensei: eita!, até ela me abandonou, melhor eu mesma me cuidar.

Tentei, mas ela devia estar confiando na análise terapêutica, devia estar de bate-papo com os colegas tédio, raiva, ansiedade, melancolia, vendo o revezamento de cada um atuando em minha pessoa, como num painel do filme Divertidamente 1 e 2.

Quietinha, mais amadurecida com o passar do tempo ou com mais piedade deste corpo o qual ela massacrou durante toda uma infância, dona enxaqueca, sim, ela é uma senhora bem mais velha do que eu, dona enxaqueca entendeu que era preciso vencer a artrose e caminha até meu cérebro, acionar o botão de “para” e finalmente me mandar parar.

Eu, obediente, também já mais senhora de mim, imediatamente entendi o recado. Desliguei a máquina – o computador e o corpo – deitei em minha cama de onde só me levantei três horas depois.

A metáfora é toda essa. Podia terminar de escrever por aqui, afinal, quando dona enxaqueca me manda parar, eu obedeço. Não vou comentar sobre as eleições para prefeito e vereador que já são no próximo domingo porque eu ainda estou ressaquiada da eleição de 2022. Nem adesivo eu coloquei no meu carro, tamanho o trauma.

Também podia falar do show de Zeca Pagodinho que, de última hora resolvi ir. Fui mais pelas companhias do que pelo Zeca, tamanha era a minha falta de vontade. Mas ainda bem que fui, Zeca Pagodinho cantou canções ótimas e se mostrou absolutamente coerente com o que parece ser a sua filosofia de vida: vir na vida a passeio e o palco é seu grande bar com amigos. Vai ver que o caminho é o Zeca… Mas meu corpo só entendeu agora.

Podia trazer temas polêmicos pra roda, mas, em respeito ao comando de quem sabe de mim assim como eu, resolvi obedecer a ordem que, neste caso, é sempre pensar pouco e me mexer menos ainda.

Lentamente estou retomando. Veja que esta crônica devia ter ido ao ar ainda pela manhã, já que o nome do quadrinho no Instagram é “Pra começo de conversa” ou seja, segunda-feira já pautando – ou incomodando – o meu perfil e os “cadin” de seguidores que tiram um átimo de seu precioso tempo para me dar ouvidos. Obrigada.

Eu tinha até mais coisa para fazer, deveria traçar o meu planejamento anual todinho, já que amanhã começa a correr o prazo do meu pós-doutorado e isso significa que eu tenho um ano para cumprir o que me propus, e não foi pouca coisa.

Mas por hoje, querides, vou ficando por aqui, porque ainda sigo lenta… Lenta, mas em paz e torcendo para que você reconheça os seus momentos de pausa antes da visita de uma enxaqueca, de uma dermatite, uma herpes… Enfim, cada corpo tem lá o seu sinal de alerta.

Se liga! Antes do surto, corra para uma praia, abra uma cerveja gelada porque esse tipo de comando costuma agradar o cérebro, acalmar a alma e, por vezes, fazem um bem muito maior do que remédios.

Boa semana!

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