Num longo voo de 11 horas, de domingo pra segunda, com coração aflito por não saber o resultado das eleições ainda, lá pelas três horas da manhã de um fuso horário qualquer que nem eu sabia mais em que lado do Greeenchitkx eu estava, eu sintonizei meu canal no filme 303.

Queria mesmo uma aguinha com açúcar que não engordasse e filme que a gente não tem que pensar muito é a melhor coisa pra isso.

A história: uma menina que recebe um não na entrevista pro mestrado, ou doutorado, não sei – já fui logo me identificando – e está indecisa se aborta uma gravidez de um namorado que tá longe, que não tá a fim de ser pai e nem a fim dela quer que ela tenha esta criança;  e um cara que perdia a bolsa de estudos da faculdade e resolvia dar um tempo e ir atrás do pai biológico 24 anos depois. Ambos tèm a mesma idade na trama.

A garota tem um furgão daqueles que é bendizer uma casa e ele, o rapaz, não tem nada e pede carona pra ela num posto e a história começa.

E o que que esse romantismo de quinta tem a ver com esta crônica? Pois é, o que tem a ver é o amor mesmo, é o degelo de um coração que ficou meio petrificado, não pelas amarguras da vida, mas por se sentir tão bem com ele mesmo e com o resto dos órgãos do corpo dele, principalmente o cérebro, que deixou de lado essa coisa desestruturante, mas deliciosa que é amar, mas que não é a única forma de se encontrar prazer na vida.

Liberdade dá um prazer e tanto pra um ser humano, apesar de, claro, cobrar seu preço.

Como assim? Se você é livre, você pode fazer o que quiser. É, pois é… Mas você sabe mesmo, todo tempo, o que você realmente quer?

Tem horas que a melhor coisa do mundo é você ter alguém que decida por você. Por exemplo, você sempre quis morar fora, mas sempre morreu de medo dessa empreitada, daí você se casa e a sua vontade fica somente na fantasia, na frustração, e a culpa por não ter tentado, em vez de recair sobre você, porque só você é responsável pelos seus sonhos, você joga ela pra cima do casamento, dos filhos, etc. Muito mais fácil do que ser livre e ter medo, não?

Eu mesma tinha medo demais da liberdade, até prová-la e gostar tanto que fica difícil fazer o caminho de volta.

Mas aí teve o o filme 303. A media em que eles cruzavam os cenários mais lindos da Europa, desde a Alemanha até Portugal, passando por praias e parques lindíssimos que aquele velho continente tem, e enquanto eles iam fingindo que ainda não estavam apaixonados que é pra prender a atenção da gente no filme, foi me dando uma vontade danada de entrar num Moto-home daquele com alguém massa.

E fiquei pensando que o amor pode valer a pena, mesmo sendo a vida de solteira uma paz de espírito.

Engraçado porque, antes de entrar neste mesmo voo, vinha um casal que, pela idade, já deveria estar casado há uns bons 25 anos, presumo. Eles conversavam feito quem compete, uma conversa besta de que um não estava cansado e o outro retrucava dizendo que também não, só que havia tido que correr muito, aí o outro dizia, meio que soberbamente, que seu preparo físico estava ótimo e essa conversa besta de competiçãozinha entre casais eu vejo tanto que me dá preguiça de me relacionar, porque fatalmente isso acontece. Mas o pior foi o final, pelo menos até onde eu ouvi:

Ela: – é, mas deu certo a viagem

Ele – a SUA viagem

Ela – A NOSSA viagem

Ele – A sua, eu só vim pra acompanhá-la, por mim, não teria vindo.

Dei uma olhadinha pra trás pra ver se a cara do babaca condizia com a sua fala. Nossa, casava direitinho.

C O M P A N H E I R I S M O

Cadê você?

Depois de muito pensar ao longo de minha humilde vida sobre por quê vale a pena estar casada, eu concluí que é só por causa disso mesmo, de companheirismo, de intimidade, de cumplicidade. Sexo você consegue fácil, companhia pra sair você pode contar com os amigos, papo pra uma madrugada inteira, você tem sua melhor amiga… É pelo companheirismo, meu bem, que vale a pena ficar junto, e se ele tá faltando, a meu ver, caia fora.

Lembro que na hora pensei: Cara, o casamento destrói o amor, não é possível. Porque uma grosseria dessas, você exausta, do outro lado do mundo, pra pegar um avião juntos e o cara ter que colocar uma parede de frieza assim diante da esposa que, apesar da cara enfezada – que deve ser fruto da convivência com este homem – parecia estar ali só querendo colo mesmo.

No filme, a garota falava que, cientificamente, um toque carinhoso é capaz de destruir milhares de neurônios do estresse e isso pra mim fez tanto sentido. Nesses últimos tempos de desentendimentos e ódios, meu corpo precisava tanto de abraços, de olhares de compreensão, afeto bom.

Mas aí que, no frigir dos ovos da minha saga de onze horas de voo, o amor venceu o ranço, a antipatia, a soberba, a chatice, a falta de empatia, de compaixão, no final das contas, dentro de mim, o amor sempre vence o desamor.

Tô aceitando uma carona mundo a fora numa boleia com você, que nem vai ler essa crônica, acho, mas que, se ler, talvez até saiba que é de você que eu estou falando, que é com você que eu quero viajar o mundo.

Bjs

Com amor,

Lu

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