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Crônicas rasas

Hoje a Lara leu uma crônica de Rubem Alves que trazia uma música do Chico e Vinícios – Gente Humilde – para narrar a história de um vendedor de balas na rua e, por ele, tratar da miséria no Brasil que só piorou depois da linda composição de nossos artistas. De tarde, eu, frustrada, dirigia pela rua, quando um vendedor de balas colocou um pacotinho em meu retrovisor. Eu, que não como balinhas prenhes de açúcar e corante, lembrei-me da crônica da manhã e, comovida, comprei o pacotinho de “azedinhas”. FIM.

O que eu queria não saiu como eu esperava. Concluo que… quer dizer, não concluo nada, só fico chateada e triste mesmo porque jamais me conformarei com o famigerado “era pra ser”. FIM.

O pior plano é o B. Que pode vir a ser ótimo, mas, enquanto o A ainda não esfriou o colchão, pensar no B dá muita preguiça. FIM.

Nunca tinha acontecido comigo. Só lia no facebook, ou nas matérias de jornais feitas pra gente chorar. Essa coisa de uma pessoa que está na iminência da morte deixar um texto de despedida e de aprendizados. Eu li um texto assim de uma conhecida e fiquei absolutamente impactada com a lucidez adquirida no final, ainda que este fim seja precoce. Os questionamentos, os arrependimentos, as conquistas, a redescoberta de grandes amores, a dor, a resignação e a luta. Não seria isso tudo a vida? Será que precisamos chegar perto D´ela, essa com letra maiúscula, imperiosa e definidora de nossos destinos para que possamos nos dar conta de que a felicidade geralmente mora ao lado? Que frase cliché, essa da felicidade que mora ao lado, mas não há nada mais cliché e arrebatador do que viver, não é mesmo? CONTINUA… Não tem FIM. Ps. os mexicanos acreditam que a gente só morre quando a última pessoa que se lembra da gente morre. !Viva el Mexico! FIM.

Você cumprimenta os porteiros do seu prédio? Quando eles lhe interfonam, você se identifica e dá bom dia? Quantas pessoas atendem o interfone da sua casa por você e têm a voz idêntica a sua? Eis o mistério da fé. FIM.

MARIELLE,

-PRESENTE! 

FIM (mas com muita água pra rolar debaixo da ponte).

Às vezes eu me pego pensando como foi a infância dos “zero” à esquerda, ops! à direita, à extrema direita, dos filhos do “homi”. Um misto de mimados com disciplina, sem sorriso à mesa, casa sem brinquedos, sem bagunça, onde as crianças só comiam depois dos adultos. Coisas assim que deixam a gente má, amarga, cruel, sem noção alguma sobre solidariedade e empatia. Lar sem amor, não brota amor. Deve ser por isso que Dudu falou do AI-5. Freud neles, Jair!, talvez ainda dê tempo de salvá-los e, de quebra, salvar o Brasil. FIM (é o fim!).

Esse ano de 2019 tem sido o ano das efemeridades. Tudo o que tinha tudo pra acontecer, não está acontecendo. Um quase que chega a ser chato, uma esperança toda trabalhada na frustração. Cansativo. E olhe que ainda faltam bendizer uns 15% até o fim da estrada. Já conheço os passos… FIM.

Já são oito parágrafos que poderiam, cada um, ter virado uma crônica só sua. Uma reflexão um pouco mais profunda acerca do que cada tema despertou nesta cronista que tenta hoje, em vão, elaborar alguma coisa com coisa porque tem um compromisso lindo com vocês de toda quarta-feira estar aqui pra gente refletir sobre alguma coisa. Dia desses me disseram que eu escrevo pra agredir. Não, na verdade eu escrevo pra incomodar, pra tentar tirar você e a mim um pouquinho do lugar comum que o cotidiano nos obriga a estar, pois, penso, que a única forma da gente viver, estar vivinho da Silva todos os dias dessa vida é, de verdade, tateando esse chão, pensando sobre como a gente pisa nele, como age, o que sente, o que quer de fato… SEM FIM.

Crônicas rasas, termo que cunhei agorinha e papai perguntou se era uma forma de narrativa em crônica. Mas não é não, isso é arrumação minha. Só que tem dias nos quais as afetações são tantas, mas tantas, que fica difícil mergulhar em um tema, é como se a gente adoecesse, tipo doença crônica, que não tem causa e nem cura. Tipo isso.

Fica tudo raso, ainda que lá embaixo dessas camadas calejadas pelos dissabores e os “nãos” haja alguém em carne viva tentando entender o sentido, as pessoas, o cosmos, as injustiças, os destinos, a morte, a perda. Vulcão adormecido. Semana que vem ele eclode. FIM.

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