Dinâmica de grupo – Eu, dinâmica.
Das coisas mais chatas, non sense, que faz um ser humano se entender como burro de carga, das coisas que eu mais odeio do mundo empresarial corporativo – e não são poucas – das coisas que mais faz alguém parecer com uma ameba chama-se DINÂMICA DE GRUPO.
Odeio todas elas e peço ao além pra que nunca mais me coloque numa situação na qual eu precise estar trabalhando numa empresa e estar participando desse tipo de deboche com o outro. P.S.: O gerundismo na frase faz parte da linguagem empresarial detestável.
Perdoem o desabafo acima, já irei prosseguir.
Bem, semana passada eu participei de uma dinâmica de grupo sensacional!
Pense numa coisa que eu faço nessa vida é me contradizer. Digo que não gosto, faço; digo que não devo; como, digo que não vou; já me sinto lá; digo que nunca mais, já tô ligando… Enfim, essa metamorfose pensante e errante.
Foi num curso, não tinha nenhuma empresa me pagando e me obrigando a ser ridícula. Fui eu mesma quem comprou o ingresso, logo, tava ali porque queria. Foram três dias de palestras teóricas sobre como ter sucesso na internet e, no segundo dia, à noite, teve a tal dinâmica, com um cara chamado Roberto Shinyashiki, um coroa, japa e roqueiro sensacional.
Numa das fazes das tarefinhas, ele apagou a luz do salão, éramos 3.000 pessoas, e pediu pra que a gente se encontrasse com aquela pessoa que, na infância, havia nos colocado um bloqueio, havia nos dito que não seríamos bons, que não iríamos dar certo, ou que nos castrou de alguma forma.
Imagino que muitos devam ter tentado perdoar pai e mãe, um tio mesquinha, uma professora da escola que fôra rude, ou uma avó autoritária. Pois eu, nesse fechar de olhos e olhar pra baixo, me abracei demoradamente com uma pessoinha que durante a vida inteira tentou me emperrar: EU MESMA.
Nunca precisei de inimigos, até porque com os outros eu sou bem mais leve do que vou comigo. Virginiana é osso.
É interessante a ideia de você se reencontrar consigo. Me coloquei com esta idade, 36, me abaixando para abraçar aquela moreninha de nove, com um cabelo preto e ondulado – lindo – do qual não gostava tanto – queria que fosse liso, gordinha – odiava, queria ser palito igual às primas – e com duas covinhas lindas.
Essa meninazinha deitava a cabeça no meu ombro meio insegura, chorosa, com medos de si e do mundo. Ela me pedia proteção e eu dizia pra que tava tudo bem e que sim, a gente ia se entender e sobreviver a nós e a tudo.
Quis dizer pra ela como ela sempre foi linda, mesmo cheinha, e como aquele cabelão negro ia lhe render um charme no futuro que só vendo, a bisa tava certa. Disse pra ela que todos aqueles fantasmas na cabeça não eram motivos para culpa e que tudo bem em contar uma mentira pra mãe, se não queria ir pra aula. Tudo bem também em faltar aula, ninguém precisa de tanta rigidez.
Pedi ajuda pra ela para que não nos cobremos tanto, que saibamos – a adulta e a criança que vive aqui – curtir o que a vida nos deu de bom e de privilégio. A gente não tem culpa de nada, pois nunca intencionamos fazer mal a ninguém.
Enquanto isso ela afundava a cabeça no meu pescoço e eu a abraçava. O Palestrante continuava instigando e eu não queria me desgrudar daquele lugar, daquele aconchego, daquele reencontro.
Percebi que eu venho brigando comigo ao longo da minha vida toda e como isso atrapalha, atravanca e doí. Como podemos ser tão cruéis conosco? Por que tanta autocobrança, tanta cisma?
Por que a gente é ruim com a gente mesma?
Sim, sei que tem muito da cultura religiosa, sim. Vivemos com culpa. Culpa por falar, por não falar, por fazer, por se achar, por querer mais, por relaxar, por ser mãe e por não ser, por beijar muito, por não ter namorado… Tem também a culpa social: por engordar, por estar magra demais, por ter rugas, por não fazer o que todo mundo faz, por ser de esquerda, por não ser, por não querer ser manada, por ser única… Muita culpa, sempre.
Uma pena demorarmos tanto pra entender que temos um fim e que esse meio tem de ser muito mais divertido. Shinyshinki terminou a palestra dizendo que, quando trabalhava num hospital com doentes terminais, pôde perceber quais eram os três maiores arrependimentos no leito de morte, são eles: não ter ido atrás dos sonhos, não ter curtido pais e filhos e não ter curtido a vida.
Dos sonhos eu tô correndo atrás, aliás, sempre estive e nunca corri tanto como agora. Curtir meus pais, isso eu me dei conta há alguns bons anos e certamente não há nada melhor mesmo. Filhos? Daqui a pouco. E curtir a vida? Ela tá só começando, já cheia de bagagens e com a minha melhor companheira de viagens: a Luciana.
E você? Tá precisando se perdoar de que?
Deixa aqui nos comentário pra gente se entender :).
Bjs e inté!
Excelente como sempre 😚
Obrigada, amore!