Dizer NÃO é maturidade

Acabou de me acontecer um fato e precisava dividir com alguém, no caso, vocês :).

Sempre pensei que trabalho não era pra ser recusado, fosse qual fosse, sendo pago e minimamente dentro da minha área, deveria ser pegado, pois, no mínimo, serviria de experiência.

Nem sei dimensionar o porquê desse pensamento bobo e burro, se culpa carregada pelo sistema católico/capitalista de autopunição, se porque eu tinha um incômodo com escritórios e pensava ser uma pessoa preguiçosa e vagabunda e, por isso, me obrigada a trabalhar mais e mais… Enfim, não sei, isso é conversa pra minha terapeuta… Quer dizer, nem preciso mais falar sobre isso, porque nem em escritório eu trabalho mais, graças!!!

Mas aí eu mudei de profissão, de estudo, de carreira. Tornei-me – ou melhor, estou me tornando –  escritora e você não imagina a minha alegria quando vejo você nos comentários deste blog, no Face ou no Instagram do @parissodeida (atenção para o merchã, porque, né? a gente vive num país capitalista e time is money e “quem não se comunica se trumbica”… enfim, muitas bordões).

Divaguei… Voltemos.

Hoje, eu recebi a ligação de uma amiga muito querida. Começamos a fazer uns trabalhos juntas, eu sempre no texto e ela nas imagens e organizações, e gerenciamentos, enfim, toda essa parte que eu não domino e/ou não quero dominar. Acontece que ela falou que não poderia pegar o job da cliente porque estava muito atarefada e me perguntou se eu queria fazer.

Meu primeiro pensamento foi: Preciso pegar, tô começando, trabalho é trabalho e mesmo que não seja a minha praia, eu vou dar um jeito e vou fazer.

E é aí que o milagre aconteceu, fez-se a luz (Fiat Lux :)): a maturidade bateu e eu respondi: Amiga, muito obrigada, mesmo, por ter se lembrado de mim, mas não sou a pessoa mais adequada para esse projeto. Se a cliente precisar de alguém para os textos eu estou por aqui com prazer, mas para gerenciar tudo, eu morando no Rio e ela em São Paulo, certamente não vou dar conta.

Pensei que fosse ser uma dor enorme falar isso, e por um lado até foi, mas, por outro, eu entendi o poder da palavra foco, o poder de selecionar o que você faz bem, o de perder aqui pra ganhar depois e, principalmente, o de dizer NÃO sem culpa, sem achar que está fazendo corpo mole, sem achar que deveria estar fazendo algo para o qual claramente você não era a melhor pessoa.

Ser a melhor pessoa, tá aí um grande atraso de vida na vida de muitas pessoas. Ser a melhor pessoa pra tudo dá um trabalho do cão e gera uma frustração perpétua, porque você faz isso esperando receber parabéns de todas as outras pessoas para as quais você quer ser a melhor pessoa e isso jamais vai acontecer, acredite. Isso é só vaidade sua, nem chega a ser bondade, então, vamos trabalhar o ego, diminuir as expectativas e sermos muito mais felizes, ok, meninas? 

Fiquei pensando em quantos nãos a gente deixou de dar e depois teve um prejuízo daqueles. Quantos relacionamentos abusivos, de quantas situações participamos mesmo sem concordar com o fato, quantos risinhos de piadas machistas e racistas nós demos só pra não constranger o piadista imbecil e acabamos por ofender o amigo negro que estava do lado e que ficou ali, desolado e sem apoio.

Quantas vezes ouvimos alguém dizer “não adianta fazer nada”, “você só vai perder seu tempo”, “quem tinha que ajudar essas pessoas era o governo e não você” e, acomodadas, deixamos de ajudar, apoiar, ouvir alguém, em vez de ter dito: NÃO. Não penso assim e vou ligar pra Fulana, vou dar esmola pro Sicrano porque é o que posso fazer por hoje, vou dar essa chance para Beltrano.

Adolescente, então, nossa!, como sofre. Ter de parecer igual a mais de meia dúzia de amiguinhos e sempre vai ter o anti-ético da galera, sempre vai ter o grosseiro, o covarde e os demais, por medo de “ficarem de fora”, fazem tudo igual, mesmo sabendo que estavam em desacordo com a sua verdade. E olhe que essa adolescência, às vezes, dura uma vida…

Dizer não é amadurecimento que passa pelo processo tão longo e eterno de autoconhecimento. E ambos envolvem um mergulho para a escuridão que é a gente e, Deus do céu!, como a gente se atropela e se boicota nessa jornada (falei disso aqui).

Posso continuar relatando mil formatos de NÃOS que você e eu não demos, como: permanecer com aquele cara que te constrange na frente dos teus amigos com aquelas brincadeirinhas sem graça que te sacaneiam, ou com o cara que fala grosso com você, te ameaça, não te deixa fazer algo, te diminui… Ou naquele ambiente de trabalho pesado, nojento, onde patrão oprime empregado, ou você se vê constrangida diante de uma cantada e, em vez de levantar a voz e se defender, dá um sorriso amarelo e na próxima reunião usa uma blusa de gola alta que é pra ver se o infeliz não olha pros teus peitos.

Esse tipo de coisa, esse tipo de NÃO, que principalmente a mulher não consegue dar. Ou melhor, não conseguia, né?, porque depois de ler essa crônica, você vai incorporar essa palavrinha ao seu Aurélio, combinado?

No meu caso foi um não leve, foi um não lindo porque me mostrou um lado meu que nem eu conhecia. Foi um não com uma vontade danada de dizer sim, porque quem estava me indicando é uma pessoa que adoro e o projeto ia ser massa.

Mas não era pra mim. Fui honesta comigo, com a minha amiga e com a cliente.

É, olhando por esse lado, acho que eu disse foi um belo de um SIM.

7 respostas

  1. Euuuu!!!
    Dos não que não dei para os outros e acabei dando vários nãosssss para mim.
    É difícil, mas como você bem falou: faz parte da evolução.

    1. Cacau, dos seus nãos pra você você fez, e está fazendo, uma trajetória linda de vida. Que venham os SIM!!! Muitos. Bjs

  2. Lú, adorei a crônica! E com certeza vc lendo te inspira a vc dizer não!
    Coisa mais difícil era eu dizer não antes,mas graças aprendi a dizer sem peso na conciência e me sentia bem por isso! Ah casos que são mais delicados que dependendo da pessoa vc tem dificuldade pra dizer mas hoje tenho esse pensamento se a pessoa não tem problema de falar as coisas porque eu vou ter!?😘

  3. Eu !!! Já deixei de dizer tantos nãos…que me vejo repassando na minha cabeça como deveria ter falado em vez de calado !! Adorei a crônica, chiquita!! Beijos!!

    1. Obrigada, amore!
      Daqui pra frente, sempre vai ser diferente. Vivam os nossos nãos e aqueles que não falamos e nos fizeram calejar e aprender.
      Obrigada, chiquita!

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