Mudança do Rio – dois anos depois, o que eu aprendi.
É no Rio de Janeiro, mas poderia ser em qualquer outro lugar. Faz dois anos que mudei a vida toda.
Nesses rompantes que na verdade nunca são tão rompantes assim, pois você vai acumulando, acumulando, acumulando e aí vem a gota d´água (Com Chico Buarque e tudo) e você rompe.
Era um casamento já no fim – com um cara que até hoje adoro -, um trabalho que não me tocava a alma – e eu preciso que ela seja tocada, sempre -, e a vontade de voltar a morar na cidade que eu mais amo no mundo – sim, apesar de Fortaleza ser a minha natal e, somente lá, eu conseguir me desarmar completamente e ser eu, eu – ainda acho – o Rio de Janeiro FODA.
Quando a gente muda, a gente sabe que vai ser difícil pra caramba, mas lá no fundo, claro, a expectativa é de que dias melhores virão e que a sua vida vai brilhar, que você vai fazer e acontecer e que, enfim, tudo vai dar certo.
De certa forma dá, porque viver acaba dando certo. Entre dias ruins, bons, e normais, o resultado final é positivo, porque estar viva é sempre positivo na minha opinião.
Comecei a seguir recentemente o perfil da @cacautells, que também passou por uma guinada e, como eu, e possivelmente como você, está tentando renascer, como ela bem define no seu livro #Renasceraos30. Lendo as postagens dela e aquela visceralidade toda ali em cada post, me abriu mais uma porta, dentre todas as que vêm abrindo (não cessa, a alma é uma porta a abrir ad infinitum) e vim aqui compartilhar com vocês minhas impressões sobre esses dois anos.
Posso?
É que atualmente eu me encontro num novo momento de transição e ruptura: ficar no Rio ou voltar pra casa? Onde é minha casa, afinal?
Às vezes eu olho pra trás e me lembro do meu ap de quando era casada e, por uns segundo, me dá vontade de voltar pra lá, pra onde eu tinha certeza, mesmo que a certeza fosse a de que eu deveria sair dali. Mas tinham meus passos, minha cozinha, minha geladeira e minha TV…
Então lá vai: aprendizado número 1
- Mudar é absolutamente desorganizador. ABSOLUTAMENTE.
Criar uma nova rotina, novos hábitos, descobrir novos endereços de manicure, depiladora, farmácia e supermercado. Se lembrar de levar a chave da nova casa, sendo você bem esquecida (fiquei de fora algumas vezes), aprender a cozinhar, sendo que você não sabia, de verdade, fazer um ovo estrelado que prestasse, botar roupa pra lavar, trocar colcha de cama, arrumar quarto e tentar deixar as coisas minimante em ordem quando a sua cabeça é completamente embaralhada. Parece cômico, mas é trágico.
Fique atenta também, e principalmente, à sua mente. Ela pode tender a criar coisas, já que agora você tem mais tempo pra pensar em si e não está mais vivendo no piloto automático. Esteja atenta aos seus sinais e, se precisar, ligue para as amigas e se não resolver, terapia :).
Daqui já parto pro aprendizado número 2
- As pessoas não estão na sua mesma vibe e, com os malefícios da tecnologia, elas têm pouquíssimo tempo pra você. E, certamente, você pra elas.
Solidão mesmo. Esteja preparada para contar apenas com você – e pai e mãe no caso de os seus serem incríveis como os meus. Não, ninguém vai te ligar, não vai querer saber se você está realmente bem ou não. Quando muito, uma mensagenzinha de Whatsapp, daquelas que você interpreta como quer e tá tudo bem.
Segue um exemplo do meu diálogo de hoje:
Eu: – oi, tô com uma saudade de conversar com alguém que me entende super.
A pessoa: – tá tudo bem?
Eu: – Fase de transição de novo, inferno astral, talvez (meu niver é mês que vem).
A pessoa: – tá ficando velhinha…
Fim de papo.
Então, esqueça, quem resolveu mudar foi você e ninguém é obrigada (o) a passar por suas fases e lutos contigo. Ergue a cabeça e sigua em frente.
Aliás, isso pra mim foi o mais duro. Fiquei com o mesmo cara de 2007 a 2016 e é fato que quando a gente está numa relação, a gente acaba se comprometendo com ela em atenção e ligações. Pois bem, durante este período surgiu whatsapp, instagram e facebook e quando eu saí dela eu percebi que as pessoas se desconectaram. Bizarro! Mas já tô me acostumando.
E aí vem o aprendizado de número 3 – esse é bem positivo
- Sim, se você quiser, você pode perfeitamente se divertir sozinha. E como pode?
Ir no seu restaurante favorito na companhia de um bom livro, ir à praia com a mesma companhia. Você pode ir ao shopping ficar o tempo que quiser nas suas lojas favoritas – no meu caso, fico pouquíssimo… hahaha). Você não precisa tentar negociar se vai comer pizza ou sushi, come o que te apetecer, não precisa argumentar que o filme iraniano de três horas é muito melhor do que a superprodução hollywoodiana. Compre seu ingresso, um saco imenso de pipoca pra durar pelo menos a primeira hora e delicie-se com a monotonia.
Viajar sozinha!!! Acredite, pode ser ótimo. Dá medo: de se perder, de se sentir sozinha e pode até dar vontade de chorar, mas é uma delícia descobrir lugares e coisas a seu tempo, do seu gosto, do seu jeito. Se joga!
Mudança pro rio, aprendizado número 4
- Você vai conhecer gente, mas nem todo mundo vai virar seu amigo de verdade. E nem todo mundo é legal. Não se force a relações ruins só porque você está só.
Apesar de eu ser uma pessoa que AMA falar, conversar, trocar ideias, eu me descobri um ser meio anti-social. A culpa também é minha e foi ótimo descobrir isso. É, não consigo ser aquele alguém de grandes turmas, que rapidamente tá inserida em contextos, enfim, uma pena, porque eu queria. Seria ótimo.
Porém, em minha defesa, eu sou aquela que, quando gosta das pessoas, é a que mais agita encontros, mesmo que eles quase nunca saiam. O motivo? Volte ao aprendizado número 2.
Sobre as pessoas que não são legais, você já não tem mais quinze anos, eu acho, e já concluiu que sintonia é quase amor. Então, junte-se aos que se parecem contigo e se vir que não tá batendo, deixe a pessoa ir… outras legais virão.
- Sobre as pessoas legais que não viram amigas (os)
Sim, você pode até não ficar amiga de todo mundo legal que conheceu. Amiga que digo no sentido de ir tomar um chopp, viajar junto, trocar dificuldades, mas você pode conhecer gente tão legal, mas tão legal que vai mudar a sua visão de mundo, seu jeito de encarar o próximo, a vida e isso é lindo, isso vale muito à pena. Esteja atenta a esses encontros.
- Sobre as novas amizades
Isso com certeza é o mais legal de tudo. Fazer novas amizades. Daquelas que você sabe que vai durar, que você pode desabafar e, principalmente, com pessoas com as quais você tem sintonia.
Aliás, essa é a maior vantagem de fazer amizades na fase adulta, a gente só deixa ficar quem realmente tem a ver com a gente.
- Sobre família
Se você der a sorte que eu dei de ter família carioca, ótimo. Ajuda muito no quesito do aprendizado número 2.
Mudança pro Rio – aprendizado número 5
- Esteja aberta ao novo
Eu digo isso, mas eu não sei fazer isso muito bem não. Analiso, travo, fico na minha até me sentir confiante. Mas eu devo confessar que isso é algo que quero mudar, porque isso tem a ver com medo e medo é atraso de vida.
Caramba, como a gente tem medo da vida. Como a gente coloca condições e ressalvas e como é bom quando você se entrega: a um grupo, a alguém, a algum projeto, a você mesma… É libertador.
Por fim, não porque eu tenha encerrado minhas divagações, mas porque a crônica tá imensa já, devo dizer que vale muito a pena. Que mudar não significa que vai ser sempre melhor, mas que coisas boas vão te acontecer e outras não.
Significa que você vai amadurecer, ah! vai, mesmo que volte a ser criança, adolescente, enfim, será isso de outra forma, com consciência. A mudança, vai, no mínimo, te encher a bagagem da sua jornada de vivências.
Nesses dois anos de mudança, meu sentimento é de orgulho da decisão que tomei e de tudo o que enfrentei, principalmente enfrentar a mim mesma, que é sempre o mais difícil. Mudar é desorganizador, mas viver nesse estado por algum tempo é delícia, porque te tira da sua mesmice e isso é massa!
A segunda conclusão é a de que a vida só tem um ponto final lá no final dela, quando chega a tal da hora e que, no meio desse caminho, você tem muitas escolhas pra fazer e esse estado de mudança, muito ou pouco, sempre estará acontecendo. Como agora, que preciso mudar novamente e não sei pra onde. Tô perdida!
A terceira conclusão é que, SIM, eu me mudaria mil vezes pro Rio de Janeiro. Apesar dos pesares todos, minha conexão com isso aqui é inexplicável. Eu sempre vou querer voltar, mesmo que eu me mude novamente.
Rio, eu te amo!
Minhas impressões sobre o primeiro ano no Rio estão aqui.
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Mudar é desorganizador, adorei! Também deve ser enriquecedor, saímos mais fortes! Coragem é a palavra da vez. Ótimo texto! ❤️
É isso! Coragem com leveza de apreciar o caminho. Obrigada, amore!
Maravilhoso seus aprendizados e pra onde voce for (espero que de volta pra ca) vai valer a pena a mudanca, sempre nos traz novos aprendizados e novas oportunidades.
Sempre! Também espero um dia voltar pra cá. Muito obrigada pelo carinho, prima linda!