O melhor entorno depois do meus pais e Nelsinho: a praia :).

Entorno

Eu ando muito mais atenta ao meu entorno. Certamente pelo fato de sair muito sozinha, porque quando a gente tem companhia, pede-se que dêmos atenção a ela e isso é ótimo. Porém, quando não há mais ninguém além de você mesma e desconhecidos,  sobra mais tempo para prestar atenção aos “detalhes” aos quais, costumeiramente, não estamos atentos. O entorno.

Eu, por exemplo, ando elogiando os pratos nos restaurantes que vou (tem um aqui no Rio que é uma delícia, ó! E esse aqui também), faço recomendações ao chef e digo que voltarei ao garçom. Ganho um sorriso e sinto como se tivesse botado um pouco de cor no dia de alguém que está ali quase como um invisível. Dou opinião até em avião, quando a propaganda (agora tem essa novidade, merchan em pleno ar) é ruim e causa estranheza no passageiro, vulgo, eu. Tô abusada! Mas é pro bem, juro.

Também puxo assunto com desconhecidos no metrô, por exemplo. Pego dicas com uma mulher que está com aparelho e eu devo precisar colocar algum dia desses, converso com uma trans que parou o tratamento de mudança de sexo porque precisava ser aceita no trabalho. A boa notícia é que ela já avisou que é mulher e vai voltar a se tratar. A empresa acolheu, viva a contemporaneidade, a inclusão, a diversidade e a luta.

Olho crianças sorrindo e sorrio. Se a mãe sorrir de volta, eu já pergunto a idade, falo do meu sobrinho, escuto as sapequices. É ótimo. Ontem mesmo até segurei no colo o Davi, coisinha fofa. Achei meio ousado dos pais, mas estavam do meu lado… Enfim, sou uma tia legal.

Ando bem menos trancada, acho, coisa que eu só percebi que era depois de muito grande. Pensava ser super fácil de me deixar levar. Qual o que, se bobear, sou até sisuda. Mas essa ligação direta recente com o que me cerca, tem me feito deixar-me ir um pouco mais e refletir sobre meu lado chato. 

P.s: Tem horas que eu escrevo uma frases, como essa de cima, e acho tão prolixa, tão erudita, tão nada a ver com o linguajar corriqueiro… Aí tenho medo de parecer pedante. Sou não, tá? 

Morro de medo de virar aquelas velhas doidas, que ficam puxando assunto e falam com as paredes se ninguém lhes dá cabimento. A meu favor, sou virginiana e minha autocrítica me freia e me mantém sã. Acho. Bom senso também habita em mim, penso, e ele é sempre uma ótima companhia.

Observo os casais, os ardentes e os mais frios – àqueles que parecem estar juntos há mais de dez anos. Os melhores são os pombinhos idosos: a companhia, a resiliência, a intimidade, a compaixão, o amor, a gratidão e a vida inteira, a elegância, a juventude de outrora. Tá tudo ali, naquele andar lento, de mãos dadas, no cuidado ao acomodar o mais parceiro (a) no banco do metrô e no semblante de paz que a real maturidade traz.

Olho de rabo de olho pra mesa ao lado e vejo os pais, com uns oitenta anos, almoçando com a filha, de uns cinquenta, e faço mil planos para a velhice dos meus, juntinho de mim, e pra minha meia idade também, claro. Seremos cúmplices no crime: vinhos, viagens, conversas na varanda de casa, jogados em cima da cama (papai sempre na rede) a falar por horas e horas, a achar graça e a aprender uns com os outros. Nossas saidinhas fortuitas para pizza com cerveja seguida de brownie… Isso é crime! #tamojunto

Rodas de amigas me lembram minhas primas e como é bom tê-las, como é bom sabê-las parte de mim, parte de meu ativo, patrimônio mesmo que eu herdei.

Faço meu pedido e saco de dentro da bolsa um livro – este sempre me acompanha. Leio uma crônica da Clarice Lispector e meu inconsciente agradece à vida dela. Leio Martha Medeiros e meu superego vibra em poder se distrair um pouco.

Volto pra casa dessa odisseia de bisbilhotice do que me cerca e encontro minha tia em sua poltrona já velha de tanto ir e vir do encosto e me sento ao seu lado pra falar da vida, dar conselho e receber os melhores. Damos risadas de nós mesmas, nos preocupamos enquanto a novela passa ou qualquer outra atração que fica ali de backvocal para as nossas vozes. Às vezes ficamos em três nesse bate papo, o entorno de minha nova casa é divertido e acolhedor. Ufa!

Transito bem nesse caminhar só, contornado por tantas experiências e sensações que o de fora nos trás. Sempre achei muito mais fácil lidar com o mundo do que comigo.

Vou ficando por aqui, mas se você quiser me acompanhar na segunda cerveja, será bem-vinda (o), pois depois da primeira eu fico bêbada e é sempre bom ter alguém pra endireitar o passo na volta pra casa e cantar Amor febril :).

Salud!

Ah! E se você se lembrou daquela sua amiga lendo esse texto, compartilha com ela :). 

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