Entre exílios e permanências
Ela é de ir.
Ela vai.
Com medo, em dúvida, recuando dois enquanto avança um, se questiona, chora, sente dor, muita dor.
Mas ela é de ir.
Ela vai.
De cedo percebeu que se não fosse, talvez não vivesse tudo o que queria, o que precisava pra poder ser, pra poder sentir-se.
Aprendeu a domar-se. Quando, feito cavalo em galopes e relinches que se revoltam contra o cavaleiro, quando os pensamentos começam a falar bem alto em tons que assustam, que deixam triste, que tentam se boicotar, ela para, respira e segue. Tem certeza de que depois melhora.
E vai, ela vai.
Nessas idas, muito mais do que conhecer o mundo, conhecer gente, ela se conhece. Chafurda-se em seu silêncio que essas idas solitárias proporcionam. Quando a boca não fala, a alma pinta e borda. E alma é bicho à revelia. Quando encontra terreno pra desnudar-se, quando não tem ninguém para nos distrair de um incômodo, uma mania, uma dor, ela se refestela inteira. Daí podem sair as surpresas mais deliciosas e grandes momentos de melancolia também.
E ela sabe disso. E é por isso que sabe que nem todo mundo quer seguir indo.
Nem ela.
Ela sabe das curvas, dos buracos, das derrapagens e do cansaço.
E, por isso, ela volta.
Ela sempre volta.
Porque voltar é o melhor lugar do mundo. A terra firme, a gente amada, o colo, as risadas e as conversas, o canto, a cama, o tempero de sempre.
Ela permanece.
Engraçado! Agora a pouco, depois de fazer uma trilha de moto e passar por terrenos difíceis, fiz essa analogia da vida com as curvas, derrapagens, o formigamento do corpo todo, depois de mais de uma hora andando sem pensar no destino. Apenas ir e depois voltar. No curso de direção defensiva, no caso da moto, você não vê a curva como curva (paradoxo) você prescisa ver a “curva como reta”
A curva como reta. Vertigem pura, só que às avessas. Uma metáfora do que a vida nos exige e, claro, do que podemos fugir: derrapando, formigando, sem pensar… Até a hora de voltar.
Beijos!