Chego de viagem, tudo bagunçado, rotina desorganizada, quarto todo revirado, mas preciso encontrar um tempo pra escrever.
Roupa pra lavar, mamãe me pediu um favor, não tenho nada na geladeira pra comer, mas preciso ligar o computador e escrever.
Minhas unhas estão horrorosas, há mais de dez dias sem olhar pra uma manicure, o frango tá no forno com a cebola, o tomate e o monte de tempero que coloquei pra ver se dava gosto, mas tenho de sentar pra escrever a crônica de amanhã, pois amanhã pode ser que nenhuma ideia me venha e preciso garantir a escrita hoje.
Quer dizer, é que escrever é pra mim como religião e vem primeiro do que qualquer dos afazeres.
Pera que vou ver ali se a comida queimou. Sabe como é comida, né?, você fica dez minutos olhando e ela nem se mexe, bastou virar por um segundo, passa do ponto. Comida é traiçoeira, principalmente quando falta, e como falta pra muitos… Voltei! Ainda dá pra ficar mais tempo cozinhando.
Pois bem, escrever é religião porque, apesar de todo o universo conspirar contra, eu acredito na minha escrita, tenho fé que com minhas reflexões, que não são poucas, já que minha cachola não para de se questionar, eu vá conseguir chegar aos ouvidos e às ideias de alguém.
Ler me fez melhorar como pessoa e escrever eu acredito que seja a minha arma contra o que eu não concordo neste mundo, contra o que eu não entendo, contra o que me dói, contra o que eu não gostaria de ser e que não gostaria que fossem.
Escrever, mesmo sem domínio algum, me faz crer que eu possa mudar um tiquinho do mundo.
Isso é ou não é a fé?
A diferença é que minha igreja é qualquer canto, minha hóstia, um guardanapo de papel e meu vinho uma caneta. Ops!, não, do vinho eu não abro mão. Meu vinho é vinho mesmo, ou cerveja… Vamos trocar o espírito santo pela caneta que é mais jogo.
Isso não é uma crítica a nenhuma prática religiosa, apesar de eu ter várias, isso apenas é uma luz que me fez entender porque a fé é cega e porque Deus, para tantas pessoas, é tão real quanto à porta que fecha meu quarto, não há dúvidas, não há contestações.
Se por um lado eu critico, por outro eu até admiro, juro, a pessoa acreditar que um Deus tudo provê de bom na sua vida concomitante à miséria na África.Essa fé facilita a vida, a meu ver. Tá tudo uma droga, mas Deus proverá. Não há culpa por todas as bonanças, pois são benção, foi Deus quem quis.
Mas não é esse o tema, é que tudo o que me instiga e incomoda e não me faz compreender, me leva a escrever, daí perco o foco, foi mal.
Mas eu entendi, finalmente o que é a fé e, por conseguinte, os seguidores religiosos: é paixão.
Paixão é cega, paixão não duvida, ainda que de vez em quando passe um lampejo de lucidez pela cabeça, rapidamente você desvia o olhar. Paixão te leva pra frente, te faz acordar e não voltar pra dormir até a morte, paixão te faz gente.
Seja apaixonar-se por alguém, por um trabalho, uma causa, um projeto, um esporte, um hobbie, uma animal, uma profissão, por Deus, qualquer paixão, é ela a tua estrela guia. Mesmo que tudo prove o contrário, mesmo que o universo te diga pra mudar de opinião, seguir outra estrada, não tem jeito, é paixão, meu amor, e contra ela, nada.
Nem todos os nãos, nem as maiores frustrações, nem quadrilha da ciência, matemática, física e química provando contra, paixão é abstração e contra o pensamento, babies, nada. E pra você que pensou encontrar nesta frase a razão pra não largar aquele bofe que te faz mal, esqueça, pois a paixão tá dentro da gente e não em outrem.
Já viu criança que cria amiguinhos imaginários, comidinhas fictícias e te serve em pratinhos de plásticos? Vai dizer que ali não tem uma pizza com brigadeiro e calda de marshmallow. Só se você for cega e sem coração, porque eu sinto até o gosto.
Pois bem, é nesse embalo apaixonado que me encontro. Que largo tudo, que invisto, que fico longe dos meus, para que estudo, a que me dedico e onde enxergo uma das minhas versões que mais gosto:
A de escritora!
Ah! E por via das dúvidas, carrego em meu pescoço um crucifixo, pois, quando a avião começa a balançar, lá no alto, meu bem, eu preciso de alguma coisa pra apertar e me apegar, só a fé mantém aquela jamanta no ar e salva a todos nós.
Amém.
E se você tem uma paixão dessas, qualquer uma, deixa aqui nos comentários pra eu saber que não tô sozinha nesse barco.
Bjs
Até sempre!
Grande verdade quando vc fala de paixao. E a minha é pela a minha filha linda, meu maior presente de Deus e o meu trabalho que faço com amor e com a maior dedicação. Aahh e tem lá as minhas paixonites passageiras, que de vez em quando não dão certo e a gente sofre um bocadinho, mas logo logo tá pronta pra outra, pq as paixões são assim né? Grande beijo e continue escrevendo, adoro os textos. Um dia me disseram que eu escrevo como eu realmente falo, e isso me fez refletir, que eu escrevo com alma, como realmente estou sentindo, e os seus textos me faz lembrar a forma como escrevo também, e eu já disse, vc escreve com alta, vc escreve realmente transmitindo aquilo que vc está sentindo, e isso é fantástico, pois é uma leitura fácil e gostosa de apreciar. Bjoooooss
Nossa que palavras mais lindas de se ler. Obrigada, Samynha. Sim, acredito que a maior paixão do mundo deva ser por filhos. Essa fé, essa coisa inexplicável de dedicação e amor diários. Um beijo grande e quero ler seus textos :).