Imprevistos

Estou passando por processos de seleção para um possível doutorado. Desde Agosto que estou mergulhada em livros, projetos de tese, textos, artigos, pesquisas, provas e mais provas, em Fortaleza e no Rio de Janeiro. Sim, o Rio sempre será uma bela opção, e Fortaleza também. Sou divida nesse amor natal, quando se nasce uma coisa e enxerga-se outra. Sei lá, é difícil explicar, mas isso nem vem ao caso agora.

Passei pra segunda fase e tinha uma entrevista agendada no Rio de Janeiro. Comprei passagem com antecedência, tomei uma série de providências antes, pois estaria ausente  – seja lá o que isso signifique, estar ausente, dentro de um esquema de autopriosionamento que a gente se obrigou – mas, de novo, não é isso que vem ao caso. Quero falar do imprevisto.

Pois bem, voei pro Rio – de onde escrevo esta crônica – não sem antes pensar na roupa que iria usar na entrevista, não sem antes fazer a unha, não sem antes pensar e repensar algumas dezenas de vezes como será todo o meu dia do dia da entrevista: tempo de antecedência para deslocamento (havia estabelecido 3 horas antes), hora que iria pra academia, o que iria comer antes de ir e havia decido que deixaria pra almoçar depois da entrevista… Claro que neste remoer mil vezes, me vinha sempre o rosto da pessoa que me entrevistaria, como eu me comportaria em sua frente, imaginava-me sentada em uma cadeira escolar… Enfim, estava tudo programado até que…

Acontece o tal imprevisto.

Recebo um e-mail muito atencioso e educado da própria pessoa que me entrevistará amanhã me dizendo que não poderia estar ao vivo na entrevista por um problema de saúde, mas que, como também estava previsto no edital, iríamos fazer a entrevista por skype, whatsapp, ou telefone mesmo.

Não sei se encerro esta crônica aqui, pois já está dada a mensagem, ou se eu me prolongo um pouco mais… Deixa eu ir até, pelo menos, até 700 palavras, por favor, pois é o tamanho mais ou menos que eu me programo pra ter uma crônica, no mínimo. Tudo bem, tem textos que se alongam e passam de 1000 palavras, mas eu sempre fico achando que minha leitora (or), no caso, você, vai se entediar e não vai me aguentar até o fim. Também penso que, se for pequena a minha crônica, você vai achar que me faltou fôlego, argumento, articulação, vai me achar meio sem graça e vai me abandonar antes mesmo de me dar uma chance.

A dosagem exata é a mais difícil, porque prever, que é o que a gente tenta fazer a todo custo todos os dias de nossas vidas, incluindo pagar caro pra uma pessoa abrir um baralho e prever que você vai casar e ter dois filhos, enfim, prever nada mais é do que contar com a sorte. E ô coisinha pra nos apresentar imprevistos é essa tal de sorte.

Posso falar de vários clichés, como: O final de semana na praia que choveu todos os dias. A roupa linda para o primeiro encontro do qual se pretendia o resto da vida e não durou uma noite, ou seja, não valeu nem o dinheiro gasto com a depilação. A viagem pra tentar reatar o casamento que terminou mesmo foi num divórcio pra nunca mais se verem… Imprevisto, minha gente, imprevistos acontecem todo santo dia.

Lembro-me de que, quando fui dar aula pela primeira vez na vida, eu passei um mês nervosa. Pensava em tudo e, claro, pensava que seria um fiasco. Um dia antes de minha estreia, papai sentiu-se mal e eu fiquei desesperadamente preocupada. Resultado, na hora de dar o meu primeiro dia de aula, minha tensão já tinha mudado de foco, já não estava mais preocupada em falhar ou não, só queria era saber se papai estava bem. Ah! E a aula foi ótima e papai passa muito bem. Um triste imprevisto, mas que mudou o rumo das coisas dentro de mim.

Imprevistos servem pra isso, para nos dar sustos, nos sacudir, repensar uma direção.

Devo confessar que gostei do imprevisto de hoje. O nervosismo inicial de estar de frente com A orientadora já deu uma diminuída ao conversar por whatsapp. Whatsapp sempre coloca a gente mais ou menos no mesmo patamar, que é como deve ser. Vi que serei entrevistada por uma pessoa normal, como eu, passível de falhas e de imprevistos. Eu estava com um medo danado de falhar em frente a ela, pensei em tudo e, bingo!, nada disso.

Estarei dentro de minha casa, sentada em minha escrivaninha, provavelmente meio nervosa, mas, dentro de mim, que sou super corretinha com horários, regras, etc, meu lado B adora essas coisas que fogem ao controle, que não dependem de mim pra dar errado, certo, sei lá. Essas coisas que vem do acaso e que, de certa forma, te colocam pra jogo, pra outro jogo e campeão é aquele que sabe dançar conforme a nova música.

Misturei os ditados que era pra ver se não ficava tão tosco. Ficou pior. Mas, fazer o que, né? Imprevistos acontecem, baby.

Sim, já passou a entrevista, no caso, foi ontem. Fiquei tensa, mas depois fui à praia, pois deu tempo de pegar um solzinho delícia.

E você, algum imprevisto por esses dias, por essa vida?

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