Medo da dor.

Quem me acompanha aqui tá sabendo que eu me operei do joelho e que eu to andando de muleta, usando meia anti-trombo e tals. Pois é, tô meio monotemática. Já deve estar até cansativo, peço um pouquinho mais de paciência, pois eu tô melhorando a olhos vistos. Eu a minha fisio e minha mãe estamos bem orgulhosas de mim.

Eu pensei que, depois de operada, eu teria um tempão pra não fazer nada e só me dedicaria a escrever, escrever coisas que viessem da alma, que falasse do coração. Quem sabe até falar de amor, coisinha que eu andei perdendo o traquejo ultimamente. É engraçado, eu até ensaio uma paixonite, fico aqui tentando fantasiar como seria se tivesse sido… mas logo depois eu me distraio e já penso em como meu joelho esta desinchado e se eu vou conseguir voltar pro Rio de Janeiro antes das aulas começarem. O que também não deixa de ser uma forma de falar de amor, não é mesmo? Aulas sobre narrativas poéticas e joelho ficando bom? Se isso não é amor, o que mais pode ser (Jota Quest feelings… ai, desculpa, gente, eu vou melhorar).

Pois é, só que eu tô sentindo dor, muita dor, tanta dor que, pela primeira vez a dor do corpo tá maior do que a da alma. Não consigo me inspirar, toda a minha energia está centrada em me motivar pra que eu aguente o tranco da próxima sessão de fisioterapia. Juro, só penso nisso. E me assusto diariamente no jornal da noite com as declarações diárias do Jair e da Damares. Haja equilíbrio. Agora, enquanto edito a crônica, penso somente no caso Marielle que, a cada vez se torna mais assustador com as notícias que se avizinham… (esta última palavra contém duplo sentido neste texto, contexto atual do Brasil e do condomínio na Barra da Tijuca).

#QuemMandouMatar #MariellePresente 

Pois bem, vocês hão de me perdoar, tenho fé. Mas trago boas novas. Dessa penitência toda que estou pagando me saiu um pensamento. Como bem me disse Xico Sá, é muito melhor a gente ter uma dor pra escrever. Então, ela acabou de acontecer, a dor. Ou a não dor, mas o medo de que doesse e a minha pré reação à dor que eu imaginei que pudesse sentir.

Vou contar. Eu tava deitada e queria colocar a perna em cima do travesseiro pra me dar um certo conforto, já que estou tendo que dormir de barriga pra cima e, pra mim, não há posição mais desconfortável para uma boa noite de sono. Tenho dormido pessimamente, mas ainda consigo manter o bom humor. Ufa!

Voltando, eu quis levantar a minha perna pra colocar em cima do travesseiro e pensei: não vou conseguir, vai doer. Daí, num lapso de auto-ajuda que, numa hora dessas, é só o que salva, eu pensei: eu vou levantar essa perna, mesmo que doa, pois pode ser que eu nem sinta nada e que eu mesma esteja me impedindo de me evoluir. Todo esse pensamento em dois segundos de coragem.
Bingo! Eureka! Não doeu nadinha.

Como a gente se prende e se perde em momentos como esse, digo, de tentativa de fuga de uma dor pra evitar um sofrimento que talvez nem venha a acontecer?

Quantas chances de viver algo incrível, como àquela viagem, ÀQUELA paixão, àquele trabalho porque, pensando que pudesse doer no futuro, nós estacionamos no presente?

Quantas crítica a gente faz a quem ousa, se joga, se expõe, se arrisca e, lá no fundo, é puro recalque nosso que não tivemos a coragem de fazer o mesmo, de nos desamarrarmos de convenções e autocríticas?

Pois sim, a única inspiração que me vem nesses dias de recuperação é essa, essa de superação.
Desculpem aí esse meu linguajar oriundo de frases de efeito. É que tem horas, que só elas mesmas dão jeito.
-força
-coragem
-desafio
-vitória

Ufa! Cansei. Já posso voltar pra melancolia com um gole de cerveja? Ali eu me divirto mais.

2 respostas

  1. Oi Lu, amei a crônica! eu e meu companheiro não perdemos uma de modo que já nos referimos carinhosamente a você como “a paris” haha. Melhoras!

    1. Olá Maíra! Que palavras mais carinhosas. Muito obrigada, fico muito feliz com comentários assim. Adorei ser “a paris” :). Um abraço carinhosos para vocês.
      Lu

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.