Ninguém resiste ao afeto

Ninguém resiste ao afeto.

Essa frase não é minha, é de uma amiga retratando o assalto que ela QUASE sofreu. Vamos à cena e tente perceber o lance do QUASE:

O cara vem pedir dinheiro e ela, sem nem perceber que era um assalto, dá 2 Reais e começa a conversar com ele, perguntar coisas de uma maneira simpática e, principalmente, empática, que é o que anda faltando nos dias de hoje.

Se você não sabe o que significa “empatia”, recorra ao Aurélio ou ao Google e veja se você se identifica. Se não, repense seus atos. Mas vamos seguir.

O tal possível assaltante, desconsertado depois de receber atenção – veja bem, atenção é tudo àquilo que se fala, mas o que menos se vê. O que mais se vê é gente falando que é uma tristeza a miséria e a condição em que vive a maioria das crianças no Brasil, no entanto, dar a devida atenção a crianças no sinal, isso não, pelo amor de Deus, um bando de trombadinha.

Se você se identificou, volte duas casas, leia sobre “empatia” e repense suas atitudes. Mas voltando ao caso da minha amiga.O cara, tocado com o afeto, disse que tinha se confundido e saiu de lá. Pois é isso, nem preciso falar mais nada, mas vou.

É tão simples, mas a gente foge tanto do afeto.

Sentimos muito, porém fazemos pouco, falamos pouco, fingimos que não é com a gente, desdenhamos, criticamos, nos desfazemos. Mas fato é que faz uma falta danada viver sem ele, o afeto.

Você já teve a experiência de sair de casa pra morar fora do país? Ou mesmo experimentou uma viagem solo? Isso sem falar na solidão de um rompimento, na perda de um ente querido, porque eu não quero te fazer chorar. Se disse sim para alguma das perguntas, você sabe do que eu tô falando.

É daquela falta de um abraço, de um afago, de uma voz conhecida, de uma palavra amiga que te diga que tudo vai ficar bem.

É daquela sensação de que você importa pra alguém e por isso importa pro mundo, que a sua presença não é desprezível e que você faz falta, é lembrada. Lembra daquela festinha da “Bia” do colégio que você foi a única que não foi convidada? Lembra da sensação, né? Dói. Lembra quando, naquela viagem que foi a galera toda, te deixaram dormindo e todo mundo foi tomar banho de rio? Doeu, né?

Pois é, isso é falta de afeto.

Mas quando ele se manifesta, quando ele vem de quem você menos espera, ou de quem você adoraria que se manifestasse e finalmente o infeliz se tocou e te ligou. Ou mesmo quando francês, quem você nunca viu na vida, mas te ajudou com o mapa em Paris e ainda te convidou pra um café. Isso é afeto na veia.

ninguém resite ao afeto. Ele desarma as pessoas, literalmente e emocionalmente. A guarda baixa, a gente amansa a voz, olha doce, sorri de lado. O afeto nos dá segurança, nos torna pessoas melhores, nos faz desejar o bem, querer o bem do outro, querer devolver o que recebemos. O afeto desperta carinho, gentileza, amor, amizade e até tesão.

Cheios de afeto a gente briga menos, fica mais tolerante e menos briga e mais tolerância dá em que? Acredite, num mundo melhor.

Eu dei pra falar com morador de rua. Agora, toda vez que eles me pedem algo e eu dou, eu desfio o meu rosário:

– Por que é que tu tá aqui, hein?

Eles me olham meio sem graça e abrem um sorriso. Eu continuo.

– Por que é que tu tá na rua, num tá em casa, num tá trabalhando, ou num tá estudando? Teu lugar num é aqui não.

E sigo.

Meu amigo (minha amiga), sai dessa. Essa vida não vai te levar muito longe não. Muda isso…

E por aí vai.

Hoje um cara da rua me desejou tantas coisas boas depois da minha ladainha que quem saiu de lá feliz fui eu.

Porque o afeto costuma ter disso, você dá e ele te retorna. Incrível, não? E, pasme, é de graça.

Bom, assim dá até pra entender porque ninguém resiste ao afeto.

Ele é irresistível mesmo.

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