A gente sofre, mas não perde o bom humor

Pecado Original.

Por falar em pecado, já me adianto: meninxs que qualquer religião que leem o Paris, não é nada pessoal contra a religião de ninguém, juro. Não é uma crítica, quer dizer, até é, mas não à sua fé.

Não sei se é de Deus, ou do “cramunhão”, ou do cosmos, ou do azar, sei lá, mas eu nasci com o Pecado Original.

Sei, você deve de estar pensando “Ah! mas todo mundo nasce, só se cura quando batiza”, ou então, deve estar pensando num outro formato que a sua religião acredite como maneira de se livrar dessa pecha maldita que a gene adquire só por existir. Como se já nascesse pagando pedágio pela estrada afora que vai seguir dali em diante.

Não, eu não tô falando de crendice, de fé e dessas coisas que a gente aceita sem perguntar de onde vem, como chega, por que se vai… Enfim, cega.

Meu Pecado Original é real, ou melhor, era, até semana passada, e só curou pelas mãos da ciência, numa mesa de cirurgia, creia. E eu estou até agora pagando penitência num pós-operatório que me arranca suor e lágrimas de tanta dor. Tô carregando a cruz, tô comendo àquele pão pisoteado, mas sigo ressucitando.

Minha fala tá igual a de padre em casamento, fala, fala e não consegue passar uma mensagem que se aproveite… Também, o coitado não tem vivência na causa, e falar de casamento na teoria, meu bem, é mamão com açúcar, como diria meu ex-marido.

Pois me explico. Eu nasci com uma Plica Sinovial. Sim, você nunca ouviu falar disso na sua vida. Ninguém ensinou isso nas aulas de ciência do colégio, muito menos era assunto em casa, nem quando a sua avó reclamava de dor no joelho. Certamente as palavras artrose e menisco você já ouvira falar, mas essa tal da Plica… – Plica o que??? Sinovial, Plica Sinovial, Dessa nunca. 

Explico, e é nela, na Plica Sinovial, que nasce o meu Pecado Original. Pois bem, Plica Sinovial é algo que se tem no joelho quando ainda somos um feto, quando a gente nasce, ela é absorvida. Pois é, só que a minha não foi. Nasci com essa bombinha relógio do cão – nadinha de grave, mas bem incômoda – e ela não saiu de mim.

A danada começou a me atormentar lá pelos idos de 2004, de quando consta meu primeiro exame. De lá pra cá posso contar mais de dez médicos, algumas ressonâncias, inúmeros raios X e ninguém conseguia nem diagnosticar o que me doía o joelho, tamanha a demonidade da Plica. Feito maldição, com o passar dos anos e aumento considerável das minhas infrações bíblicas e consequente aumento dos meus Pecados Capitais, municipais e federais, ela ia me atrapalhando, cada vez mais, os movimentos, me impedindo de usar meu corpo livremente. 

Com o corpo travado, a mente travava também, tinha medo de se jogar e doer. Por fim, eu já não corria, não pulava, não caminhava à beira mar, não gingava a saia, não dormia nua… Pobre de mim. Ops!, desculpe, descambei no final para música de Chico Buarque, justo ele, o maior anti-cristo dos últimos tempos… Era verdade até a parte do “não caminhava à beira mar”. 

Fui me acostumando e me acomodando àquela realidade limitada. Feito mulher que se curva à ira de marido por medo, paixão, hábito. Feito empregados que aturam a soberba de patrão para não ficarem desempregados, ainda que, por avareza dos “de cima”, ganhem uma ninharia. Fiquei casta, no carnaval, já mal dançava, só caminhava pra não ter problema de travar no meio da avenida. Parecia preguiça, mas era prudência e receio. Essa luxúria toda de folia, me perdia. 

Só que eu sou gulosa, principalmente de poder ir e vir, de cruzar fronteiras e conhecer lugares, sentia até uma inveja “do bem” de poder me balançar como as outras. Então eu busquei e encontrei Jesus. Quer dizer, o Dr. Jonas que me operou e me libertou do meu Pecado Original. 

Em nome do pai, ele tirou de mim essa Plica Sinovial. Agora tô batizada, benta abençoada… Melhor ainda, estou L I V R E.

Grazadeus!

Gente linda, se vocês quiserem comprar o livro do Paris Só de Ida, eu envio para o Brasil inteiro. Basta me mandar um direct aqui @parissodeida.

Sob a benção dos meus pais, vamos de carnaval. Partners in crime.

2 respostas

  1. Todo o mundo carrega suas Plicas. As vezes, conseguimos extraí-las; outras vezes, não. E seguimos. Importante é não desistirmos de acreditar que conseguiremos aproveitar o carnaval que é a vida. Boa recuperação

    1. É isso, Airton! Adorei as metáforas. A vida é muito mais carnaval do que plica. Vamos sambando em frente. Bjs

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.