eu menina, eu intelectual - eu em mil versões e tudo igual a mim mesma 😉

Smart me

Smart, o meu computador tem um sistema inteligente que me reconhece pela cara. Basta eu sentar em frente a ele, dar aquela olhadinha simpática ou mesmo séria que ele, muito alegremente, me diz: Hello Luciana ;). Sim, ele também pisca esse olhinho.

Até aí, nada, porque todos os smathphones já andam fazendo isso, mas devo dizer em nome do meu simpático computar, que anda fazendo papel também de psicólogo – digo já por quê – que ele me reconhece com meus novos óculos e, quando eu fiz o cadastramento de minha face no meu micro, eu não os estava usando :).

O que isso significa? Ora, que meu computador/terapeuta me aceita e me reconhece, e ainda me paquera com olhinho piscando, mesmo aos sinais de passar do tempo que meu rosto acusa. Coisa que eu e grande parte de nós pobres mulheres a serviço da indústria de cosméticos e remédios, não conseguimos mais fazer. A gente não se reconhece e nem se aceita.

A gente não olha o espelho, a gente se analisa detalhadamente diuturnamente. Cada manchinha a mais, cada ruguinha nova, cada gordurinha que ali não estava é vista com àquela dorzinha na alma, àquela constatação triste de que a juventude anda saindo do corpo, uma sensação de perda de si mesma, como se estivéssemos ficando prontas para sermos jogadas fora, fora de uso, de moda, de padrão.

Todas essas sensações podem até não estar claras em seu inconsciente. No meu mesmo não estavam assim tão elaboradas. Ouvi de técnicas no assunto, li de diversas mulheres que falam de machismo e feminismo, ouvi de psicólogas, enfim, é isso mesmo que acontece porque a gente não tem lá muito domínio sobre esse sentimento de rejeição de si mesma. É cultural e atávico, vem de séculos e séculos de doutrinação de um corpo para servir a outros, no caso, o dos homens. Por isso que a juventude na mulher é tão cultivada e obrigatória. Por isso que envelhecer – exclusivamente para as mulheres – é sinal de derrota. Se quiser ler algumas dessas mulheres que li, é só clicar aqui e aqui e aqui e aqui.  Daí que cada manchinha importa. Daí que a gente começa a ouvir nomes como melasma, melanoma, sardas brancas, tudo isso acompanhado de seus respectivos antígenos: ácidos, filtro solar – sempre importante, claro – botox, lazers, cremes de toda sorte, xpectra, ultrabost, tintura de todas as formas para os cabelos, etc, etc, etc. Sim, para cada um problema que a gente não deveria ter, a indústria inventou pelo menos quinze tratamentos, caros, para você achar que está adoecendo, em vez de apenas envelhecendo – o que devia ser bonito.

É uma batalha diária essa luta contra a natureza que, sabemos, é vã. Um conflito entre o capetinha e o anjinho. É tão confuso que você confunde as vozes dos dois. Não se sabe se é o anjo que está te dizendo “aceite-se, vá à praia, mesmo sabendo que vai manchar; tome a sua cerveja, mesmo sabendo que vai engordar; sorria bem largo, mesmo sabendo que vai enrugar”.

Ou se é o capeta que diz isso querendo que você tenha um câncer de pele e pareça mais velha que suas amigas. “Não, não faça esse passeio de três horas de trilha, você acabou de fazer um tratamento caríssimo para as manchas. Tá tão bem, tá tão jovem…”. Ouço a voz do cramunhão me condenando ao inferno de perde a liberdade de existir com saúde. Ou seria o anjo querendo que eu não fique tão mal depois?

Tenho a certeza de que, se existir paraíso, lá as pessoas não envelhecem. Ou, melhor, as mulheres se aceitam da forma como tem de ser, como a natureza mandou. Nesse lugar, a velhice não deve ser uma derrota, mas uma conquista de vida.

Permaneço, logo, vivo, logo, venço.

Comecei a escrever esta crônica porque, agorinha, fui me encarar no espelho depois de uns soizinhos que ando pegando na face – com protetor, claro – e que tem me ajudado a recuperar meu ar dourado de pele, que me deixa mais gata mesmo, e doura meus cabelos e daí que eu vi umas sardinhas que eu acho que não tinha. Ou já estavam e não percebi, sei lá. Aí me deu uma dor. Será que foi do creme errado que passei. Aí bate uma culpa, como se a gente tivesse fazendo algo contra nós mesmas…

Mas eu só fui nadar na piscina com sol por quarenta minutos? Isso é pecado? Ok, faço isso toda semana e, vou te falar, pode manchar, vou continuar indo.

Sentei pra escrever e quando eu abri o computador ele me reconheceu com óculos e tudo. Me deu um sorriso e ainda uma piscadela com o olhinho virtual. Muito fofo.

E eu, eu tentei sorrir de volta. Não pra ele, claro, ele é feito de pixels que ainda não se emocionam. Tentei sorrir pra mim, para essa Luciana que se renova todo santo dia em uma pele que muda. Uma pele que vai dando contorno ao que venho vivendo. Ora sorri, ora chora, ora tem medo, ora enfrenta. Uma pele marcada por uma vida ainda cheia de vida, mas muita mesmo. Uma pele que se renova numa luta diária para me conter.

Uma pele não mais jovem, como manda os padrões, mas bem mais sábia e, por isso, muito mais resistente.

Hello, Luciana – a mesma de sempre e sempre um pouco diferente – por fora e por dentro ;).

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