Crônica de um amor denunciado

Otto era seu nome. O nome de quem nunca soube doar-se por inteiro. Otto, desde menino, percebeu que sair era bem melhor do que ficar. Fugir era melhor do que esperar. Esperar, esse estado quase que “quo” de quem deseja ir mais longe. Otto foi morar só desde bem cedo. Em vez de carros, o garoto de 18 anos preferiu viajar. Foi pra não voltar. O amor da família lhe doía, pois todo o amor vem com dor, até rimam as palavras, mas só quem espera a tempestade passar é que vê o jardim florir quando o sol nasce na manhã seguinte. Otto não conseguia! Fez do “ir” a sua condição de vida, como se a rotina perto dos seus lhe sufocasse a ponto de miná-lo. Otto fugia como quem foge da morte. Ele saía, pois pensava estar bem longe de si o que mais lhe faria feliz. Tolo, o Otto. Movido a paixões, relacionou-se com mil mulheres, com mais de uma ao mesmo tempo, um casamento a três seria o prato cheio para o amor zero. No fundo Otto sabia disso e por este motivo embarcou na história. Esta, é claro, naufragou. Foram muitas as relações, duraram meses, anos, muitos anos, mas nunca o tempo suficiente para a paixão tornar-se amor. Nesta hora Otto saía correndo para bem longe, acabava com tudo, pois o amor o aprisionaria. Um romântico medroso, este era Otto. Um cara que fugia de si mesmo. Um medo enorme de que seu sentimento mais puro pudesse ser transbordado e derramado em outrem. O que este outro alguém faria de Otto tendo a posse do que de mais dele ele tinha, o AMOR? O amor de Otto era dele mesmo. Difícil para ele doar-se, pois seu medo não permitia perceber que dar amor é multiplicá-lo, dividir rotina é somar esforços para um objetivo comum. Otto viveu a vida assim, dando uma amostra para muitas do que ele seria se de uma só fosse. Olhares fulminantes, amor de soslaio, um tiquinho dele capaz de fazer qualquer uma ficar. E Otto seguia sozinho, angustiado e buscando seu caminho, talvez o de volta para dentro de si para encontrar a metade sua que prendeu-se ou perdeu-se no jogo da vida, que é, meu caro Otto, o de amar profundamente.