Luid é uma mulher sozinha. Não tem pai, nem tem mãe, as irmãs a abandonaram e só a procuram para pedir favores. Luid não tem amigas. Não fez colegas de faculdade, nem na escola. Não sai para tomar chopp, não almoça fora com alguém. Casou-se, certa vez, mas o marido batia em Luid e ela o deixou. Nunca mais amou de novo. Nem sei se sente falta. Luid é tão só que trabalha de graça, por vezes, como massagista. As pessoas se aproveitam de sua ingenuidade ou de sua solidão, sei lá. Seus alunos de um cursinho que dá de vez em quando são todos oportunistas e seus patrões, mal pagadores. Sua maior companheira, que vem todo mês, é sua cólica menstrual. Luid adora uma dor e fala dela com detalhes com quem tem tempo, mas nunca paciência, para ouvi-la: seus clientes. Deve ser o momento em que se sente acolhida, cuidada por ela mesma de si ou por médicos. Luid vive em médicos. Luid fala de suas mazelas como de um ente querido. Detalha-a, cuida, repousa, curte como quem embala o sono de uma criança ao nascer. A dor vira uma pessoa para a moça e por aqueles instantes será quem a fará companhia em sua solidão. Certa vez operou-se e teve de ficar mais tempo no hospital, pois não havia vivalma que pudesse assinar a autorização de responsável por acompanhá-la até em casa. Ela foi de taxi mesmo, após uma longa conversa com o médico de que ninguém iria aparecer. Luid não tinha com quem contar. Fora a vida muito severa com Luid ou foi a mesma quem exigiu demais da primeira? Será que todos que cruzaram seu caminho não foram capazes de lhe dar amor, ou fora Luid quem não soube recebê-los? Vai saber.

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