A criança que habita em mim

A criança que habita em mim

 

 

Tenho certeza absoluta de que, por baixo dessa carcaça de 1,68 metros, ainda mora essa criança da foto. Ela nem faz questão de disfarçar, muito menos de se esconder. Ela conversa comigo o tempo todo, o dia todo. Com ela, negocio os medos, as raivas, as birras, choro… Numa tentativa vã de argumentar com essa fofura da foto que nós não podemos mais correr pros colos que nos livravam de todo o mal, num discurso super adulto que travo com ela todo santo dia, ela simplesmente me olha com essa carinha linda e toma conta de mim por completo. 

Sou ingênua, demoro demais a captar a maldade e crio fantasmas, todos da minha cabeça, já até os conhecemos, mas nunca nos acostumamos com eles. Tento silenciá-las, mas ela aumenta os decibéis.

Tento falar pra ela que podemos correr o mundo sem medo, que somos donas do nosso nariz, que precisamos ser mais fortes e não deixar com que o mundo nos atravesse feito flecha. Ela me olha com essa carinha e me diz: é isso que é o bom, Lu, é isso que você não pode perder. Não o medo, esse pode, mas os atravessamentos.

Ela busca alegria nas mínimas coisas, não resiste a um banho de mar e aprendeu a gostar de ler. “Vezenquando” acha graça da literatura dos adultos, vez por outra se emociona igual criança. Romântica, não sei se ela ou eu, choramos com beijos de novela das sete e, por mais que eu diga que essa coisa de princesa é invenção, a danadinha é doida num príncipe. Sim, eu a ensinei que precisamos nos amarmos e nos cuidarmos bem mais e, mesmo chorando com as decisões difíceis, ela já entende que precisamos perder aqui pra ganhar ali. 

Assim como eu, ela é louca pelo Rio e por Jeri e sei que gosta do meu jeito destemido em evolução que conquistei me apropriado da sua espontaneidade e deixando de lado o seu medo da vida. Todo dia eu digo pra ela que o mundo, apesar de parecer o contrário, é muito mais bonito do que perigoso. 

 

E assim seguimos, essa criança que me habita, me instiga, me perturba, me irrita, que me ama, que eu a amo e que, cada dia mais, a gente se encontra em uma só pessoa, a gente se perdoa e se acolhe e uma não deixa a outra morrer… até o fim.

Feliz dia da criança que habita na gente.

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