(ANTES DO TÍTULO pausa: Ufa, vamos descomprimir um pouco? Sair do macro para entrarmos no nosso micromundo?)
Hoje, estou com 42 anos. Cronologicamente falando é isso.
Também corroboram para confirmar a perda de colágeno, uns cabelos brancos e o nervosismo do check-up que faço todos os anos e, de uns anos pra cá, insiste em me trazer surpresas tão desagradáveis quanto assustadoras (pausa: uso um pouco do humor para falar dos sentimentos inquietantes quando se envelhece).
“Coisas da idade”, tento me conformar ao mesmo tempo em que sinto raiva por não poder segurar o tempo e seus cruéis efeitos com as mãos.
Assumo e me orgulho que, portanto, tenho os tais 42 anos em idade do calendário, mas quanto à idade emocional, tadinha… Ela se perde entre os anos 80 e os vinte e poucos ou mesmo os oito aninhos várias vezes ao dia (pausa: vocês sentem isso? Essa oscilação de sensações que parecem visitar nós em várias fases da vida?).
Por vezes, me vejo acometida por sensações tão primitivas que, nessa hora, se eu me olhar demoradamente no espelho, estarei lá: gordinha, de covinhas, cabelos pretos e fartos com os meus 8 anos de idade e morta de medo (pausa: eu era assim, coisa mais linda! Mas cheia de medos).
Medo de quê? Você me pergunta.
Medo de doenças contagiosas, medo de fogos de artifício, medo de tarados, medo de doenças graves… Nem sei ao certo se aos 8 anos eu sentia todos esses medos, mas eles me arrebatam de um jeito que me deixam com a sensação de estar desprotegida, a mesma que eu sentia quando tinha medo lá atrás.
Contudo, a mulher de hoje consegue perceber o quanto aquela criança insegura conseguiu ir vencendo, um a um, esses medos, esses fantasmas… Ainda que eles insistam me rondar (pausa: impressionante como a gente não se livra completamente desses traumas. Valei-me, Freud!).
Tem hora em que, quando percebo, estou com uns vinte e poucos, numa “aborrecência” tardia, meio com raiva, meio com abuso (pausa: abuso, no Ceará quer dizer ranço) de coisas que só passam na minha cabeça ou com o as quais preciso lidar, mas, no fundo, preferiria que o mundo rodasse sem que eu precisasse explicar como ele deveria ser… (pausa: quem nunca?)
Tem momentos em que eu queria voltar algumas casas nesse tabuleiro da vida, eternizar momentos… Principalmente aqueles nos quais eu me sentia tão dona de mim que pareceu-me ter uns 60 anos. Pesquisas mostram que, depois de passados os anos dos 30, dos 40, dos 50, a gente volta a ser feliz igual criança. Vai ver que aos 80 estarei bombando (pausa: falar do U).
Mas aí, contra essa balbúrdia no tempo difuso de minh´alma vem a mulher de hoje, a que tem 42. A que entendeu finalmente que ela vai precisar acarinhar a criança traumatizada, vai ter que dar uns bofetes na aborrecente tardia, vai olhar para a de 30 achar graça da eu que considerava estar pronta e viu, uns dez anos depois, que ainda não sabia de muita coisa e que foi – e é – uma delícia descobrir.
A eu de 42 anos, vivida e analisada (pausa: obrigada Freud! Eu também sou grata a ele, como Maria Ribeiro que lemos), é que vai puxar o bonde até a de 43, enquanto eu sigo viagem buscando equilibrar-me neste tempo-vida que insiste em não passar dentro de mim. FIM
“Cronicar, como sabemos, é também se escrever por dentro, mas de uma forma que nosso texto possa alcançar outras pessoas por dentro, outras almas”