Procrastinação. Eu tenho um short que comprei em Londres em 2013. Me lembro como se fosse hoje, foi na Zara. Ou foi na Forever 21? Ai, agora não me lembro onde era aquele provador no qual eu sorria pro espelho de tão feliz que eu tava. Eu estava feliz naquela viagem.

Eu tinha viajado sozinha pra Londres e me sentia superforte, enquanto meu ex marido fazia um curso numa cidade perto de Roma. A gente ia se encontrar dali a quatro dias em Bodeaux. Nossa! Escrevendo agora aquilo tudo parecia tão incrível – e era – mas eu acho que eu nem conseguia dimensionar o quão incrível era aquilo tudo na época. A gente sempre tem uma dorzinha que estraga as coisas, né? Mas eu me lembro de que estava bem feliz.

Mas esse não é o tema não. O tema mesmo é o short que eu comprei e tô usando ele agora. Na época, era moda – moda que nunca gostei, diga-se de passagem – de os bolsos do short serem maiores do que o comprimento dele e aquilo aparecia. Lembra? Pois é, meu short é assim, ou melhor, era assim, até semana passada. Sim, somente na semana passada eu, finalmente, pedi pra mamãe costurar os bolsos, dar um pontinho, porque eu e o meu pai odiávamos àquilo sobrando.

Passei 5 anos odiando uma coisa e convivendo com ela diariamente. Pera, menos, convivendo toda vez que eu olhava pra ele, sei lá, umas dez vezes por mês. Tipo isso. Cinco anos, dez vezes por mês me incomodando com algo facílimo de resolver e eu não resolvia. Por que? Por preguiça, procrastinação e todos esses pecados capitais aos quais a gente se entrega e é absorvida como filme de pântano com areia movediça. A gente vai se enfiando e, depois, nem sabe como foi parar ali e, muito menos, como sair.

Ou melhor, a gente  sabe, a gente sempre sabe como se meteu naquilo, bem como, sabe, sim, como resolver. Algumas coisas envolvem um esforço maior, certo sofrimento, algumas perdas para ganhar à frente, resignação. Sabe que, para emagrecer, vai ter de parar de comer doce todo dia e largar àquela carbonara de toda noite. Pra viajar, vai ter de juntar dinheiro e deixar de comprar àqueles 3 pares de sapatos por mês que é pra sobrar algum no final. Para ter sucesso no trabalho, vai ter de sacrificar encontros, virar noites, enfrentar pessoas e vai ter de se desafiar – ou o cliché “sair da zona de conforto” – se quiser ser alguém na vida.

Só que a gente vai, vai embromando a reforma, o conserto da janela que há meses está com o vidro rachado, vai deixando para depois àquela ideia que tinha tudo pra dar certo de largar o escritório com gravata e virar chef de cozinha com avental e tudo. Àquela viagem solo de morar um mês em  NY estudando inglês. Vai botando a culpa na falta de tempo, no marido, nos filhos, no trabalho, na idade, na fase da vida, na doença do cachorro e vai protelando.

Eu nunca tenho paciência pra me arrumar para as fotos. Pés descalços, cabelos presos do jeito que fico em casa. Só mudei a blusa porque a minha tava o ó.

 

Quando você vê, a vida passou, a juventude se foi, os 30 anos também, já tá quase nos cinquenta e o tal casamento falido continua ali, só em banho maria, vivendo de lembranças e migalhas, mantido por hábitos e se alimentando de raiva e mágoa. Quando você vê, você nem mais se vê, você nem mais se é.

Mas se você olhar bem, vai ver que ainda é tempo pra tudo, mesmo que se tenha perdido o maior tempão antes. É sempre tempo do novo, de tudo de novo, ou de coisas novas, que é melhor ainda.

Sempre dá pra consertar o bolso do short ruim e renová-lo. O meu, ficou lindo. Parece até que o comprei ontem na Zara de Londres. Ou foi na Forever 21? Ah! Não me lembro, mas a nossa história vai começar toda de novo.

Muito prazer, short sem bolso cafona, sou a Luciana que resolveu parar de procrastinar.

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E se você perdeu a da semana passada, tá aqui, ó.

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