Querido blog Paris Só de Ida, me desculpa!
Hoje mesmo falei de você, contei do seu surgimento, de quando, resolvendo uma viagem que não se definia, liguei para a Latam a fim de garantir pelo menos a ida.
-Moça, eu quero passagens para Paris, só a ida.
-Paris só de ida?
-Isso mesmo, PARIS SÓ DE IDA
Lembro-me da sensação deliciosa que me deu eu saber que eu iria para Paris e sem data pra voltar. Naquela época, eu era em mim um turbilhão de confusões e tinha sede de mundo, então, ir para Paris só de ida era um convite ao viver, à vida!
Desliguei o telefone e criei você. O ano era 2013… já se vão dez anos.
De lá pra cá, meu blog amado, você foi meu aliado, meu suporte, meu terapeuta que me ajudava a organizar os pensamentos enquanto as ideias se confundiam se revoltavam dentro de mim.
Falei pra ti de amor, de ódio, de política, falei com raiva. Falamos sobre o cotidiano e criamos poesia até no dia a dia de um colocador de pedras portuguesas. De lá pra cá foram idas e vindas ao mundo, mas principalmente ao Rio de Janeiro… Sim, eu sei que você gosta quando eu trago o Rio aqui, você é como eu, e aquela cidade louca e linda inspira demais a gente.
De lá pra cá, eu mudei de emprego e de carreira. Através de você eu virei escritora e por causa de você eu fui estudar literatura. Amigo, tô quase terminando o meu doutorado e já estou contratada para dar aula. Toca aqui, parceiro! Foi fácil, não, a gente sabe, mas foi a melhor escolha que eu já fiz na vida.
De lá pra cá, eu me separei… mas não fique triste, meu blog, porque eu já estou amando de novo um cara que ama literatura. Aliás, foi ele quem criou a sua nova marca. Lindona, né?
De lá pra cá eu virei tia do Nelsinho. Falei dele aqui algumas vezes. Acredita que ele já tem sete anos? É a coisa mais bonita que a tia Lu tem na vida. Nunca pensei que ser tia pudesse despertar um amor tão bonito, tão paciente, tão gratuito.
De lá pra cá a gente já morou no Rio de Janeiro e em Fortaleza, viajamos tanto, eu e você, que nem sei em quantas cafeterias eu me sentei pra escrever em ti sobre o que me impactava nessa vida boa, mas cheia de percalços e surpresas…
Sim, de lá pra cá também teve a desgraça terrestre chamada Covid-19 e ela me derrubou emocionalmente num grau que até depressão eu tive, acredita? Nunca tinha tido nada nem parecido, mas o isolamento e a irresponsabilidade do Bolsonaro me adoeceram… Sim, amigo blog, eu já estou bem melhor.
De lá pra cá pessoas amadas adoeceram gravemente e isso mata a gente um pouco também. Mas a Leca está ótima, você precisa ver como a “bicha réa” é forte. Curou-se lindamente, levando a família inteira assustada nas costas.
De lá pra cá a vida social bagunçou tanto e é aqui que começa o meu pedido de desculpas. Estive completamente ausente em 2023. Escrevi pouquíssimo, mas tive motivos. Mesmo sabendo que isso não é desculpa, mas vou me explicar.
Blog, eu estou escrevendo uma tese e isso me toma quase todo o tempo que fico aqui neste computador. Aliás, eu deveria estar escrevendo-a agora, e não aqui… Mas me deu uma saudade de ti.
O segundo motivo é mais grave. Amigo, eu fui atacada. Fui muito bombardeada de ódio por ter votado no Lula e por, ainda bem, ele ter ganho. Sim, meu amigo, nós nos livramos do “coisa ruim”, daquele cara que odeia a literatura, a arte e a cultura, tudo o que a gente gosta. Eu ajudei a derrotá-lo, mas saí bem machucada. Feridas que doem até hoje.
Acho que endureci, foi isso. Escrever me obrigada a sentir e penso que, numa tentativa de me blindar da dor que sentia, eu tentei parar de sentir. Mas, eu não perdi a ternura. Jamais perderei. Sou filha de Vânia e Alberto, está no meu DNA.
Pois é movida à minha essência e à muita análise, claro, que eu estou aqui nesta tentativa de reparo e para dizer que nunca vou te esquecer. Porque te esquecer é como me perder de mim um pouco. Escrever me alimenta e me inscreve no mundo.
Vim aqui nesse final de 2023 para dizer algo que não digo há alguns anos: QUE ANO BOM! Com dificuldades, mas com conquistas, com curas, com amor, muito amor em suas diversas formas.
Pois é isso. Não sei como acabar esse texto… Acho que não quero que ele se acabe, porque quero voltar aqui mil vezes, pra falar de mil coisas e você me ajudar a organizar os pensamentos crônicos que saem em crônica de mim.
Valeu por esses dez anos!