Hoje eu não queria precisar – uma fala pelas mulheres

hoje eu queria não precisar

Hoje eu queria não precisar:

Não precisar ser forte pra aguentar a casa, a comida e a roupa lavada.

Não precisar carregar o peso das compras do supermercado porque detesto fazer força que não seja na academia.

Não precisar fazer conta e nem saber se elas vão fechar no final do mês.

Não precisar me preocupar com a unha descascada que eu não fiz e com a depilação por fazer. Mas hoje eu queria fazer as unhas e depilação e pensar no jantar delicioso que fariam pra mim, regado à vinho, lógico.

Não me preocupar com o meu corpo. Igual aos homens que tomam cerveja sem contar quantas latas, muito menos as calorias. Não queria me perguntar se os fios estão ficando brancos, ou se aquele excesso de sofrimento marcou a minha testa em rugas. Não queria me preocupar em fazer exercícios e nem em ficar mais jovem.

Não queria precisar me preocupar se eu quero ou não ter filhos e com o prazo de validade do meu corpo. Não queria precisar de mamografias e ultrassonografias invasivas.

Não queria precisar me preocupar se eu tenho modos, se falo palavrões, se roupa tal me cai bem, ou se fico melhor com o cabelo longo. Se eu quiser, eu raspo.

Hoje eu só queria ser do meu jeito, um jeito que eu nem sei ao certo o que é. Eu mudo. Não queria precisar me preocupar se a criança comeu, tomou banho, ou chegou na hora da aula on-line. Hoje eu não queria sentir culpa.

Hoje eu queria ir à praia com um livro que eu escolhesse. Hoje eu queria não precisar me informar, nem aprender nada.

Hoje eu queria não precisar da vacina pra poder me sentar num café, ler um bom livro e escrever sobre tudo. Comer tapioca e um pedaço de bolo de chocolate transbordando de brigadeiro sem me preocupar com o manequim 38 que me aguarda no armário.

Hoje eu queria beijar quem eu quero beijar, ser amada por quem eu quero amar sem precisar fingir.

Não queria precisar pensar se na minha idade eu já deveria estar bem mais sucedida e reconhecida.

Hoje eu queria não precisar ter medo. Medo de meu corpo ser um objeto no meio da rua e qualquer um se achar no direito de passar a mão. Queria que nenhuma mulher não precisasse ter medo de homem algum. Não queria precisar ter medo de um elogio, de um “fiu fiu”.

Hoje eu queria ganhar flores, ganhar uma joia, ganhar um vestido lindo e ser convidada pra sair. Mas eu também queria ficar em casa, sozinha, com a minha calcinha frouxa embaixo de uma roupa confortável assistindo novelas.

Hoje, no dia da Mulher, eu queria poder ser… mulher. Eu e as outras mulheres, queria que pudéssemos ter nos tornado as mulheres que queríamos ser. Queria não precisar ter ideias fixas sobre o que eu devo ser como mulher. Queria que todas as mulheres se inebriassem de Simone de Brauvoir.

Hoje, no dia da mulher, eu queria não precisar… Ah! Hoje é meu dia, me deixa!

Você também pode gostar

ainda estamos aqui
ainda estou aqui
Luciana Targino

Ainda estamos aqui

… Lembro-me de que quando li o livro, tive a sensação de estar lendo algo sobre meu passado, sobre uma história muito difícil, sofrida, mas passada…

Leia Mais »

Deixe aqui o seu comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *