Bolsonaro, Feminismos e outros assuntos crônicos

Bolsonaro, feminismo e outros assuntos crônicos

Faz é dias que eu venho dando desculpas aqui por não publicar mais a crônica na quarta-feira.

Não sei o que me anda acontecendo, fato é que chega a terça à noite, passa a quarta toda e neca de eu publicar meu compromisso semanal com vocês.

Desculpas eu nem dou mais. É incompetência mesmo. Lembro de um chefe que tive, ele já iniciava a conversa assim: tirando a chuva, o vento, o sol, o tempo, porque é que os nossos indicadores pioraram?

Sim, a culpa era do mau tempo, mas isso não era desculpa.

Igual a mim. A culpa é do Bolsonaro! Sem dúvida é, tudo de ruim que nos acontece eu já acho que tem o dedo dele, ou a energia ruim dele, enfim, ele é o culpado mor. Mas não escrever por causa dele não é desculpa, afinal, ele me dá, semanalmente, vários motivos para falar (mal) dele. Nessa semana mesmo, na entrevista mal conduzida por Bonner e Renata, da qual Jair fugiu das perguntas se fazendo de doido, respondendo só o que quis.

Exemplo: sobre as vacinas. Ao ser indagado por que não comprou logo e por que falou mal delas, respondeu: nós compramos não sei quantos milhões de doses de vacina. Os EUA começaram a vacinar em dezembro e nós em janeiro…

Enfim, foi se esquivando pra melhor passar. Bolsonaro me faz tão mal que, juro, tomei um remédio pra enjoo a fim de aguentar a entrevista. Tinha acabado de jantar e só de olhar pra cara do meliante, me fez mal. Tomei e encarei, porque, né?, é preciso.

Mas a desculpa não é só porque acontecem coisas ruins. Eu ando tão imersa na minha tese, com tantas dúvidas ainda sobre que caminho dar pra ela, que eu passo o dia lendo, escrevendo e, quando paro, não quero mais saber de tela, a cabeça dói, a vista cansa – agora a culpa é dos meus amados 40 anos.

Daí eu não escrevo, mas fico me culpando porque compromisso que a gente assume, nem que seja com a gente mesma, se a gente não cumpre, aquilo fica ali martelando, uma voz chatinha toda hora te dizendo que você devia estar fazendo outra coisa, principalmente na hora que você se deita pra dormir, aí é que a voz fala alto mesmo.

Eu acho que eu tô é com falta de assunto. Não, assunto não me falta, o que eu tô é sem vontade de falar sobre qualquer assunto. Me aprofundar, questionar, relativizar pendências as quais não posso resolver por completo, isso tem me deixado meio cansada, meio sem saco.

Mas eis que ontem, na contramão do que eu disse no parágrafo anterior, comecei um curso sobre Feminismos chamado “Insubmissas” (aqui está o link pra você se informar e fazer o próximo), com a professora Juliana Diniz. Um curso on-line, e eu havia me dito que nem que o papa quisesse falar comigo por Zoom, eu toparia mais. Traumatizei de aula on-line.

Mordi a língua e me enfiei no curso. Minha ideia é saber se vou levar minha tese pra esse campo, das questões de gênero, ou se vou seguir outro caminho.

Pois ouvindo histórias das quais já sabia e muitas outras que não, quando me vi, estava “amarradaça” na aula e, para minha alegria e orgulho, meu pai, que passava por ali, um homem com seus mais de setenta anos, com uma cabeça sempre aberta a novas conversas, um cara que lê sobre história todo santo dia, pois esta pessoa incrível que é papai, sentou-se do meu lado para ouvir sobre a origem dos movimentos políticos de mulheres.

Entendemos, eu e ele, pois debatemos depois, que a desigualdade entre homens e mulheres nada tem a ver com a nossa diferença biológica, mas sim, vem de uma cultura patriarcal toda pensada para nos enfraquecer e nos desvalorizar enquanto seres pensantes e confiáveis. Acredite, isso vem desde o século V, tendo como fonte o livro Gênesis da bíblia e foi algo tão “bem feito” que perdura até hoje essa perseguição contra nós mulheres. Vimos também que mulheres como Christine de Pizan foi uma escritora do século XII, uma precursora do que, no século XVIII viria a se tornar o início dos movimentos feministas.

Aprendemos tanto que estou pensando em ministrar um curso intitulado “Feminismo para não feministas” (Quem topa?), pois o tema é complexo e muita gente se assusta achando que toda feminista não depila o sovaco e odeia os homens. De novo, existem Feminismos e não apenas um Feminismo e cada uma das vertentes têm seus fundamentos, a sua ética e a sua antropologia filosófica, ou seja, se baseia em pensamentos antigos para romperem.

Eu, por exemplo, eu sou inteiramente feminista, do fio de cabelo à unha do meu pé, e acabei de vir do salão com unhas e sobrancelhas feitas. Sou romântica e quero que o boy me diga todo dia que me ama. Sim, as feministas amam, cada uma têm suas demandas e suas individualidades, o que em nada enfraquece o coletivo de mulheres que buscam por igualdade de direitos.

Pois eu que estava meio sem assunto, ou cheia de assunto, mas com a alma querendo sossego, essa semana até que eu extravasei. Ah! Gritei foi muito #forabolsonaro da janela na hora da entrevista. Já estava rouca e quase perdi a voz.

Quase perdi a voz, mas não perdi a fala, muito menos a vontade de falar, ainda que esteja meio minguada, guardando forças pra enfrentar esse semestre prenhe de mil coisas – boas – para acontecer, mas que vai nos exigir muito, muito mesmo de nossas energias.

Aqui dentro, o grito continua. E o pulso ainda pulsa.

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