Está difícil viver!

Está difícil viver

Está difícil viver.

Lembro-me de que, certo dia, lá pelos anos de 2013, conversava com um amigo que exclamou:

– É, Lu, está difícil viver!

Essa época era o início das manifestações, aquelas que começaram pelos vinte centavos nas tarifas de ônibus e depois foram se alastrando para várias outras causas. A grande maioria delas bastante pertinente, diga-se de passagem, pois fazia tempo que o Brasil andava calado.

Lembro-me de que disse para ele, tentando sempre manter meu astral elevado e uma visão Pollyana da vida:

– Difícil por que? Temos nossas famílias com saúde, nossos empregos, nossos amigos. Temos de não nos deixar abater pelo pessimismo que anda rondando o país, se não a gente pira.

O tempo foi passando, as manifestações continuaram e… Pausa para a copa do mundo. Chegamos até a achar que não haveria copa, mas houve.

Voltamos a sorrir, a vibrar, a torcer pelo nosso país, o qual vínhamos apenas criticando. Vestimos-nos de verde e amarelo, cheios da esperança pautada a pão e circo e, Pimba!, 7 x 1. Game was over e a nossa moral lá no pé novamente.

Voltamos para a nossa realidade de outrora e pegamos de testa as eleições de 2014. Denúncias, crimes, jogo sujo, baixaria e, quando achávamos que não dava para piorar, morre um dos principais candidatos à presidência do Brasil.

O Slogan da campanha de Eduardo Campos era: “Não vamos desistir do Brasil”. Mas será que dá pra continuar?

Seguimos, deu Dilma, e de lá pra cá foi um escândalo atrás do outro. País parado, Petrobrás falida, povo cada vez mais pobre, desemprego, risco país elevado, inflação, golpe, não golpe, “não ao golpe!”.

Mais manifestações, muitas, todas válidas, pois protestar é sinal de democracia consolidada. Mas tinha ódio, muito ódio, de ambos os lados.

Entramos numas de inimigos e muita gente perdeu amigos e até família por conta. Eles contra nós, feio contra o bonito, eu tenho você não tem… Uma infantilidade sem fim, um clima de horror no ar e um mau exemplo terrível para a criançada que não tem culpa de nada.

Calma, pulei algumas tristes etapas! No meio disso tudo teve a Samarco e toda a tragédia causada. Tiveram também os imigrantes ilegais na Europa, porque a tragedia não é mérito só nosso. Teve atentado na Síria e afins, teve atentado em Paris, teve gente reclamando porque uns lamentavam o atentado na cidade Luz e não se compadeciam dos povos da África. Até isso teve; vai vendo.

Cai a Dilma, assume o Temer e… Mais e mais escândalos, mais e mais manifestações. A essas alturas eu já concordara, havia muito, com meu amigo do começo do texto. Minha versão alienada proposital caiu por terra e não dava mais para segurar.

Junte-se a tudo isso os problemas pessoais de cada um e realmente estava difícil viver.

Mas aí vem, como uma pá de cal, pra anunciar o fim real dos tempos civilizatórios, o acontecimento com esta jovem de 16 anos de idade. Poderia ter sido eu, você, sua filha, seu filho, pai, mãe, avós… Qualquer um de nós.

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Eu nem sei se tenho estômago para discorrer sobre isso, pois já senti o que é um abuso – nem de longe um estupro – e dia desses conversava com minhas amigas e todas nós sabíamos na pele do que se tratava o tema.

Dói.

Mas nada se compara ao que houve. Não há palavras, não há consolo, não há misericórdia divina que “remedie” o que aconteceu com esta menina. Do futuro dela? Só torço, do fundo do meu coração, para que ela seja uma Malala da vida e possa dar a volta por cima, fazendo desse limão, o mais amargo de todos, algo que a conforte.

Realmente está muito difícil viver. Paira uma nuvem preta, as redes sociais reverberam ódio. Juro que não vejo saída.

Torço, do fundo do meu coração, para que eu possa olhar para um dia de sol e sentir paz no meu coração. Mesmo sabendo que nunca estaremos num cenário perfeito, mas que, pelo menos, habitemos num mundo com sinais mínimos de civilização.

Que as pessoas entendam que nenhum tipo de violência poderá ser tolerada, seja política, religiosa, contra a mulher, contra a natureza, contra os bichos. Que possamos ser juízes de nós mesmo e nos policiar a cada “jeitinho” que damos no nosso dia-a-dia, seja pela cultura ou hábito. Hoje mesmo, uma criatura que desistira da fila me ofereceu a senha dela. Simplesmente eu disse não, obrigada! Cheguei depois, serei atendida depois. Simples assim.

Cultura pode ser uma arma perigosíssima se aplicada para o mal. Vejam o que ocasionou a nossa “Cultura do machismo”.

Anteontem meu sobrinho nasceu. Quero poder chegar perto dele sem carga negativa, sem dor, sem medo. Sonho em levá-lo pra praia, para o parque, para conhecer o mundo e espero, de todo coração, que ainda exista um mundo.

Que meu Nelsinho possa conviver com pessoas de bem e que ele ache legal esse lugar onde ele veio parar.

Por enquanto, meu pequeno, estamos andando para trás e te trazendo um mundo em guerras, toda a sorte delas. Mas te prometo, do fundo do meu coração, lutar com toda a força para que você possa ser feliz por aqui.

Botei essa foto meio nada a ver, mas é só pra gente se lembrar de que apesar, do apesar e do apesar, sempre teremos o meio do mar. 

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