O que ainda resta de Bolsonaro

o brasil de bolsonaro (1)

Ontem, vendo aquela arrumação que foi o 7/09 que celebrava os duzentos anos da independência do Brasil, vi aquelas lagartixas que perdem o rabo e este fica se remexendo feito doido, já morto, mas ainda buscando um restinho de sobrevida, se estrebuchando. Foi isso que eu vi.

Pior, vi o presidente lagartixa e, sem conseguir compreender ao certo o que os move, vi seus seguidores ovacionando um homem com pregações tão chulas e grosseiras que me deu vergonha. Parece um filme distópico no qual toda e qualquer forma de razão e sanidade se perderam porque as criaturas foram abduzidas e enfeitiçadas.

Há anos venho tentando entender o que move esses apoiadores. E olhe que tenho muitos deles perto de mim. Desisti de entender, preferi seguir amando-os, e tem sido muito melhor. No início, Bolsonaro fez um estrago, conseguiu causar algumas brigas como em todas as famílias o fez e faz até hoje (você viu a resposta dele à repórter da Jovem Pan?). Mas já superamos essa maldição, a gente não briga mais. Minha esperança é a de que, depois do feitiço, passe… Por enquanto, respiro fundo e sigo.

O que ainda há para se apoiar em Bolsonaro?

A falácia do mito incorruptível já caiu por terra faz tempo. Seja na esfera do “jogo de pessoas” na polícia federal e no Coaf para salvar os filhos dos crimes de “rachadinhas”, aos oitenta mil reais na conta da Michele, sua mulher, seja com o Queiroz, seja o orçamento secreto, seja a Covaxin, seja a benefício concedido a este ou aquele pastor… E os cento e setenta imóveis comprados pela família na vida pública, sendo que mais de quarenta deles pago em dinheiro vivo? A lista só cresce.

“No tocante” ao combate à violência, a única proposta era a de armar a população. Conseguiu. A compra de arma de fogo disparou, o que deve ter sido bom para a indústria bélica norte-americana e para os clubes de tiro aqui no Brasil. Não vejo outra vantagem. A garantia de segurança deve vir do Estado, a solução certamente não está nas mãos da sociedade civil.

Não vou citar a educação, o combate à fome, a saúde e afins porque isso nunca esteve na pauta de Bolsonaro mesmo, então, nem adianta falar.

Auxílio Brasil de 600 Reais? Ah! Gente! Ele queria dar 200 na época da pandemia, os demais partidos conseguiram aumentar para 500 e ele botou 600 pra mascarar a despreocupação absoluta dele com a dignidade das pessoas. Genocida. Por ele, tenho certeza, morreriam todos de Covid e de fome. “Limparia” a raça. Tenho certeza de que é isso que ele pensa.

“Deus, Pátria e Família”.

Deus pra ele é só um. O dele. Todas as outras manifestações religiosas são demonizadas. Em vez de agregar, separa a população enaltecendo seu Deus desconsiderando a fé de todos aqueles a quem ele deveria olhar por. Senhor, perdoai! Sem contar que o Brasil é um estado laico, mas querer que Jair entenda o que isso significa, é exigir muito de uma pessoa com a profundidade cultural de um pires.

Aliás, por falar em cultura, meu Deus, que homem sem preparo, que homem sem vivência, que homem insensível.

Família. Pra ele, só uma. Homofóbico, desconsidera todas as outras formas de se constituir uma família. São tantas, são tão bonitas. Conheço algumas e sempre penso nelas quando ouço as aberrações de Jair.

Tudo isso em nome da Pátria, completando a sua lavagem cerebral em prol de um conservadorismo fascista.

Tenho a impressão de que, em quatro anos, nós voltamos à barbárie.

Não se valoriza a liberdade, porque a única liberdade permitida é uma liberdade de ser o que a sociedade machista, patriarcal e heteronormativa quer que sejamos. Outras manifestações de liberdade estão proibidas. Contraditório, não?

Dizem que “Supremo é o Povo” e eu fico me perguntando se eles consideram “povo” os índios, os negros, os gays, os trans, etc, etc, etc. Quando querem destituir o STF e colocar o povo no poder – Alô Fidel Castro! Alô Hugo Chaves! – eles estão falando de que povo?

Democracia virou palavra banalizada e esvaziada e o que nos enquadrava moralmente, naquele “acordo de cavalheiros (e damas)” para que a sociedade pudesse seguir sem que saíssemos por aí destruindo uns aos outros, tudo isso está caindo por terra.

“Imbrochável, Imbrochável…” Ouvir isso de um presidente da república num discurso no dia da Independência do Brasil… Gente!

O que se viu ontem foi um misto de filme pornográfico de comédia ruim com um vexame nacional. Um filme raso, grosseiro, que depõe contra o protagonista e os coadjuvantes. Um filme de extremo mal gosto, que a gente se pergunta: como é que pode investir dinheiro público num negócio desses?

Pois não era filme e era com o dinheiro público. Tiros de canhões, desfile naval, tanques de guerra e a moral da história a gente já viu em 1964.

Nossa missão, a de quem não foi contaminada com esse feitiço que, torço, passe, nossa missão é usar esse restinho de noção de democracia que nos resta e no dia das eleições votar no único candidato possível, o #forabolsonaro!

Seja qual número for, seja qual partido for, neste momento, isto não importa. Importa que ganhe o #forabolsonaro. Depois a gente remenda o resto. E tem muita coisa pra remendar, Brasil.

Enquanto isso, lá vai o Brasil de Bolsonaro, esse que ele nega, o Brasil da fome, da desesperança e da desassistência. O Brasil do desamor.

Mas eu, eu não perco a esperança, não. Eu tenho um defeito grave, uma ilusão quase infantil de que o amor, a compaixão, a sensibilidade, o cuidado, esse é a única forma possível de se estar no mundo.

Enquanto me horrorizo com o que vejo por aí, mergulho num universo onde respiro. Ouço Belchior, Chico, Clara… Leio Zélia Gattai, leio Cecília Meireles e Clarice… Danço samba, troco ideias, abraço apertado gente que me entende e que eu também entendo. Calamos a dor pelo amor.

Na foto que encabeça a crônica, o Brasil que Bolsonaro nega, o da fome, o da exclusão.

#FORABOLSONARO

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