O que eu aprendi com as outras mulheres

o que eu aprendi com as outras mulheres

Vou dar o arrodeio de uma crônica pra chegar nos meus cabelos curtinhos da foto acima, mas vou chegar, creia.

Apesar de que, o que interessa mesmo é o meio, é o tal do percurso como dizem desde os poetas até as frases de autoajuda. Ao menos nesse ponto eles têm razão. Digo das frases de autoajuda, já que os poetas, esses têm sempre razão.

Desde que eu iniciei o processo de olhar para as outras mulheres destituída de minhas convicções, dos meus preconceitos e principalmente dos meus medos, eu tenho me dado bem.

No início, era bem difícil não achar feio o que não era espelho, só que ainda era pior, eu catava um monte de defeitos em mim, analisava-me milimetricamente e ainda botava reparo, ainda que só internamente, no que eu achava feio na colega.

Difícil, né? Meu padrão de existência era a perfeição, logo, tanto eu como a esmagadora maioria de nós estávamos fora do padrão. Tenho um amigo que falava: quando eu te conheci, você era grande (sim, isso era um elogio, “ser grande” para ele, e para minha mãe também, era ser mais bonita).

Mas o padrão, mon amour, era magrelo e na minha cabecinha toda moldada nas saradas do Instagram, só se podia ser feliz de biquíni se magrela a pessoa fosse. Roupas decotadas? Só para as siliconadas, ou para as de peitos pequenos e “no lugar”, duros. Barriga de fora? Só se fosse “tanque”. Cabelos? Ah! Os cabelos…

Escrevo agora com os meus batendo aqui no meu ombro e sorrio para mim mesma com alívio, orgulho e camaradagem. Vencemos!

Mas cabelo para mim era assim: ondulados, cacheados tinham de ser extralongos para “pesar” e não “armar” (acho que só as mulheres entenderão os dialetos do universo feminino usado aqui). Para tê-los curtinhos, só se a criatura tivesse os cabelos bem lisos. Certa vez, alisei e cortei, mas isso faz dez anos.

Mulheres, como a gente evoluiu nos últimos dez anos! E eu devo muito a vocês a minha evolução.

De lá pra cá, comecei a ver mulheres quebrando as vigas dos conceitos e a ruírem prédios de padrões.

A moda começou a abranger de forma mais carinhosa e muito fashion todos os corpos. Nada de roupas frouxas e sem forma, mas, sim, croppeds, saias curtinhas, bem como shorts, vestidos decotados, ou seja, roupas que não obrigam ninguém a entrar no tal padrão, mas que, sim, ampliam o tal padrão para todos os corpos.

Comecei a pensar que, se ela está se achando linda no seu manequim 46, quem sou eu para não achar? E mais, se ela está se achando linda no seu manequim 46, porque eu estou censurando o meu manequim 38?

Os cabelos, então, nossa! Foi cada black power poderoso, de tudo quanto é cor, curtinho, longo, “as mulé tudo poderosérrema”. E mesmo as cacheadas, as onduladas feito eu, com seus cabelos ao vento, nem aí pro volume, se ia armar ou não. A bossa do cabelo tava era no volume.

Aliás, o que aconteceu foi isso, a gente foi se avolumando pra cima de ditaduras que nos eram impostas, e pior, a gente mesmo se impunha.

Daí que eu fui me “desconstruindo”, pra falar num termo bem contemporâneo. Fui olhando para o novo comportamento de nossos corpos sem julgamentos, sem preconceitos, sem medo do novo e eu fui olhando pra mim, fui me acolhendo e, nesse processo, fui mandando todos os padrões às favas.

Passei a deixar de ser tão rigorosa com tais padrões e fui percebendo o quanto podemos, cada uma de nós em conjunto e em nossas individualidades sermos diferentes do que se exige de nós. Aliás, ser mulher que quebra um padrão e é feliz assim do jeito que é, isto é um ato político frente ao machismo que nos impõe tanta resistência e resiliência.

O fim dessa história é o que mostra a foto, minha jubinha toda banhada de mar. Consegui realizar uma vontade de anos que era testar o meu cabelo do jeito que ele é, com suas ondas naturais, num corte curtinho. Resultado: tô me amando!!!

Aqui fica o meu muito obrigada a todas as mulheres que, ao chutarem as portas e ocuparem espaços, me encorajaram para que eu fosse ocupando de forma livre e mais leve o meu espaço, o território do meu corpo.

E você? Já se tornou dona e proprietária do seu?

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