45 do segundo tempo

Só agora estou chegando para escrever a crônica dessa quarta-feira. Já são quinze para as onze e se existisse horário de verão no nordeste eu só teria mais quinze minutos para postar o tema de hoje. Metaforicamente, falando e usando o tal dito popular do país do futebol, eu estou nos 45 minutos do segundo tempo.
Quando seu time está jogando, ali, perdendo de um a zero, precisando de um empate para ser classificado, os 45 do segundo tempo parecem um pesadelo. Aquele reloginho do marca tempo se movimenta sem parar e você vai se desesperando, e o gol não sai, o time não evolui… É uma pressa para enfiar a bendita bola na rede com uma vontade enorme de que o tempo pare, pelo amor de Deus.
Pois é, só que na vida, os 45 minutos do segundo tempo podem representar uma das melhores fases, dos melhores lances, dos melhores chutes a gol, pode ser a sua classificação.
Depois de uma semana – que ainda está no meio – pra lá de emocionalmente conturbada, com missa, lembranças e emoções afloradas, a quarta-feira começou intensa, desde bem cedo. O dia foi todo assim, só que a noite terminou com uma conversa superbacana, com uma pessoa legal e com vista pro mar. Isso é que é gol!
Concluo – ainda que, quanto mais eu busco respostas, mais perguntas e me faço – que o final, aquele que você deixou pra depois, aquele o qual você nem planejou, o que nem contava com, nem, sequer imaginou, pode te trazer o que você estava buscando.
O melhor da festa não é esperar por ela, como diz o outro tal dito popular, o melhor da festa pode ser o final dela, quando somente as pessoas mais íntimas, já meio alegrinhas e cansadas, tiram os sapatos, deitam-se confortavelmente sem cerimônias e conversam, namoram e bebem até o amanhecer.
O melhor do sexo é o depois, deitados, suados, cansados, um por cima do outro, ouvindo o barulho do coração, curtindo a intimidade plena, quando se tem claro. O melhor do dia pode ser a noite, quando já nos desnudamos da carcaça que vestimos pra aguentar o tranco, pra aguentar o outro e botamos uma roupa confortável, ligamos a TV e a cabeça não pensa em mais nada.
Por vezes, a melhor fase da vida está no segundo tempo, quando deixamos de tentar provar pro mundo que somos alguém relevante moral e civicamente e apenas aceitamos que se conseguirmos transformar a nossa casa para ela ser feliz já é coisa pra caramba . Nessa fase nos aceitamos mais, já temos um pouco mais de certezas ou, pelo menos, temos a certeza de que as respostas nunca virão todas.
Aos 45 do segundo tempo parece fim, parece destino, parece que não dá mais. Mas aos 45 do segundo tempo ainda é tempo e tudo pode ser feito, contemplado, aceito, transformado, ajustado, vivido, amado, chorado, recriado.
Aos 45 do segundo tempo o seu time pode ir lá e fazer o tal gol da classificação e eu, aos 45 do segundo tempo, posso escrever essa cronicazinha bobinha para você que me lê e que me alegra o coração.
Gol!

Você também pode gostar

ainda estamos aqui
ainda estou aqui
Luciana Targino

Ainda estamos aqui

… Lembro-me de que quando li o livro, tive a sensação de estar lendo algo sobre meu passado, sobre uma história muito difícil, sofrida, mas passada…

Leia Mais »

Deixe aqui o seu comentário

Respostas de 6

  1. Perfeito, Lú! Amei o texto. Lendo isso, me deu uma saudade enorme do meu namorado. Só o vejo no final de semana. Rsrsrs Beijos. <3

    1. Muito obrigada pelo elogio…
      Realmente deve dar uma saudade danada do seu amor. O meu marido viaja muito, então, eu aproveito pra marcar tudo o que quero fazer com as amigas, famílias, festinhas, comprinhas, até um cineminha de um filme que ele não gosta… Assim eu me divirto e, quando ele chega, a gente curte junto :).
      Bjs e fico feliz de ter você como leitora.
      Lu

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *