Hoje, fui numa clínica marcar uma sessão de acupuntura. Há tempos que vinha querendo fazer, pois já a fizera antes e, apesar de não surtir muito efeito na tal dor que eu sentia, a uma hora na qual eu passava toda espetada e ouvindo melodias de cachoeiras eram formidáveis.
Falei com a atendente da clínica que me fez a seguinte pergunta:
– Onde é a sua dor?
Dei uma leve risada e desatei a falar:
– Ah!, minha querida, dói meu joelho esquerdo, o punho, a lombar, prisão de ventre, dor de cabeça…
A atendente por sua vez, acho que apavorada com a velha de 34 anos que sente dores demais, me interrompeu:
– Mas qual é a pior?
Meu pai eterno! Quer mesmo que eu te conte, amiga?
Só um parêntesis (imaginário) para uma pessoa com dor, a melhor coisa do mundo é qualquer pessoa que pergunte aonde dói, seja de que natureza for a dor.
– A pior dor, querida, é a dor da existência!
A pior dor é a do não saber a resposta para a única pergunta que a vida te faz: O que de verdade vale a pena?
A pior dor é a da perda, a da saudade, a do não ter mais.
A pior dor é a do amor: amor proibido, amor bandido, desamor…
A pior dor é a de não se encontrar.
É a de não saber onde buscar.
É a certeza de que não dá mais.
A dor maior é a da velhice, essa que nos caduca e nos tira, sob o olhar do outro, a nossa dignidade.
Dói demais chegar ao fim, dói ver alguém chegar ao fim.
A pior dor é a da expectativa frustrada.
Dói também perder a esperança.
Dói não ver o seu filho crescer enquanto se trabalha o dia inteiro.
Dói perder tempo com o que não nos identificamos.
Dói a angústia.
Dói a carência
Dói a rejeição.
Dói ser sozinho.
A pior dor é a da consciência.
Dói esperar por quem não veio.
Dói querer quem não nos quer.
Doem as palavras proferidas para ferir advindas de quem se ama.
Dói a injustiça.
Dói a brutalidade.
Dói a pobreza, a fome.
Dói ver criança doente.
Dói ver a morte de gente inocente.
Dói ver bandido governando.
Como diria o querido Xico Sá: “Dói estar vivo”, amiga, e não há agulhada no mundo que cure a dor do vazio entre os dois peitos do ser humano.
Mas eu achei melhor falar para a atendente que a dor pior era a do joelho esquerdo mesmo. Afinal, para sarar, tem que começar cuidando de algum lugar, né?
Espete aqui, minha filha, bem aqui!
No meio do caminho tinha uma enxaqueca
Acorda, malha, volta, se arruma, pede um café com leite e ovos mexidos, liga a máquina, digita mil coisas, despacha vários e-mails…