À Clara e a meu Pai

Cheguei na Livraria Cultura, hoje, e dei de cara, ops, de ouvidos com Clara Nunes.
Conheço a Clara há 34 anos – minha idade, posso até chamar de Clarinha, já que sou íntima. Meu pai me apresentara a essa musa do samba ainda no berço. Aos três anos de idade eu já mandava ver cantando Clara Nunes sem nem saber falar direito.
Aliás, um parêntesis para o meu pai. Ele, sem nunca impor nenhum instrumento ou argumento musical, me apresentou, suavemente, a Pavarotti, Plácido Domingos e Carreras, a Mozart, a Beethoven… E, claro, à Clara.
Construímos, eu e meu pai, um elo musical através do que ele vai me apresentando e eu vou me emocionando. Às vezes fazemos duetos de uma ou outra canção lá em casa. Ele sempre se impressiona como eu sei isso tudo. Ora, pai, culpa sua!
Mas hoje, assim que ouvi Clara, mandei imediatamente uma mensagem pra ele de agradecimento por ter me apresentado a ela. Ela respondeu: “Que bom, às vezes eu acho que ela foi esquecida.”
Não pai, não foi e nem nunca será, pois, em meio a tanta discórdia, tanto mau gosto, tanta cultura rasa, tanta gente que fala, mas não se ouve, tanta gente que vive, mas não se sente, gente que gargalha, mas não sabe sorrir… Em meio ao caos, pai, sempre terá um coração apaixonado, um amor nascendo, outro morrendo, sempre haverá uma saudade, uma saudação, terá sempre alguém que valoriza o outro, que se alegra sinceramente, se emociona, se comove, se compadece e se respeita.
Para todas essas pessoas, pai, terá sempre um Noel Rosa, um Chico Buarque, um Tom Jobim, um Caetano, um Vinícios, um Fausto Nilo e, claro, uma Clara para acalentar a alma dos que sofrem, mas que são felizes intensamente.
Vou comprar o CD, só está 16,90, adoraria que estivesse mais caro, do preço do Wesley Safadão talvez… Mas tudo bem, esse lamento não faz sentido, pois Clara não tem preço.
Faço o seguinte, levarei dois e darei o outro para alguém que, como eu, não deixará Clara e nem o samba morrer. Alguém que já tem duas filhas que vão crescer talhadas pelo o que nosso país produz de melhor.
Termino aqui, escutando e indo-me “embora desse mundo de ilusão, pois, quem me fez sorrir, não há de me ver chorar.”

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