Em meus comportamentos do dia a dia, vez ou outra, ou muitas vezes, eu observo a tal criança que nunca morreu em mim.
Não é aquela criança doce, que traz frescor pra vida, brejeirice e essas coisinhas que a gente sempre ouve que não deve deixar morrer. Estou falando da criança mimada, chata, que quer o brinquedo naquela hora e que morre de medo do escuro. Esta criança, assim como a outra, também não morre.
O tempo vai passando e deveríamos ir aprendendo a lidar com as frustrações, com o que (ou quem) não podemos ter no momento, com a falta de grana, com a falta de amor, com o “não”, com as obrigações do trabalho, os afazeres sociais e mais um monte de coisas as quais o adulto deveria tirar de letra, afinal, somos seres maduros, capazes de elaborar um pensamento e ver que não era para ser nosso, então não foi. Simples assim.
Ha, ha, ha. Simples nada. A gente não chora e não esperneia no meio da rua, pois crescer serve ao menos para gente aprender a preservar, um pouco, a nossa imagem, mas por dentro a criança mimada e contrariada está fazendo um baita escândalo.
Como não podemos gritar, a gente chora sozinho, resmunga, fica de mau humor, desconta no pai, no marido, no outro, contrai uma doença, fica com dor de cabeça, pressão e colesterol altos, tudo isso é uma forma do nosso corpo manifestar a sua contrariedade e indignação, mas de forma adulta, claro, já que essas atitudes e doenças são de adultos.
E o medo? Esse aí é mais latente ainda. Quando crianças, ficamos assustados com o quarto dos brinquedos à noite, como se todos os nossos queridos ursinhos de pelúcia se transformassem em brinquedos assassinos após o pôr do sol. Quando adultos, o nosso medo é do escuro da vida: medo do incerto, medo do desconhecido, medo de perder o que já temos, medo de perder o que nem temos, medo simplesmente de arriscar por não saber o que está ali, dentro daquele quarto escuro. Porém, naquele quarto escuro pode ter uma janelinha que dá pra um jardim cheio de flores ou numa praia deserta e ensolarada. Já pensou?
E assim vamos seguindo, fingindo que entendemos e controlamos todo o nosso entorno. Vamos convivendo com nossas angústias e desejos achando que devem ser repreendidos, sufocados, afinal, somos adultos e estes devem ser racionais. O tempo de arriscar ficou lá pelos 25 anos.
Quanta ilusão! Nem nos damos conta de que a tal criança é quem reina. Mimada, escandalosa, cheia de vontades (ou sonhos), pronta para fazer aquele barraco se a gente insistir em deixar como está o que não está nos fazendo felizes.
Que brote, então, a tal criança interna. Ela funciona como um termômetro que acusa a febre quando algo não está funcionando bem no corpo. Saibamos ouvi-la antes de dar uma palmada e mandar ficar de castigo. Prestemos atenção em quem só tem a nos ensinar e quem, ainda bem, não irá nos abandonar.
Uma resposta
Porém, naquele quarto escuro pode ter uma janelinha que dá pra um jardim cheio de flores ou numa praia deserta e ensolarada. Já pensou?
É ISSO LÚ!!!