A derrota de Donald Trump e a prova de que este ódio não governa.

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A derrota de Donald Trump e a prova de que este ódio não governa.

Ele precisava perder. O mundo precisava deixar de ter como um de seus maiores representantes – o maior, ainda – alguém que fizesse uma gestão baseada no ódio.

No ódio e em muitas de suas derivações: o deboche, a ironia, a ignorância, o preconceito, o massacre, o desrespeito, a estupidez, a tirania, o fascismo.

Não, o ódio ele não é uníssimo, ele não é senso comum, ele não é apenas o contrário do amor, aliás, nem isso ele é. O ódio não é consensual, muito menos possui um código com alguns subitens que o expliquem e o justifiquem.

O ódio pode ser como um câncer. Ele tem várias formas e graus de agressividade, ele pode ser gerado a partir do injusto e do injustiçado, ele pode acontecer entre famílias e entre povos, entre raças, entre gêneros e entre orientações sexuais. E ele mata, a gente sabe.

Porém, o ódio, por incrível que pareça, pode ser cura.

No livro “Ódios políticos e a política do ódio”, da Ana Kiffer – minha professora, olha que honra! – e Gabriel Giorge, o ódio é o protagonista e é trabalhado a partir da vitória de Jair Bolsonaro em 2018 e da ocupação das ruas de Niterói pelas forças armadas em celebração a esta vitória, bem como a partir das manifestações anti-Kirchnerista, ao que Giorge chama no ensaio de “crispação” – . Das análises sai a pergunta: Quando é que o ódio perde o pudor de se expressar e simplesmente dar as caras?

No momento atual, como é que as pessoas perdem a vergonha de mostrar a cara, de tirar a máscara, mesmo tendo a consciência de que seu corpo pode ser letal para outro corpo, pois pode carregar o tal vírus? Como não respeitar as ordens sanitárias e submeter empregados a trabalharem sob condições vulneráveis podendo contaminá-los sabendo que estes não terão assistência médica com a qualidade que os patrões terão? Estaria este gesto mascarando uma das facetas do ódio? O que se sente por uma raça, a uma classe social? Sim, julgo que seja.

Neste mesmo livro, os autores tomam este sentimento – que o consideram não como um afeto, pois afeto remete a sentimentos bons no linguajar comum, mas uma afecção, no sentido de afetar – para falar também de um ódio revolucionário, um ódio que se inscreve em corpos fronteiriços, corpos na iminência de aniquilamento, apagamento, ódio em corpos de mulheres negras que se revoltam contra a opressão machista de cada dia, ódio de corpos imigrantes que brigam contra o mundo para terem direito a um pedaço de chão em paz, sem guerra, sem tiros. Um ódio dos povos indígenas que lutam e morrem para preservarem suas origens que também nos preservam como povo. Ódio de pessoas que vão às ruas pedir para que ELE NÃO, mesmo que, à época, em vão. Ódio dos negros americanos da Georgia capitaneados pela ativista negra Stacey Abrams, que mobilizou uma raça a votar em Joe Biden, pois, apesar de Trump – e Bolsonaro, vale lembrar – não considerar #blacklivesmatter.

Enfim, um sentimento tido apenas como ruim e destruidor, mas que brota a contrapelo da injustiça, um sentimento reativo, um ódio que nasce da utopia de paz, de justiça, e, por que não°?, de amor, se quisermos usar um termo mais romantizado. Um ódio que, por incrível que pareça, constrói em vez de deliberadamente, com gestos de “arminha na mão”, destruir.

Pois foi este ódio ao ódio disseminado feito doença por Donald Trump, foi este ódio militado em corpos de todas as cores, crenças e raças, foi este ódio necessário, potente, político e importante, foi ele que nos deu uma das melhores notícias dessa década que se iniciou tão trágica. Foi este ódio que derrotou aquele ódio.

Podemos dizer que a eleição de Joe Biden também representa um ódio, mas não este do Trump, mas o outro apontado por Ana Kiffer e Gabriel Giorgi, que fala de reconhecer as diferenças, separá-las, respeitá-las enquanto crença, enquanto potência de vida, enquanto povos, enquanto humanos, para depois construirmos um mundo bem mais unido e baseado num amor real e não nesse falso amor que a tudo mascara.

Obrigada, USA, ganhamos todxs essa eleição, até que acha que perdeu.

P.s.: Eu tenho grandes restrições aos Estados Unidos e seu ambicioso imperialismo. Custou-me colocar essa bandeira aqui no meu blog, contudo, o momento, agora, é de celebração e de uma sensação – até estranha, depois de tanto tempo – de PAZ. A foto peguei aqui.

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