Abraço é refúgio

abraço é refúgio

Na última semana eu infringi as regras, confesso. Eu me abracei com uma ruma de gente.

Uns queridos parentes que moram em Brasília vieram pro Ceará pra ver a gente. A gente é muita gente! Ao todo, somamos 36 pessoas, todas sem sintomas, a grande maioria vacinada com três doses, além de quinze terem tido Covid recentemente.

Toda essa justificativa é pra dizer que, apesar de eu ter infringido as regras, existiu um risco calculado para que eu e os meus estivéssemos em segurança, melhor dizendo, na segurança que dá pra se ter num momento novamente crítico, tanto no número de casos de Covid, de morte pela doença e, que é do que eu quero falar, da falta de abraço.

Dois anos evitando esse encontro de corpos, essa confirmação de presença, esse calor que se troca e essa sensação de pertencimento a alguém, a uma tribo, a uma família, ao mundo. Dois anos à deriva, o corpo amofinado sem toque, sem gente querida, sem aquilo de se juntar e encostar a cabeça no ombro de quem se quer bem. Abraçar e fechar os olhos, viver aquele encontro breve e tão intenso, onde o gostar se transmite sem fala, mas pelo tato, quando as almas ficam mais pertinhas e podem, talvez, se ouvirem.

Abraço é refúgio.

É o melhor lugar pra se correr quando se quer se esconder, quando o dia tá ruim, a vida tá triste, a saudade tá que não se aguenta mais. Abraço é fuga da vida corrida pra um lugar que acontece e se desmancha em segundos, mas que faz morada dentro da gente por muito tempo, por uma vida inteira, pela eterna vontade de se querer abraçar alguém de novo.

Abraço é o melhor lugar pra dar a uma criança, um colo pra ninar e ela se aconchegar até dormir. Envolver um pequeno num abraço e contar uma historinha, assistir um filminho. Se tem lugar melhor do que esse, eu nunca visitei e nunca consegui comprar passagens pra lá. Porque o abraço, ele é aqui, ele é pertinho, mesmo que, por vezes, seja preciso percorrer quilômetros para abraçar.

Abraço é esconderijo e é um mundo inteiro, é instante e vida longa, é saúde pra alma e pra imunidade. Abraço é resposta pro que nem se perguntou, mas se quer saber, e se quer dizer. Abraço é calmante e energizante, abraço é resgate de alguém que se afogou em si mesmo, abraço é canto, poesia, é acalanto, é o melhor lugar pra se estar no mundo.

Sim, sei que, por ora, falar de abraço é como falar pra quem está de dieta sobre brigadeiro. Ainda não é hora, as coisas estão bem ruins, mas dentro de algum cálculo de risco, eu me refugiei em abraços, abraços cheios de conversas importantes, de risadas, de gratidão… dessas coisas que a gente tinha e que nos foram tiradas, mas que, aos poucos, de uma forma responsável e com alguma possibilidade de previsão de controle do cenário, a gente pode se dar ao luxo de abraçar aquelas pessoas que nos são tão caras.

Depois de ter me refugiado em abraços e o mundo ter ficado bem menos assustador, tenho estoque de afeto pra suportar a descida desse pico da Covid, de aguentar o não carnaval e as máscaras descartáveis.

Abraçar é tomar fôlego.

Mas cuidado!

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