Ao meu pai e à minha mãe nesse dia das crianças

ao meu pai e à minha mãe

Passamos o feriado em Fortaleza mesmo. Todo mundo viajou, a gente até pensou em ir, não rolou, e ficamos aqui, nós três, eu, meu pai e minha mãe, juntos como sempre.

Entre as nossas horas e horas de conversa em cima da cama – papai na rede -, entre nossas idas ao Rio Mar, nossa tentativa e de ir jantar fora – todos lindos e produzidos como há muito não fazíamos – entre a nossa volta pra casa constatando que ainda não consideramos prudente encarar tanta gente junta – sim, a gente concorda em quase tudo – entre umas cervejinhas e martinis, entre as maiores gargalhadas, entre diálogos que vão desde o surgimento da Terra até a certeza da dúvida de Deus, passamos o nosso feriado muito bem.

Que dupla essa que eu tenho como pai & mãe. Minha mãe, a pessoa mais hilária que eu conheço e meu pai, a mais sensata. Minha mãe, a mulher mais acolhedora da vida, meu pai, aquele abraço que cabe todos os meus medos, sem que eu nem precise dizer pra ele o medo que eu tô sentindo.

A gente divide o vinho, a música, canta, declama, exalta nossos ídolos, enquanto a minha mãe – que também divide o vinho, mas bebe menos – nos chama pra realidade perguntando quem foi que derramou aquele café na cozinha.

Não, ela não é chata, ela é hilária, ela é doce, ela fala mil vezes a mesma coisa sem brigar, a gente não aprende e ela segue tentando, desde que eu me entendo por gente, sem gritar, com carinho e muita graça. “Minha filha, bote um pratinho embaixo, vai cair farelo no chão”. “Filhinho, por favor, bote um pratinho, vai cair queijo no quarto e vaidar barata”.

Quer dizer, graça quem faz sou eu das coisas dela e ela ri dela mesma em mim. A pessoa que ri de si mesma é uma pessoa evoluída e vive bem melhor. Minha mãe é massa demais.

Meu pai a toda hora puxa o Atlas, um mapa, ou o Houaiss para nos esclarecer da, segundo ele, cultura inútil. De inútil não tem nada e o meu pai sabe de tudo o que acontece no mundo porque ele é a pessoa mais curiosa que eu conheço. Curiosa, eu falei, e não fofoqueiro. Papai é tão discreto que encanta.

Curioso. Não há uma palavra que se diga, um lugar que apareça na Tv, não há uma dúvida no português, algum conceito, sinônimo, qualquer coisa que ele não saiba, ele já diz: Vamos ao Houaiss. E assim, ele vai acumulando uma bagagem que abrange desde os reis europeus até os assuntos da bíblia, coisa que deve ter lido quando criança, pois nem católico é. Sabe tudo. Caen, casado com Eloá que se chama outro nome… Sei lá, ele me falou, mas, pra mim, é impossível registrar tudo o que aquela memória registra. Tudo isso regado à Beethoven, Fausto Nilo, Luiz Gonzaga, Zizi Possi…

A minha mãe, que num olhar me reconhece e me consola, que me levanta a auto-estima e que ainda vai me dar um presente do dia das crianças… Por que eu pedi, lógico e Nelsinho concordou que eu, por não ter filhos, sigo criança e mereço. Não me fiz de rogada (rsrsrsrs).

Com os dois, a ida ao supermercado vira um programa, sentar pra tomar um café é lugar para papos infinitos que nunca terminam, os entreolhares são motivos das maiores gargalhadas e nós, que já nos sabemos de cor, estamos sempre aprendendo com gente, amparando uns aos outros e dando o nosso melhor por nós.

Pois depois de eu achar que ia sentir uma solidãozinha nesse feriado com uma galera viajando, me vi ao lado do que é o mais sagrado e valioso pra mim: eles dois.

Nesse feriadão de dia das crianças, me vi criança, me vi mãe, me vi pai, me vi sendo cuidada, me vi cuidando, vi a vida seguindo, se desenrolando e vi a gente de mãos dadas como estamos há 40 anos.

Obrigada, meus amores, a vida do lado de vocês é linda demais.  

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