Se você não quer se decepcionar com as pessoas, uma das minhas dicas é: não adoeça!
Não tenha febre, nem virose, nem dor de cotovelo – dá trabalho, o coração partido – nem quebre uma perna, nem mesmo uma torção, como foi o meu caso.
É que todo mundo está muito bem adaptado a ser um amigo para as horas boas, a ser amigo com moderação, a ser aquele camarada que tá quase escrito na testa: “tô aqui, mas não me consome muito, não, ok?”.
Tenho um avô que hoje tem 103 anos, é o avô mais amado do mundo, clamam seus netos, mas muitos deles vão lá uma vez por mês, se tanto, pois alegam que não sabem o que conversar com o vovô, ou ainda, que não “aguentam” ver o vovô assim. O “assim” é apenas a velhice, e debilidade, é o aparentemente doente, é o que não é bonito aos olhos, é que é cansativo, preocupante… Ninguém tem tempo pra isso não!
Mal sabem eles que o nosso avô anda dando um valor danado a quem vai lá só pra segurar a sua mão e que não tem nada melhor do que poder dar carinho pra uma pessoa que te deu Tuto, inclusive seu pai, no meu caso. Gratidão, generosidade… Sentimentos meio raros.
Comigo, na primeira manhã com o pé engessado ouvi que sou muito mimada, eu que me levantasse e fosse fazer meu café da manhã, ora! E fiz! O bom disso tudo é que, se você ainda tem juventude e lucidez, bem ou mal, você vai saber se virar. Mas é claro que a mágoa fica. Muito ruim você não poder contar com as pessoas com as quais você nem pensava nem precisar pedir ajuda antes, ela já estaria ali.
Frustrações e mágoas à parte, o mais interessante, pra mim, foi perceber que não, as pessoas não estão disponíveis, nem eu, nem você, nem ninguém tem muita paciência pra doenças. E mais, quando a gente não está vendo o problema, parece que ele não está acontecendo, então, ficar longe é a sua cura pra doença do outro. Bobo é o enfermo que não se trata com esse poderoso remédio que é a sua ausência, se ele soubesse como é tiro e queda, já estava bonzinho, sem dar trabalho a ninguém.
Somos seres humanos e a nossa condição é de egoísmo, uns mais, outros menos, mas todos somos. Não estou aqui dizendo que ninguém ajuda, não é isso! Tem pai e mãe que são sensacionais, tipo os meus, mas é da nossa natureza, a gente foge do que não é bom. Doença não é bom, só que é pior pra que está.
Então, se você estiver realmente precisando de ajuda, GRITE! Mas grite alto, esperneie ou faça cara de carente, faz teatro, faz qualquer coisa, querido, pois, como bem diz o ditado: “Quem não chora, não mama!”
ainda estou aqui
Ainda estamos aqui
… Lembro-me de que quando li o livro, tive a sensação de estar lendo algo sobre meu passado, sobre uma história muito difícil, sofrida, mas passada…
Uma resposta
Lu, eu tenho TANTA dificuldade pra pedir ajuda. Tipo, nem passa pela minha cabeça. Eu sempre fico achando que tenho que saber me virar sozinho, o que é até bom, mas já me meteu em enrascadas. Ainda não consegui aprender até onde eu consigo sozinho e a partir de quando só eu não basta.