Chicrete, volta à sala de aula e preconceito linguístico

chicrete, preconceito linguístico, marcos bagno, volta às aulas
Comecei as minhas aulas na semana passada.
Você, querida, ou querido, que me acompanha aqui, já deve ter lido que eu voltei ao banco dos aprendizes em busca de um novo projeto de vida, advindo de um sonho, e cá estou eu, na realidade, sendo aluna.
Apenas um adendo, há correntes que alegam que a palavra “aluno” vem do latim e significa “sem luz”. Contudo, há quem conteste veementemente esta afirmação, mas vou ater-me a ela.
Na minha primeira aula, de linguística, aprendi que não se pode dizer, que não é português, ou ainda, que não está correto, falar as palavras: brusa, chicrete, drobar, pobrema e afins. Aprofundei o tema num livro lindo, do Marcos Bagno, cujo título: O preconceito linguístico, é apenas o início de uma paulada que ele nos dá através de muitos argumentos fundamentados de que a língua é mutante e que chicrete tem embasamento nas influências que recebemos do germânico, do lati, dentre outras. Assim como blank  virou “branco”, plata, virou “prata”, “chiclete” pode perfeitamente tornar-se chicrete sim, senhor.
Pois é, eu também fiquei passada e terminei a segunda aula dizendo: – Professora, preciso me redimir com todos os meus conterrâneos que julguei falar um arremedo de português e mais, até agora, eu desaprendi muito mais do que aprendi nesta faculdade de Letras.
– Ainda bem!  Disse a teacher.
Você pode estar pensando: “Era só o que faltava, a Luciana vem aqui falar tudo errado a partir de agora”. Não, calma! Mas que eu vou ser mais flexível e mais inclusiva com a diversidade das vertentes que regem a nossa língua, ah!, isso eu vou.
Mas eu não vim aqui pra dar aula e muito menos para justificar meus errinhos de português, pois eu já até falei sobre eles um dia desses aqui.
O que me trouxe, hoje, ao texto foi a minha ignorância e o preconceito que vem de achar ser a única verdade e a realidade o que eu julgo ser o certo, portanto, pensar que o outro deve fazer, ou falar, igual.
Quantas e quantas vezes eu quis corrigir meio mundo por “falar errado”, julgar sem me dar conta de que as pessoas falam diferente porque as suas influências foram diferentes. Que a escolaridade, a idade, a região, o tempo no qual vivem e muitas outras é que formam a nossa língua, e mais, é o que formam a nossa cultura, costumes e formas de agir. Tudo isso interfere e não faz do português de ninguém melhor ou pior do que o meu.
Voltando à condição de aluna, este ser sem luz, eu vejo o quanto é bom se deixar iluminar pelo que ainda não sabemos, pelo que não conhecemos, ainda que esse excesso de iluminação possa causar estranheza no início. Digo excesso, pois o que sabemos é infinitamente menor do que está do lado de fora e que, se quisermos, podemos aprender e apreender, tornando-nos um pouco mais “vaga-lumes”.
Sabe aquela sensação de início de viagem, quando você não conhece nada do lugar. Estranha o cheiro da cidade, as comidas, as pessoas, o clima, mas, mesmo assim está doido pra desbravar o local até poder bater no peito e dizer: Eu conheci Bratislawa!?, Ou Machu Picchu!, Ou Cuba! Ou qualquer outro lugar que, tenha certeza, lhe fará um ser maior e muito melhor quando você voltar.
Pois bem, é assim que agora eu me sinto. Uma mente curiosa por saber qual é o gosto desse chicrete. Uma pessoa que está abrindo o peito e tirando a carinha de nojo de tudo o que eu não conhecia, ou não me reconhecia ali.
Uma aprendiz que não é mais tão jovem, mas que ainda está cheinha de disposição para aprender com quem sabe muito mais do que, meus professores, mas que, principalmente, está disposta a ser aluna dos demais, diferentes de mim em várias esferas, que carregam uma trajetória de vida riquíssima de sua cultura e de conhecimento.
Alguém que adora ouvir os velhos e reconhecer meu presente no passado do meu avô e me inspirar com a curiosidade das crianças que nos estimulam a fantasiar junto e criar um mundo mais colorido.
Colorido assim, igual aos chicretes que eu comia na minha infância.
A música é do “capiau” mais incrível que este país já ouviu. Nosso mestre Luíz Gonzaga:

Você também pode gostar

ainda estamos aqui
ainda estou aqui
Luciana Targino

Ainda estamos aqui

… Lembro-me de que quando li o livro, tive a sensação de estar lendo algo sobre meu passado, sobre uma história muito difícil, sofrida, mas passada…

Leia Mais »

Deixe aqui o seu comentário

Respostas de 2

  1. Fantástico, Lu! Essa reflexão foi na aula de Sociolinguistica, foi? Apenas para compartilhar ctg, esse foi meu primeiro aprendizado para a vida! Todo dia luto contra meu ego, contra mim mesma, para evitar corrigir pessoas de forma arrogante. Aprendi a ajudar e corrigir com amor e humildade, sem prepotência ou soberba. É difícil, mas é possível! Quando leio seu blog parece que me vejo há uns 2 anos atrás… toda ansiosa e sedenta por conhecimento! Continue assim, Lu! Espero lhe ver brilhando nas salas de aula da vida. Beijooooo.
    Vih.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *