Corte o cordão umbilical

Tô em casa toda destrambelhada.

Não sei que diabos está acontecendo com o meu 2017, eu sei que ele veio pra me fazer brilhar, mas desde que virou o ano que eu tô doente. Começou com uma dor de garganta que se instalou em mim há mais de um mês e continua. Nesse ínterim, veio uma gripe com febre, uma enxaqueca e, pra finalizar com a pá de cau, destrambelhei o joelho em uma sentada que estou quase sem andar. Tá osso!

Pois bem, agora que eu já me lamentei pra você e já consigo ver uma lágrima rolar na sua face em minha homenagem (aceito chocolates como consolo, viu?) vamos ao cordão umbilical cortado.

Pois bem, mais ou menos no 28º dia de minha saga dodói, com uma dor de lascar no joelho, eu caí no choro. Chorei de soluçar igual criança, daquelas que a gente se mela de tanto que chora. Pois eu chorei. Estava com meus pais e eles, que vendem saúde, vieram me ver no meu quarto.

Falaram comigo que eu ia ficar boa, que eu não precisava chorar e, menos de dois minutos depois, saíram do quarto  e foram comprar as cadeiras da varanda que eles estavam querendo. Papai foi falando enquanto saía do quarto: “pare com esse desânimo, só depende de você sair dessa”.

Pá! Se é pra tombar, tombei!

Tombei e imediatamente comecei a me reerguer.

 A gente que é filho vive falando que precisa cortar o cordão umbilical, sempre, claro, achando que o problema é dos nossos pais, deles que não vêem que a gente cresceu, que já somos capazes de tomar nossas decisões sozinhos, fazer nossas escolhas, sair de casa, viajar com o namorado, criar nossos filhos sem pitacos e blá, blá, blá.

Tudo mentira. Não sei você, mas quem não corta este bendito, e que bendito, cordão sou eu. E foi a melhor coisa que meus pais puderam fazer por mim, hoje, foi cortar esse cordão fora.

Foi quase como um “Deixa de manha que tu não tem mais idade pra isso não e nem a gente tem a obrigação de ficar aturando esse choramingo pro resto da vida”. “Já te demos todo o nosso amor desse mundo, só que a gente também tem uma vida deliciosa e maravilhosa pra viver”.

Meus pais jamais diriam isso e nem sequer pensariam isso, muito menos sentiriam isso, mas eu acho que deveriam.

Eu fico P. da vida quando ouço alguns galalaus, com seus quase 40 anos, botando culpa em pai e mãe, já até falei disso aqui. Me poupem! Se você não gostou de algo que eles fizeram na infância, já teve uma vida pela frente pra seguir outro caminho e ainda tem muito tempo se quiser mudar a partir de agora.

Não sou mãe e sempre me angustiou esse negócio desse amor incondicional que toda mãe me jura de pé junto que brota dentro da gente. Tenho minhas dúvidas e por isso a maternidade me assusta.

Acho estranho você botar um filho no mundo e, por uma vida inteira, ainda ter que ouvir dessa criatura que a culpada foi você. Por causa do seu jeito de ninar a pessoa se tornou em alguém frágil, por causa do seu jeito de falar, a criatura se tornou intragável, porque você protegia demais, a pessoa é mimada, porque você protegia de menos, a criatura entra em pânico.

Tenho paciência, não.

E foi por isso que eu dei o maior valor quando meus dois portos-seguro me deram a costas e foram viver a vida deles. Ali saíram certamente pensando em mim, mas cintes de que o dever deles fôra cumprido e que o compromisso deles é principalmente com eles mesmos, com o bem estar deles, mesmo eu  sabendo que faço parte dessa felicidade toda.

Obrigada, pai, obrigada, mãe, por ainda terem paciência de me ensinar coisas, de me ouvir, de me levar ao médico, aturar meus medos infantis… Obrigada pela cervejinha da semana, pelos melhores amigos que eu posso ter na vida, por me acolherem tão bem dentro dessa casa.

Obrigada, meus amores, por, depois de 35 anos, ainda continuarem me botando pra frente me fazendo crescer e, sempre, me acolhendo no abraço mais tranquilizador que pode existir.

Eu sei, tudo vai ficar bem… Só não saiam de perto por favor!

Vou encerra com a música mais linda de pai para filho que eu já ouvi. Só podia ser, claro, do Chico Buarque 🙂

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