De cara lavada

Esse assunto é recorrente por aqui, mas, como sou eu mesma que escrevo essas crônicas sobre o que eu percebo, sinto e vejo, vou falar mais um pouquinho do tema que me é corriqueiro, contudo, cada vez procuro encarar de uma forma mais branda.
Hoje vou receber umas amigas na minha casa, as melhores, aquelas que moram no meu coração, ainda que falte algumas outras nessa lista.
Fato é que cheguei mortinha depois de um dia de trabalho e mais um monte de afazeres, sem contar que estou naqueles dias do mês nos quais a mulher fica mais derrotadinha: com umas epinhazinhas, olheiras, parecendo meio tristinha, mas não é nada não, é só um rojão que a gente segura mensalmente e que não mata.
Bem, tomei meu banho, escolhi uma roupa bem lindinha e… Hora de fazer a maquiagem.
Aqui eu abro um parêntesis no texto: reza a lenda que, depois dos trinta anos, você não pode mais sair de casa sem maquiagem, aliás, pelo que venho percebendo, nessa corrida insana que a mídia nos impõe contra o tempo, a gente tem mesmo é que se esconder. Salvem as burcas!
Precisamos passsar bendizer um reboco antes de botar a cara na rua: prime para fechar os poros, base para unificar a pele, pós para dar um ar mais leve e aí já não sei mais nem cadê o meu nariz. Mas continua: lápis de olho e rímel pra dar aquela levantada no olhar caído, cansado, triste pelas dificuldades enfrentadas no dia a dia. Passa o blush porque se você ainda tinha algum resquício de cor, já era, pois as três camadas anteriores mudaram sua pele que nem Michael Jackson. Pronto, acho que já foi, né? Ai não, pera! Falta o batom, cor de boca, claro, para parecer que você acabou de sair do banho e está de cara lavada.
Tem gente que ainda encara um baby liss ou uma escova… Pra falar a verdade, eu não consigo encarar nem metade do que eu narrei aqui. Vai um pó, vai um lápis e um batom, já me acho a tal.
E assim as mulheres seguem, repõe colágeno por que a pele caiu, repõe proteína porque o músculo não vinga, faz lipo porque a gordurinha não sai, deixa de comer tudo o que é bom pra ver se a barriga trinca.
Confesso que depois dos trinta eu fiquei meio neurótica com isso, a gente percebe as mudanças – principalmente a p… do colágeno – e ninguém gosta de envelhecer. Contudo, cada vez mais eu venho buscando a minha tal beleza natural. É, aquela com a qual nasci, me criei e a qual as pessoas conhecem, me reconhecem e, principalmente, gostam de mim.
Na verdade, as pessoas que mais me interessam gostam de mim é de qualquer jeito, pois aprenderam a me amar pela parte de dentro, e olhe que dentro a gente tem é muita coisa feia – nossos defeitos.
Portanto, hoje, para receber as minhas amigas queridas que já, já estão batendo na porta, eu resolvi ficar de cara lavada. Nem batom botei, pois estou com preguiça mesmo e agora estou assumindo essa causa em prol de uma liberdadezinha de expressão. Refiro-me a expressão facial, pois a outra liberdade já garantiram por nós lá na década de 80.
Quem sabe assim, lavando a cara e deixando surgir o que temos de verdade, a gente se torne gente mais limpa, mais leve, mais feliz até.
E os que estão no poder, cheios de máscaras que só nos enganam, lavem suas caras e mostrem-nas como são de verdade. Tomara que seja parecida com a que vi hoje no espelho, e gostei. Pois a gente reflete o que sente e o que faz, tá certo, governo?!

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2 respostas

  1. ”Pois a gente reflete o que sente e o que faz… ” Amei esse trecho! Lindo, lindo. Bjos, Lu! :*

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