Década dos 30: capítulo final

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Década dos 30: capítulo final

Hoje, eu entro no último ano dessa tão charmosa, intrigante, instigante, misteriosa, desafiadora e tema de obra de Balzac, a década dos 30 anos.

39, faço hoje, neste 17/09 (crônica escrita mesmo no dia do meu aniversário).

Há dias que venho fazendo um apanhado geral desta década, na qual entrei já escrevendo uma crônica (nem tinha o blog ainda e escrevi sobre a mulher de 30, perdi a crônica por aí…) e me achando muito amadurecida para ingressar nos anos para os quais a gente se prepara a vida inteira e acredita que, nessa fase, vai estar com tudo no lugar: profissão, marido, esposa, filhos… E, claro, com muito mais certezas do que dúvidas.

KKKKKKKKKKKKKKKK. Tolinha, eu 

Foi a minha década mais turbulenta, uma capotada atrás da outra, com mais incertezas que eu já tive, mas, sem dúvida, CHEIA de muita vida, em todas as suas conjugações. Intensa, se eu puder definir esses quase dez anos, essa é a palavra: INTENSA.

De aniversário de 30 anos, me dei de presente uma temporada em Paris. Sim, uma mulher de trinta, esta que vos escreve, queria aprender francês e nada como esse presentão para si mesma. Seria uma delícia. Resultado: tive uma crise de solidão e de choro nas primeiras semanas que foi de doer. Pior, doía em euro, que me doía mais ainda. Recém terminado um namoro, eu descobri, lá em Paris, que a mulher de trinta que se achava madura, estava péssima e só queria colo.

Segui. Voltei o namoro, me casei e alguns anos depois, me separei. Os filhos que lá pelos meus dez anos de idade, pelos quinze anos e pelos vinte poucos anos eu achava que teria aos trinta, não tive e ainda sigo sem saber se os terei. O relógio biológico apitando em grau mil e eu sem decidir. Resultado, os trinta anos continuam me trazendo muitas dúvidas e tenho certeza de que não é só pra mim.

Também foi nessa década que eu virei sócia de uma empresa com os meus primos e lá fiquei por cinco anos e de lá saí, bem como saí do meu casamento e da minha cidade natal para realizar um sonho e um novo projeto: morar no Rio de Janeiro e virar escritora (você que me lê, você não sabe o quanto me deixa feliz). Antes de entrar no capítulo Rio, eu virei professora e dei aulas na Unifor. Tarefa difícil que jamais pensei que faria, mas que foi muito gratificante, apesar de exaustivo. Sou tímida e os 30 não me trouxeram a segurança que achei que fosse adquirir. Para meu consolo, a gente começa a aprender que algumas características vão permanecer e que precisaremos conviver com elas, driblá-las e vai dar certo no fim. Ou não, o que também é uma forma de resolver.

Voltando à grande mudança, bem na metade da década, nos 35 anos, eu fui bastante corajosa, sim, e sempre valorizei bem pouco meus gestos de coragem. Sempre me cobrei demais e me puni e carreguei culpas. Hoje, vejo como precisei de força pra fazer tudo aquilo. Foi dia 22/08/2016, o dia em que saí do meu casamento pro Rio de Janeiro.

Entrei numa faculdade de Letras e, três semanas depois, tranquei, não era aquilo. Reprogramei a rota e segui no Rio. Foram dois anos e meio de muita literatura e arte no geral. Até curso de roteiro de cinema eu fiz, pra depois cursar uma especialização em literatura e terminar ingressando neste ano num projeto ao qual me dediquei por um ano inteiro: o Doutorado em Literatura, Cultura e Contemporaneidade na PUC-Rio. Sim, era pra eu estar morando no Rio não fosse essa desgraça que se abateu sobre a Terra chamada Corona vírus.

Viagens foram muitas e uma descoberta linda de que meus pais são as melhores companhias para uma praia, uma cerveja, uma pizza, uma viagem, uma noite de bobeira deitados na cama e na rede gastando duas, três horas de conversa ininterrupta. Coisa mais deliciosa ter pai e mãe na década dos trinta anos. Não, isso não é trivial, é sorte, é benção, é a maior benção do mundo.

Também é pelos trinta que a gente começa a ter contato com a finitude. Não a nossa, de quem tem trinta, mas dos nossos mais velhos. As doenças aparecem, os infartos, a gente começa a cuidar em vez de ser apenas cuidado e começa a valorizar imensamente o cuidado dos nossos pais, como se quiséssemos guardar tudo antes… Deixa pra lá, não quero falar disso. A gente começa a ter medo de perder.

Por outro lado, é quando a gente se dá conta de que, de fato, viramos adultxs. Com todas as dores e as delícias (Caetano, obrigada por vir me acudir). Como adultos, ganhamos uma autonomia um tanto assustadora, mas MARAVILHOSA. Eu, particularmente, descobri o tamanho do mundo e do tanto que eu posso protagonizar o meu mundo e isso é desesperador e vital, delicioso e fundamental.

Sim, a gente já tem bem mais maturidade pra lidar com impulsos e arroubos, o que não significa que iremos evitá-los que não quebraremos a cara. Ao contrário, certa de quem responde pelo próprio nariz a gente se permite entrar em enrascadas como uma adolescente achando que tá no controle. Tá nada, kkkkk. E isso é bom, descobrir que nem tudo em nós amadurece.

Nos trinta, descobri que minha própria companhia, que eu já desconfiava que era boa, na verdade é maravilhosa, mesmo eu sendo assim, meio atormentada. Descobri que não é preciso andar em uníssono com a nossa bolha, que descordar dói, separa as pessoas e que não existem contos de fadas onde todas as pessoas são felizes no final. A gente briga. Diz coisas horríveis pra quem a gente ama e escuta muita barbaridade também. Descobre que os laços se desfazem e que as relações podem não ser pra sempre, nenhuma delas.

Mas a gente, já bem menos inflamada e mais “vivida”, a gente também aprende o valor de uma grande amizade e topa colocar algumas rusgas pra debaixo do tapete porque aquela pessoa já passou da fase de teste de amiga (o). Vai ficar pro resto da vida – AINDA BEM – ela aguentando seus defeitos e você os dela. Isso é a coisa mais bonita da vida: a amizade, a resiliência e enxergar o lado bom das pessoas.   

Até porque nos trinta a gente começa a deixar de viver em bando e vai diminuindo o tamanho da roda. Fica quem a gente realmente tem afinidade. E, sim, é possível e delicioso fazer novas amizades nessa idade, apesar de ser mais difícil porque a gente já não tem mais tanto saco (por isso melhor acolher os defeitos conhecidos e já até amados que você se habitou durante trinta anos, rsrs). Ah, mas a vida dá umas voltas e retomar amizades perdidas pode super acontecer, amores perdidos também podem… A gente encontra guetos, troca qualquer balada pela varanda da casa de alguém com um vinho e um bom papo.

Entro nesse último ano desta minha década dos trinta anos bem chamuscada, mas cheia de cicatrizes, o que me fortalece. Entro bem mais conhecedora de mim, o que me permite reconhecer os pontos fracos e saber que não darei conta de muita coisa que achei que deveria dar. Vou saindo dela com a minha criança cada vez mais gritando e cada vez mais recebendo o colo que não dei pra ela. Sim, a gente aprende a se ouvir porque fica bem mais em silêncio do que antes e, não tem jeito, a criança que fomos sempre volta pra chorar, conversar, propor travessuras. Acolho.

Entrei achando que tinha certezas, mas saio com a certeza de que ainda sou cheia de dúvidas e medos.

Para os 40? Aprendi com os 30 e com essa pandemia que não dá pra planejar muito não. Vem a vida e muda tudo.

Serenidade, se eu puder escolher uma palavra pros 40, eu gostaria que fosse SERENIDADE. Mas, agora parafraseando Leminski: – Eu não discuto com o destino, o que pintar eu assino. Mentira, não sou tão resiliente assim, não. Mexo meus pauzinhos desde sempre pra mudar o destino quando ele me contraria.

Mas vou encerrando por aqui esse micro diário de quase uma década. Tenho um ano pra escrever essa pagina em branco de encerramento. Que ele seja bem feliz!

E você? Como vai de década aí?

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2 respostas

  1. Que maravilha poder relatar com tanta clareza as emoções e decisões de uma etapa da vida. Lú querida nada melhor do que poder sermos nós mesmas….que todas as conquistas sejam avaliadas e as “não conquistas” sejam aprendizados. bjus no seu coração.

    1. Obrigada, tia querida! Suas palavras me devolvem ainda mais clareza sobre esse processo todo. Beijo grande.

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