
Depois
E, de uma hora pra outra, tudo ficou pra depois.
O casamento, o divórcio, os projetos a dois.
Os negócios, os boletos no final do mês.
A academia, o corpo que tanto se queria, agora, apenas se quer. Vivo.
Ficaram esperando por dar aqueles abraços demorados, onde a gente se perde por um instante no lugar mais seguro do mundo: num abraço.
Ficou pra depois matar aquela saudade de alguns dias que vai se estender um pouco mais.
Ficou pra depois aquela viagem de férias. A visita na tia que há muito não se via, ficou pra depois o aniversário da filha, os almoços em família.
Ficou pra depois nosso encontro e tantos namoros por começar.
As paqueras, as festas e àquele tão simbiótico banho de mar.
Ficou pra depois cortar o cabelo, mudá-lo de cor. As unhas, a depilação, tudo com hora marcada, tudo sem hora agora.
Ficou pra depois aquele pedido de desculpas. Pra depois aquele vinho que combinamos.
Ficou pra depois a ida ao médico e o check up.
Pra depois a demissão e pra depois fazer a empresa crescer.
Ficou pra depois o plantio e a colheita.
Ficou pra depois o beijo e os corpos colados.
Ficaram pra depois as horas e horas de trabalho.
Pra depois, ficaram todas as urgências, as importâncias que a vida nos cobrou, avassaladoramente, cada vez e sempre mais, tirando-nos o tempo, o por do sol, e o amanhecer, uma conversa sem hora pra acabar, uma ligação, que seja, e não os áudios cifrados.
Tudo ficou pra depois, pra quando a gente sair daqui.
Ficou pra agora a saudade, o medo, a dor e, claro, a ESPERANÇA de que sempre teremos o depois.