Desistir e Aceitar
Hoje, por um milagre e benção, está um dia chuvoso em Fortaleza. Quando chove aqui, a gente vibra, porque a seca nos assola.
Pois bem, mesmo querendo muito e querendo sempre essa chuva linda que está caindo agorinha, é fato que quando “a chuva cai lá fora (e você está na rua), você vai se molhar (vai se molhar)”, e é um perrengue. #bethcarvalhofeelings
Hoje, pra sair da academia e entrar no meu carro, precisei dar saltos sobre poças, um amigo me ajudou com o guarda-chuva, e tive de entrar pelo lado do carona para não entrar numa piscina imunda que se formou ao lado da minha janela. Vi algumas pessoas na mesma situação que eu, tentado se dar bem driblando as intempéries celestiais.
Sentada ao voltante, me sentindo segura e mais ou menos bem sucedida na minha missão de não me molhar, vou dirigindo e vejo uma moça, essa da foto acima, andando calmamente pelo meio fio: E N S O P A D A.
Não sei de onde ela vinha, se ia para o trabalho, se tentava chegar numa consulta, se iria encontrar alguém… Se bem que, com aquela paz no semblante, de chamar atenção, a minha pelo menos, imagino que ela estivesse voltando de uma noite bem “delicinha” ao lado do seu boy magia. Desculpem-me pelo devaneio, sempre tendo a achar que o silêncio das pessoas grita algo que é amor. Sabem como é, né? Romântica inveterada.
Pois bem, vendo aquela criatura caminhar na sua marcha lenta, pensei: Realmente, às vezes, é muito melhor você desistir e aceitar o que calhou de lhe acontecer.
Enquanto eu dava mil piruetas, machucando o joelho, me estressando com a chuva e tentando passar ilesa pela intercorrência de hoje, essa moça, simplesmente, desistiu de lutar e aceitou a situação.
Quantas vezes, meu Deus!, a gente se desgasta, se corrói, sofre, chora, lamenta, fica com raiva, dá piti por algo, ou alguém, que já deveria ter desistido há muito?
Quantas vezes, dando murro em ponta de faca, deixamos passar às nossas margens oportunidades ótimas, lindas e, provavelmente, bem mais interessantes do que pela qual estávamos lutando?
Por que é que, quando a gente cisma com alguém, ficamos cegos, surdos e burros, a ponto de perdermos horas do nosso dia, dias dos nossos meses, meses dos nossos anos e anos da nossa vida por um indivíduo que nunca ficou de ser nosso?
Por que não, simplesmente, desistir e aceitar?
Desistir de algo não precisa significar que perdemos algo, mas sim, que aquilo já não nos serve mais, não combina mais com a gente, nem cabe mais no corpo, ao lado, na alma.
Desistir pode ser apenas uma mudança de rumo, uma outro caminho a ser trilhado e, ao longo, dele várias outras novidades bem bacanas das quais você nunca saberia se não tivesse desistido daquela.
Aceitar que o desejado não era pra ser seu, que o curso da sua vida depende bastante de você, mas que com o acaso, esse daí, não há quem possa.
Aceitar que não dá pra ganhar todas, que você vai perder dinheiro, vai perder tempo, vai perder prazos, vai perder propostas, vai perder ótimas festas, vai perder a beleza, vai perder a saúde, vai perder coisas…
Às vezes eu acho que vivemos numa pressão horrível de que temos de nos dar bem em tudo. Se for comprar, que seja o mais barato numa ótima oferta que você achou. Se for viajar, que seja para o lugar paradisíaco, sem uma gota de chuva e sem muito calor também. Se for estudar, que seja na melhor faculdade, com as melhores notas e os melhores professores. Se for pra casar, que seja com uma festa de arromba, com a melhor banda a melhor bebida e, se der, com melhor marido – apesar de este último item ser o menos relevante diante da indústria do casamento.
Enfim, queremos sempre a crista da onda, o topo do mundo, a cereja do bolo. Ou nos damos superbem ou tudo de nada valeu. Ou o nosso dia está todo preenchido, ou somos vagabundo que não temos o que fazer. Precisamos do emprego dos sonhos, da roupa dos sonhos, da viagem dos sonhos, da festa da nossa vida.
Se tudo isso não sai como o esperado, a frustração é de matar, de deprimir, de querer sucumbir, de morrer de chorar.
Pois hoje eu fico com a lição da transeunte calma em um dia de chuva. Tem momentos nos quais é muito melhor tentar não ser o melhor, tentar não vencer, parar de tentar simplesmente.
Tem horas que é muito mais auspicioso deixar a chuva cair, a água bater, deixar brotar um pensamento vindo da infância, deixar a vida correr solta ao seu bel prazer e, quem sabe?, uma bela lavada na alma não te faça chover.
Hoje eu vou encerrar com essa música que é doce, que acalma e que lava a alma. A chuva! Direto da janela daqui de casa.
Publicado na: http://www.somosvos.com.br/desistir-e-aceitar/
Uma resposta
Lindaaaa! Amei!
Minha Marta Medeiros do Nordeste!