Já fui embora da minha cidade natal três vezes.
Na primeira, eu tinha 24 anos e, munida dos sonhos de uma jovem adulta que percebeu que poderia dominar o mundo, parti pra Europa.
Para me levar ao aeroporto foram umas quinze pessoas, dentre pais, irmão, primos e tios. Tendo como a forma mais rápida de comunicação o famigerado e jurássico e-mail, além do caríssimo telefone, as pessoas preferiam dar aquele último abraço apertado e desejar boa sorte até a boca do portão de embarque.
Voltei um mês e meio depois.
Passaram-se uns quatro anos e eu me mudei de novo. Dessa vez era coisa mais séria, um mestrado que levaria um ano e meio longe dos meus e a saudade me assustava.
Fiz uma festa de despedida! Chamei todas as pessoas que eu amava e até hoje ainda amo.
No momento ápice da festa, em meio a presença do que eu tenho de mais precioso, a homenagem na qual eu citava, um a um, a característica que mais me fazia admirá-los e que eu levaria comigo na bagagem dos bom sentimentos. Foi lindo! Abracei toda a minha gente.
Agora, em plena era tecnológica, na qual estamos todos mais “próximos” e interconectados, eu vou-me embora de novo.
Dessa vez eu vou pra nem mais voltar, é tempo!
O que me faz escrever esta crônica de hoje foi perceber como a tecnologia superficializou as relações. Ganhamos uma falsa intimidade e uma pseudo noção de que estamos perto das pessoas, mas eu creio que não.
A meu ver, estamos construindo muros virtuais entre um sorriso, uma lágrima, um adeus e a pessoa que amamos. A tecnologia tem sido uma grande desculpa para não enfrentarmos os sentimentos que brotam com o convívio, como o amor, a saudade, a tristeza…
Despedi-me da maioria dos meus pelo WhatsApp. Mandei uma mensagem para o grupo, troquei algumas outras individuais… Recebi, sim, mensagens lindas, cheias de energia positiva que me emocionaram e me fizeram perceber que sou querida.
Não dá pra negar que o WhatsApp encurta as distâncias, realmente estamos em tempo real com o mundo do outro. Mas, ao contrário do que a razão nos faz crer, o aplicativo apenas distrai a saudade, mas não supera o tet a tet, o bem aqui, o estar do lado. Nada supera a presença, o beijo, o abraço.
Na próxima eu parto, mas não sem antes reunir pessoalmente com os meus. Vou achar quinze minutos entre um compromisso e outro para encontrar uma grande amiga. Vou olhar pro rostinho de cada sobrinho meu, vou abraçar cada um dos meus tios e vou dizer para as minhas afilhadas o quanto eu as amo.
Na próxima vez, estarei totalmente off-line na minha partida, porém, inteiramente on-line na minha presença.
No meio do caminho tinha uma enxaqueca
Acorda, malha, volta, se arruma, pede um café com leite e ovos mexidos, liga a máquina, digita mil coisas, despacha vários e-mails…