Dia vinte e quatro de Janeiro

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Não sei você, mas eu, e toda a minha família, comemoramos essa data desde que nos entendemos por gente. Dia 24/01 é o aniversário do meu avô Alberto.
Os temas eram os mais incríveis e pitorescos possíveis, desde alvoradas, que nos tiravam da cama, quando crianças, às cinco horas da manhã para acompanhar a banda que viria a acordar de surpresa o aniversariante, à missas, à festas na Praianha, no Aquiraz, em Fortaleza, todas regadas à muita gente, amigos dos quatro cantos do Brasil e do mundo…
Todo mundo queria estar, bradar, homenagear, parabenizar o tão querido e imortal Alberto.
Lembro-me, de pequena, ficar encantada com toda aquela movimentação para o “aniversário do vovô”, onde meu único contato com o astro da noite seria um breve, mas sincero “bença, vô! Deus te abençoe, minha filha!”. Daí já saía correndo pra brincar com a ruma de primos que ele me deu.
Era bem verdade que todo ano ele dizia que não queria festa, todo ano era aquela tensão do que fazer para ele não achar ruim, todo ano um monte de parentes e amigos anunciavam que viriam, e todo ano a gente dobrava-o dizendo que seria uma desfeita com os visitantes, e todo ano comemorava como deveria ser mesmo, pois a presença do Alberto era uma festa.
Não que ele mesmo fosse afeito a muitas badalações, pelo menos assim eu o conheci, mas ele gostava de gente e a gente gostava dele e isso já era mais do que suficiente para lotar uma casa. Assim também era com as fotos, vovô detestava tirar fotos, mas as famílias iam, uma a uma, se aninhando do lado dele para o clique que congelaria aqueles momentos mais lindos, alegres e nossos. Ele saía sério em quase todas as fotos, mas reclamava quase nada. Era um lord!
O dia 24 de Janeiro era o responsável por puxar a alegria desse mês. Era quem fazia tremer a pacata Prainha, era quem começava o fim das férias na maior alegria espantando pra longe fatídico início das aulas.
Dia 24 de Janeiro era dia intenso, era dia feliz, era dia de todo mundo, pois a gente se abraçava, se amava e se enchia de orgulho em poder estar comemorando mais um ano da nossa estrela guia.
Mas hoje não tem festa, hoje não tem bolo, não tem gente de fora, não tem muvuca de família, não tem a pré-festa do vovô, que emendava com o aniversário dos gêmeos – seus filhos – e a gente bebia e cantava durante horas e hora e horas… Hoje não tem.
Hoje não tem escolher A roupa pro aniversário do vovô, muito menos a programação de antes, do que vai ter no aniversário do vovô: teatro, homenagens, lançamento de livro sobre ele, abertura de museu, reverências, o jantar, a sobremesa e tudo o mais que ele sempre mereceu… Hoje não tem.
Hoje vai ser dia triste, dia pesado, dia de saudade imensa, dia difícil, dia vazio… Quer dizer, vazio não, pois o Alberto deixou lembranças pra preencher uma vida inteira.
Hoje vou procurar ouvir as estrelas, vô, que é pra ver se te escuto de onde o senhor está. Porque, sinceramente, dia 24 de janeiro sem você, não dá.
Parabéns!

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