É o tempo, este patife!

tempo, antiguidade, velhice
Ouço essa frase do meu avô desde que eu me entendo por gente.
Ele sempre a emprega quando fala da velhice e de suas limitações. Eu, criança, achava que aquela sentença era uma realidade tão distante, que eu nem entendia direito o seu significado.
Pois é, mas o tempo, este patife!, passa e nos mostra implacavelmente o seu poder diante de nós, nos sucumbe, sem que queiramos ou não, sem que tenhamos ou não aprendido a ser adultos, idosos, pais, mães, profissionais, etc.
Vem o tempo, este patife!, para nos falar que está na hora de casar, está na hora de pensar em filhos, está na hora de aquietar  o faixo e aquela viagem de volta ao mundo que você sonhava aos 25, agora já era, pois com trinta, não tem mais idade pra isso, não.
Para as mulheres, o passar do tempo ainda é mais cruel, pois a maternidade tem prazo de validade. Chegando aos 30, acende o alerta vermelho, nos 33, o bicho pega e aos 35 eu não quero nem pensar, pois ainda estou na situação anterior.
São decisões para uma vida inteira tendo de ser tomadas em bem menos que uma década. Ouço várias questões de mulheres da minha idade, como: Será que ELE é mesmo o homem da minha vida? Será que ele será um bom pai? Será que eu vou encontrar um pai para os meus filhos? Congelo ou não os óvulos? Termino ou não esse casamento? São tantas dúvidas que faz qualquer ser humano pirar de tanta incerteza e ansiedade.
O problema é que o tempo cronológico nem sempre é acompanhado do nosso tempo psicológico e este acaba deixando para depois o que “teoricamente” já deveria ter sido solucionado antes.
Acredito que alguém com dez anos a mais deva olhar para este post e dizer: ah! se elas soubessem que aos 30 a gente se acha velha, mas na verdade é um broto, com a vida toda pela frente… Mas isso só vamos saber daqui a dez anos e tentaremos, em vão, iluminar o caminho dos mais novos.
Além do tempo que passa para nós, tem o tempo, este patife!, que passa para os nossos mais velhos, como: avôs, avós, pai, mãe… E nós ficamos meio perdidos, pois nem bem deixamos a juventude e somos obrigados a nos deparar com a finitude e seus avisos, por meio de doenças, esquecimentos, confusões, de que a única certeza que temos na vida e da qual fugimos a vida inteira, existe e pode estar por perto.
É, caro tempo, seu patife! Se eu puder lhe fazer um pedido, faço o de que você traga suas mazelas atreladas a sentimentos, como: gratidão, resiliência, aceitação… Seja doce, caro tempo, e lhe seremos gratos pelo tempo que tivemos.
Para nós, meros mortais, meu conselho é que não percamos tempo, ainda que ele seja um patife, é o que de mais nobre temos.

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Uma resposta

  1. Luciana, gostei do seu “É o tempo, esse patife!”.
    É que ontem produzi um texto que falo sobre as luzes do Natal e do tempo, onde digo: … do homem/que corre como louco/para não perder tempo./ Esbanjando sua maior riqueza – o luxo de ter tempo.
    Descobri seu blog hoje e vou ficar acessando. Sucesso e boa produção de textos, Lúcia Crisóstomo.

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