Esperança suprema

Esperança suprema
Hoje eu acordei diferente.
Geralmente acordo meio melancólica, meio cansada… Desconfio de que à noite minha alma vaga lá pelas ruas da Lapa no Rio, ou por Paris, Fortaleza, sei lá, só sei que sempre acordo cansada, há anos, e com uma saudade sei lá de que. Vai ver que é da minha noitada inconsciente.
Pois bem, mas fato é que hoje eu acordei diferente. Bem disposta, positiva, com tempo sobrando. Eu olhava no relógio e sempre tinha muito mais do que cinco minutos. Acordei sem dor, até o meu joelho que sempre dói, hoje eu senti que ele não ia doer. Resumindo, eu acordei esperançosa.
Reflexiva como sou, iniciei-me a pensar em por que eu estava daquele jeito. Pensei que minhas aulas da pós-graduação têm sido ótimas, mas não era só isso. Pensei no sol de outono que acordou hoje no Rio de Janeiro, das cores de céu mais lindas que já vi, mas não era só isso. Pensei que tô fazendo novas amizades, que meus colegas de turma são bem legais e, aos poucos, vamos nos entrosando, mas também não era só isso não. Meus planos de viagens? É, contribuem, mas tinha mais.
Daí eu me lembrei de que tinha assistido à entrevista da ministra presidente do STF, Carmem Lúcia, ontem, antes de dormir, no programa Conversa com Bial. Acostumada a ver notícias ruins referentes à crise, descrença, corrupção, injustiça, assassinato, estupro e todo azar de noticiários na TV, essa entrevista veio como um acalanto, uma esperança suprema.
Posso até estar sendo ingênua, mas acho que não. Espero que não.
Com postura de poder, de quem sabe exatamente a responsabilidade do cargo o qual ocupa, mas com ares de mãe, de tia querida, de amiga doce, a ministra Carmem Lúcia funcionou como uma cantiga de ninar embalada por uma mão protetora numa noite escura.
Ela, que de tão humana levava o Bial a chamá-la de “você” e toda hora se corrigir para o formal “vossa excelência”, falou de corrução, de injustiça, de conflitos, de bandidagem, de problema, mas nos pediu pra confiar nela. Acho que nunca vi no âmbito político alguém chamar a responsabilidade para si, sempre vejo o “nós” e esse “nós” é tanta gente que, ao final, parece que ninguém fez nada.
Ela não, dizia que era responsabilidade do supremo e que a Lava-Jato não iria parar agora, só quando chegasse ao fim e ela delineou esse fim. Chamou a sociedade, o povo, como ela sempre falava, a se manifestar, a mostrar sua cara e ir bater na porta do supremo buscando seus direitos. Falou também da nossa responsabilidade como cidadãos que pedem o fim da corrupção na política e continuam furando fila e se dando bem às custas dos outros.
A Fernanda Torres também foi convidada para a conversa e o bate papo fluiu como se estivessem no sofá da minha sala e eu doida pra perguntar e dar meus pitacos.
Além dos temas políticos, Carmem Lúcia mostrou seu lado engraçado, irônico, bem humorado, poético e feminino – de batom vermelho, diga-se de passagem. Citou Clarice Lispector, Graciliano Ramos sem parecer pedante, com a naturalidade de quem bebe daquela fonte e se inspira com a literatura . Fez piadas, riu de si mesma, esteve à vontade como estão à vontade as pessoas que dormem em paz. E olhe que paz nesse momento é a última coisa que ela deve estar tendo. O almoço da ministra são duas uvas, se tanto. São apenas 40 quilos de mulher carregando um Brasil inteiro. Bicha forte!
 

E me fez bem, como se fosse meu pai ali segurando na minha mão e dizendo que tudo ia ficar bem, que eu podia entrar naquele ultra-leve e voar bem alto que minha coqueluche ia passar, que a gente ia correr pra bem longe dos fogos do réveillon pra eu não ouvir nenhum barulho, que aquele homem que me faz mal ia levar um bofete que jamais se esqueceria, nem eu.
 
 
E fui dormir feliz e acordei em paz.
Bom dia!
O link está acima. Pra encerrar, sempre gosto de colocar uma música. E essa semana para homenagear esse MÚSICO que É Belchior.

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6 respostas

  1. Não sei se ainda acredito na Justiça do Brasil… mas acredito na Carmen Lúcia! Adorei, Lu!

  2. Lu, adorei a crônica! Nao vi a entrevista do Bial com a ministraCarmen Lucia, mas sempre gostei muito dos seus pronunciamentos. Acho-a mto humana, diferente de outros ministros do Supremo. Saiu pelo Brasil afora visitando os presídios, conferindo de perto as péssimas condições dos mesmos.
    Tenho esperança como vc, que apareçam outras pessoas no meio juridico e politico do calibre da ministra.

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