Estamos todos rasos: da blogueira aos terroristas de Paris

Estamos todos rasos: da blogueira aos terroristas de Paris e nós.
Os atentados terroristas em Paris da semana passada e as celebridades instantâneas que surgem todos os dias em formas de blogs e contas no instagram têm algo em comum.
O leitor deve estar pensando que esta que vos escreve enlouqueceu, mas não foi o caso, quer ver?
A semelhança que observo entre os citados e todos nós, que fomentamos essa indústria de celebridades instantâneas, é que estamos carentes, precisamos de ídolos e ideais. Com a proliferação de informações e opiniões, ficamos meio perdidos e, por não sabermos muito bem para onde ir, nos apegamos ao que aparece.
A humanidade recente teve de abraçar causas muito importantes, como a liberdade de expressão na ditadura, a liberdade sexual, liberdade para o trabalho feminino e por aí foi.
Os ídolos desta época existiam, mas eram poucos e bem determinados. Talvez, pela ausência de massificação da mídia, sobressaia-se os que lideravam as causas ou os grandes músicos, artistas, pensadores, revolucionários da medicina, da moda etc. Ou seja, pessoas que realmente tinham uma história para contar, tinham lastro, vivência e, ainda que a biografia inteira não fosse digna de ser inspiradora, pelo menos tinham os exemplos de persistência e dedicação, que os fizeram chegar até a fama.
Atualmente, com a facilidade de exposição ofertada pelas redes sociais, qualquer um pode ascender  ao topo. Tendo esta pessoa conteúdo ou não, torna-se uma referência. Seja a criatura que era gorda e emagreceu e agora virou referência não só de vida saudável, mas de moda, cabelo, beleza e aparece até em rede nacional. É a outra da qual não sabemos a formação, nem o que ela leu (a não ser a revista Caras) que é alçada ao posto DIVA e convidada pelas maiores marcas do mundo para lançamentos de coleções, ganhando destaque até maior do que a Nicole Kidman.
Os valores mudaram e “ser cool” não é mais estar engajado em causas sociais, ou ter feito um belo trabalho que contribuiu para a evolução da humanidade. Nunca vi um vencedor do prêmio Nobel ter uma referência feita a ele (a) a não ser no dia da entrega do prêmio.
Nenhuma notinha no “insta” das “celebs”, nem mesmo pra falar da roupa que o gênio usou na grande noite ou do corte de cabelo, sei lá, só pra gente, os “fãs das celebs” achar que nossos ídolos (não o Nobel, mas a “Celeb”) são antenados.
Percebo que o ser humano precisa de ídolos para se inspirar e conseguir buscar algo a mais em suas vidas, mas está com preguiça de pensar, de refletir e é aí que está ligação entre a blogueira, os terroristas de Paris e nós.
Estamos carentes e sem conteúdo, portanto, qualquer coisa que apareça com a qual nos identificamos de certa forma, vira nosso Deus, nossa musa ou “muso”, nossa religião, nossa missão.
A tal missão pode ser desde ter o corpo saradíssimo, ter a bolsa da Chanel ou ser um membro da Al-Qaeda, ainda que sejamos filhos de um país de primeiro mundo e tranquilo, como a França. Temos a necessidade de pertencer a algum grupo para aplacar nossa carência e tem uma oferta enorme deles por aí, dos mais fúteis aos mais radicais e violentos.
É óbvio que existe uma distância enorme entre ser inspirado por uma blogueira de moda e por um grupo  terrorista. Não estou aqui dizendo que ambos causam o mesmo mal a humanidade, de forma alguma. E tenho plena certeza de que muitas variáveis importantes que influenciam no comportamento humano não foram aqui abordadas.
Minha intensão é elucidar a ausência de reflexão sobre quem estamos trazendo como referência para nossas vidas e com quão intensidade permitimos que mudem nossos valores e crenças.
É desse caldeirão de gente emitindo opiniões, pensamentos e ideais “sem filtro”, que surgem nossos ídolos, podendo ser qualquer um que nos pegou pela nossa fraqueza naquele momento. Ficamos fanáticos, vamos deixando invadir por seus pensamentos sem analisar a procedência e nos entregamos. Malhamos, comemos, morremos, e matamos sem nem saber ao certo porque estamos ali.
Quem somos nós, afinal?

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