Grata surpresa

Qual não foi a minha surpresa hoje ao ir cortar o cabelo e, na hora de pagar a conta, descobri que o corte estava em promoção.
– Promoção de que?
– Todo mês, em dia de lua cheia, o corte entra em promoção.
Quão grata surpresa! Ainda tem a ver com a lua… Viva a subjetividade das pessoas (tema para outra crônica)!
Desci para pagar o estacionamento do shopping – achando que pagaria em torno de trinta Reais pelo tempo de demora – o cara me diz:
– (Surpresa!!!) Seis reais.
– (Num impulso e num sorriso de braço comemorando vitória) Só?
– É, mudou a política do estacionamento.
É, pensei nisso também, vai ver que hoje é meu dia.
Contudo, hoje foi um dia como qualquer outro na minha vida. Tudo bem que estou passando uns dias em Fortaleza junto de pai, mãe, sobrinho e toda a família, mas o dia não teve nada demais.
Quer dizer, ontem eu recebi uma mensagem de uma pessoa que ficou um pouco magoada com a minha última crônica e ela se deu ao trabalho de vir me falar. Que grata surpresa quando o outro se dispõe a mexer numa situação que muitos consideram um vespeiro e fogem com medo do conflito. Só que não olhar pro problema não o faz deixar de existir, por isso, fico feliz demais quando alguém se chega para esclarecer.
Mas meu dia hoje corria normalmente, como outro qualquer. Quer dizer, eu recebi uma mensagem muito otimista e positiva de que uma amiga está em franca recuperação de saúde e isso deu um colorido todo especial para esta terça-feira (escrevi a crônica ontem).
Conforme eu ia dizendo, o dia estava bem igual, fui nadar… Tudo bem que nado e consigo ver o mar e isso não é nada trivial, nada igual, isso é surreal. Nadei e depois fui com minha mãe trocar uns presentes. Sim, eu passei o dia inteirinho com minha mãe.
Para você pode parecer uma grande besteira, mas eu, que moro longe do abraço dela, do carinho dela, do senso de humor dela, da entrega dela, do amor dela, das risadas dela, dos conselhos dela e daquela energia boa de mãe que te convence de que tudo o que você comer de porcaria não vai te fazer mal; eu sinto uma falta da p@##$ ó e tê-la por perto uma dia inteiro me parece sobrenatural.
O dia foi seguindo, meu sobrinho amado chegou distribuindo carisma, sensibilidade, alegria e afeto e, quando eu desci para brincar com ele e os outros priminhos, qual não foi minha surpresa, ainda dei de cara com a minha afilhada, minha bebê de 20 anos que é um dos maiores amores da vida dessa dindinha babona.
Daí fui pro salão e as gratas surpresas que narrei acima me aconteceram.
Pois bem, o dia está cheio delas, a vida idem só que tais gratas surpresas vêm permeadas de cotidiano, de más notícias, de Michel Temer, de contas a pagar, de choro de filho, de uma dor de cabeça, de crise, de raivas, de saudades, dissabores, mágoas…
Tais gratas surpresas ficam escondidas em desencontros, em nunca mais, em olhares distantes, em fala truncada, em conversa fiada, em disse me disse, em não sei que, em ”não tenho nada a ver com isso“…
A grata surpresa está sempre rondando, sempre se apresentando, sempre querendo surpreender. É como criança alegre que adora brincar de esconder, que adora dar susto pra rir depois, que adora te presentear com desenhos coloridos.
A grata surpresa é como casa de avó, que sempre esconde no alto de um armário, ou no fundo de um porão, os mais deliciosos chocolates, ou àquela máquina de costura velha que você ama brincar.
A grata surpresa é bem querer, é brisa, é sol das 17h, é banho morno, é leite quente, é mensagem no celular tarde da noite.
A grata surpresa é um repente, tão de repente que muitas vezes a gente nem sente e ela se esvai porque não te encontrou desamarrada para ser surpreendida.
Fique atenta!