História de amor sem começo

Tenho certeza de que você já viveu isso. Uma história de amor sem começo.

Alguém te apareceu, te remexeu tocou num lugar onde poucos tem espaço deu uma bagunçadinha e simplesmente partiu antes que a festa começasse, antes mesmo que se abrissem as cortinas e começasse o espetáculo.

Talvez nem tenha havido o primeiro beijo, nem o primeiro encontro. Não houve o primeiro sexo e nem deu tempo de conhecer o cheiro que ele tinha. Não sabe quais suas músicas preferidas, nem qual o filme de sua infância. Nunca sentiu o roçar daquela barba.

Não teve o primeiro almoço em família, nem o churrasco pra conhecer os amigos. Não houve amizade.

Ele não viu seus cachorros e muito menos aquela pantufa que você usa ao acordar, aquela que você só tem coragem de mostrar para que ama e quem lhe ama. Bem, você até que achava que já estava amando…

Não houve tempo de encontrarem o restaurante favorito e, muito menos, de escolher a trilha sonora para vocês dois. Não dividiram a sobremesa, nem um vinho, muito menos um prato pra dois.

Você não sabe o seu signo, suas manias e seu caráter. Não sabe profissão, cpf e identidade.

É um completo desconhecido esse homem que foi tão seu. É como uma história ao contrário que começa exatamente onde o herói morreu. Uma fita rebobinada bem na melhor parte, lhe fazendo voltar mil casas atrás onde não tinha ele, onde não tinha nada.

Foi um futuro talhado na expectativa. Na incerteza de um amor presente mas que nem passado virou. Não fez lastro, não deixou pegadas. Não tem história pra contar.

Dá uma sensação estranha, uma saudade do que não foi vivido. Um lamento por tudo o que poderia ter sido, uma perda do que não era seu.

Dizem que quando se amputa um órgão, a gente fica sentindo o tal braço, ou perna, ou mão que ali estava. Deve ser essa a sensação, a de ter algo que não é mais seu. Só que, nesse caso, talvez nunca nem tenha sido.

Tem umas histórias que nos acontecem sem ver nem pra quê. Não faz o menor sentido, não nos ensina nada, não nos faz pessoas melhores, não nos leva a lugar algum. Só mesmo a uma incompreensão do  que aquilo quis nos dizer.

Pergunta 1: Por que é mesmo que essas histórias se chegam?

Pergunta 2: Por que raios a gente as permite chegar? Que moleza é essa de coração que se entrega no primeiro encantar?

Ouso a responder, esta aqui que vos fala e que já entrou nessa algumas vezes.

Acredito que o coração é um músculo voluntário que opera em total dissonância, e de sacanagem, com o resto do corpo.

Se o momento é de medo, em vez de ele ficar quieto pra não chamar atenção do predador, ele bate forte e só falta gritar. Se a hora é de angustia, ele, em vez de bater calminho para te ajudar a relaxar, dá uma pontada no peito que parece que vai te matar. Quando você sente saudades, ele sangra e te fere inteira por dentro. Se o momento é de luto, tenha certeza de que ele irá se apaixonar e, se for pra pular fora, o danado vai querer ficar.

É burro o coração?

Não, minha querida, claro que não.

É que o coração bate no compasso da vida. Ele faz com que a gente não desanime quando a vontade é de adormecer por meses, ele não nos deixa perder a coragem, nem perder a vontade e, nunca, mas nunca mesmo, deixar de buscar o maior tesouro para qual nascemos:

Amar!

 

Para dor de cotovelo, coração dilacerado e nó no peito, vá, sem dúvida, de Chico Buarque. Aqui segue uma das minhas 100 preferidas 🙂 (Valsa Brasileira)

 

 

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