Escrevo hoje para você.
Você que não consegue me entender.
Você que me interpreta à contrapelo.
Você que não alcança o meu tempo.
Você que me sente como vento a bagunçar os seus pensamentos.
Você que busca cartesiano onde tudo é abstrato e atravessamento.
Você que não se vê aqui dentro.
Ou que se encontra e estranha o seu lugar em mim.
Você que me reverbera no medo, na dúvida.
Você, pra quem posso falar demais.
Você que questiona o meu silêncio.
Você que acha minhas ideias tortas.
Você que enverga, mas não quebra.
Você que sente raiva e revolta.
Você que me acolhe – que se acolhe – e volta.
Você que de alguma forma se encontra em mim.
Você que passou meses (anos) sem vir.
Você que dobrou a esquina oposta
Você que passa por aqui.
Você que está comigo há anos.
Você que, apesar de tudo, não desistiu de mim.
E nem eu de você.